Espiral de preços dos aluguéis em Belém da COP30 provoca alarme no próprio mercado

Planejamento traçado para receber os visitantes em novembro deste ano se complica diante de circunstâncias criadas pelo próprio Estado e mantém luz amarela acesa em Brasília.

28/01/2025, 08:15

A greve dos professores, que deve atrasar calendário escolar, e o espanto do mercado imobiliário às vésperas da Convenção da ONU/Fotos: Divulgação-Redes Sociais.


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espiral de preços dos aluguéis em Belém por conta da COP30 tem alimentado as especulações segundo as quais se o governo do Estado não conseguir brecar a cobrança absurda, a solução poderá vir da Presidência da República, qual seja, acomodar parte das delegações em outro mercado, como o Rio de Janeiro. Especulações à parte, o assunto preocupa até mesmo quem lucra com a alta de preços: os corretores de imóveis.

Para se ter ideia, um vídeo que circula nas redes sociais mostra uma palestra do corretor de imóveis Fabrício Menezes falando sobre o assunto: “Todos os agentes do mercado imobiliário de Belém precisam ter responsabilidade e bom senso na precificação dos imóveis destinados a aluguel durante a COP 30. Estimular a divulgação de valores estratosféricos pode causar frustrações e prejudicar o nosso mercado", adverte ele.

Concorrência desleal

A situação é tão ou mais grave para os inquilinos que vêm “sendo convidados” com “jeitinho” a devolver imóveis alugados para suposta “reforma”, em flagrante desrespeito à legislação, isto é, sem a observância do que estabelece a Lei do Inquilinato, como ocorre na região de Val-de-Cães, incluindo os conjuntos Marex, Bela Vista e adjacências. Além dos preços abusivos, os proprietários têm feito contratos anormais, com duração mais curta, para que sejam alugados por valor mais alto durante o evento.  Detalhe: processos judiciais para reparar danos não cabem a qualquer um, tanto pelo custo quanto pela perda de tempo.

Até mesmo quem tem obras de construção e reforma em curso padece dos efeitos da alta de preços da mão de obra, passando a concorrer diretamente com as grandes empresas contratadas para as obras da COP30.   

De fora, mas “de olho”

Recentemente, o jornal “Folha de S. Paulo” também se debruçou sobre o assunto dos aluguéis. “Após meses de expectativa, a COP30, cúpula climática global que irá ocorrer em novembro em Belém, tem a sua presidência definida, com o nome do embaixador André Corrêa do Lago. Ao mesmo tempo em que a organização do evento toma forma, preços abusivos e condições anormais se instalam nos aluguéis da capital paraense”, reporta.    

Os planos da organização da COP30 preveem receber navios de cruzeiro em Belém. Duas embarcações devem prover cerca de 4,5 mil vagas em uma cidade que hoje tem apenas 18 mil leitos e pretende chegar a 40 mil até 10 de novembro, data do início da cúpula.  

“Com a escassez de espaços para hospedagem, o mercado imobiliário da capital paraense virou um vale-tudo. Um hotel que hoje cobra R$ 336 por noite em Ananindeua, cidade vizinha, oferece quartos por US$ 2 mil - aproximadamente R$ 11,8 mil - durante a COP”, continua a reportagem.   

"Um apartamento com cinco camas, disponível para 17 diárias durante o período da Conferência, foi anunciado por R$ 2,3 milhões. Outro, também com cinco camas, sairia por R$ 2 milhões para duas semanas. Um terceiro, com uma cama, foi anunciado por R$ 635 mil para período semelhante", conforme reportagem da Coluna Olavo Dutra.  

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Prédios escolares

Na última, 24, o governo federal prometeu adotar medidas para organizar o uso das vagas e limitar práticas abusivas, a exemplo do que ocorreu em grandes eventos como a Rio+20, em 2012, e na Copa de 2014. Em Belém, o planejamento inclui utilizar prédios escolares adaptados para funcionar como hotéis temporários, tendo o governo anunciado a reconstrução de 17 escolas para hospedagem, como o Colégio Ulysses Guimarães, no bairro de Nazaré, que passou por obras por cerca de 12 meses e foi entregue em outubro, e o Colégio Souza Franco, no bairro do Marco, ainda em obras.

Mais complicadores

Um dos problemas do governo do Estado, porém, está justamente na rede escolar, com os professores em greve. Em novembro do ano passado, o governo publicou o Decreto 4.345, que determinou a suspensão das aulas em Belém, Ananindeua e Marituba durante a COP30. O decreto mexe nas férias escolares nas redes pública, estadual, municipal e particular; proíbe as férias, afastamentos e licenças especiais para servidores públicos e de militares; e promove o trabalho remoto para algumas categorias de servidores públicos.  

A medida prevê reduzir a circulação de pessoas que não participarão do evento, a melhoria da mobilidade urbana e a garantia da segurança dos estudantes. O governo afirmou que o calendário escolar do Estado voltará a ser unificado em 2026.  O planejamento segue as recomendações da ONU.

Papo Reto

·Errou quem pensava que a ministra Sônia Guajajara (foto) faria a “dança de guerra” com os indígenas que ocupam as instalações da Seduc a 14 dias, em Belém. Pelo tom conciliador com que tratou o caso, a ministra “é da paz”.

·Se cumprir a regra, o governo deve divulgar em novembro, mês da COP30, os novos índices de desmatamento na Amazônia Legal em 2025. É a praxe, mas já tem ambientalista esperando sentado para ver.

·Não no Pará - até agora -, mas em outros Estados, os Tribunais de Contas alertam prefeitos que não irão tolerar gastos exagerados com o carnaval em municípios onde haja atrasos de pagamento de salários de servidores, fornecedores e da Previdência.

·Vem aí a Terça-feira Magra. Aguarde. 

·Não se sabe de onde sairá dinheiro, mas o Exército deflagrou licitação para compra de novos tanques de guerra.

·Talvez por medo de Maduro, o governo promete substituir os obsoletíssimos Leopard 1A5 e os M60 por tanques similares aos que vêm sendo usados na guerra da Ucrânia.

·Força Integrada de Combate ao Crime Organizado do Amazonas interceptou lancha carregada com entorpecentes, armamento pesado e munições no Rio Solimões.

·O Pará bem poderia organizar algo similar para conter a sangria de minérios que saem clandestinamente por terra e água, 24 horas do dia.

·O dólar nas alturas e a expectativa de nova safra recorde de grãos prometem turbinar as exportações brasileiras em 2025.

·Mais uma da série se inveja matasse: em 2024, o Espírito Santo consolidou a condição de "melhor destino para pesquisadores do Brasil", já que virou referência nacional a partir de pesados investimentos em Ciência, Tecnologia, Inovação e Extensão. 

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