Em oito décadas, concurso considerado demodê ainda elege rainha do carnaval e encanta público paraense

Candidata do Clube do Remo passou ao largo do tema COP30, apostou na leveza, dispensou a pirotecnia de outros carnavais, conquistou o título e reacendeu paixões clubísticas.

24/02/2025, 11:00

A estudante de Nutrição Lohanne Lima, 23, conquistou a versão 77 do tradicional concurso do Grupo O Liberal Rainha das Rainhas pelo Clube do Remo/Fotos: Divulgação.


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m ano de COP, sob o clamor da sustentabilidade e da natureza, soou estranho que uma das únicas fantasias que não utilizaram temas ligados ao evento da ONU na edição 77 do Concurso Rainha das Rainhas do Carnaval tenha conquistado o título. A bragantina Lohanne Lima, de 23 anos, do Clube do Remo, a soberana, se apresentou com o tema “Parvati - a energia indiana do amor”. Decididamente, o RR não sai de moda em Belém.

Alguns observadores do concurso, criado há quase oito décadas pelo empresário e fundador do grupo O Liberal Romulo Maiorana, apontam que, desde que o estilista de Icoaraci, Carlos Amílcar, no início dos anos 2000, revolucionou o concurso com a fantasia “dupla face”, o certame entrou em uma trajetória ascendente que obriga, a cada ano, que as fantasias sejam cada vez mais pirotécnicas. De fato, as fantasias só não soltam fogos de artifício, como nas aparelhagens, porque o regulamento não permite.

Já se viu quase tudo no concurso. Houve um tempo em que o Rainha levou até animais vivos aos desfiles que, sensatamente, foram proibidos. Aí veio a pirotecnia. 

Começou com candidata virando relógio Big Ben, usando as pernas como ponteiros; candidata se tornando vampira de ponta cabeça; candidata fazendo mágica e “sumindo” no palco; candidata colocando a perna mais alto que a cabeça e acabando no BBB; e candidata presa pelos braços e girando, girando...  

Simplicidade e leveza 

A cada ano, o público parece querer mais e mais e talvez esteja mal acostumado. Este ano, veio a fantasia de Lohanne Lima, assinada pelo estilista João Bosco Maia Neto, que deu a vitória ao Clube do Remo depois de 20 anos.   Uma fantasia que apostou na leveza, literalmente, sendo uma das mais leves para os padrões do concurso, com cerca de 40 quilos, e na simplicidade, sem mudar nada, deixando que Lohanne dançasse o tempo todo os passos de uma dança indiana sem grandes esforços. O resultado foi o primeiro lugar.  

Em ano de COP30, a faixa da rainha mudou: saiu dos tradicionais azul, vermelho e branco e se enquadrou no verde, com detalhes de folhas, tudo confeccionado em tecido reciclado.

Desfiles ecológico 

A tônica das fantasias e dos desfiles foi a ecologia. Se antes os estilistas buscavam inspiração em princesas das “Mil e Uma Noites”, nas noites da Arábia, nunca se viu tantos pássaros, lendas amazônicas, guerreiras, flores, folhas e animais como desta vez no palco da Assembleia Paraense. 

Teve até duas homenagens ao Boi Pavulagem, com direito a torcida usando chapéu de fitas; homenagem à pajé Zeneida Lima, como outra inovação - uma holografia com o rosto da candidata -, além de samba no pé não muito bem.  

E, como sempre, os exageros. Uma candidata se transformou em Nossa Senhora Aparecida, subiu na fantasia e ficou cerca de dois metros acima do palco, emulando a Santa. Deu tudo certo enquanto ela estava parada, mas, ao se movimentar, foi “castigada”: o peso de 70 quilos falou mais alto e a moça teve muita dificuldade no desfile, precisando de ajuda.  

A quarta princesa Sammya Xavier, do Bancrévea, desfilou com a fantasia "Mãe Natureza, o voo da liberdade”, e se transformou em uma arara no palco. Foi impactante, mas não para os jurados. Ela deve ter achado que merecia o título, tal foi a decepção ao ser anunciada no quinto lugar. O descontentamento era tão real que ela perdeu o sorriso. 

Questão de gênero

A candidata do Guará Park, Alana Moraes, se saiu muito bem com a fantasia que a transformou em uma grande vitória-régia e foi a terceira princesa, ou quarto lugar. Alana, uma mulher transgênero, revelou essa condição aos jurados em pleno desfile e já saindo da passarela: “Eu sou a primeira mulher trans a pisar neste concurso”.  A torcida de Alana levou grandes leques nas cores rosa e verde, as mesmas da fantasia.  

Nos bastidores, com o repórter Carlos Brito, da TV Liberal, que entrevistou todas as candidatas que saíam da passarela, e para outros repórteres na cobertura, Alana disse que tinha desfilado não só por ela, mas por vários corações. “Eu sou a primeira mulher trans a pisar neste concurso em 77 edições. Hoje, eu desfilei não só por mim, mas por muitas pessoas que nunca puderam pisar aqui. Eu estou muito feliz e muito realizada e só tenho a agradecer ao clube e por tudo o que eles me proporcionaram”, disse.  

Família e transmissão 

O Concurso Rainha das Rainhas, nesses quase 80 anos, coloca no front a terceira geração da família Maiorana. Se antigamente era o próprio ‘seu’ Romulo que subia ao palco para entregar a “chave do carro” à vencedora, atualmente são os netos dele, filhos de Rose e de Ronaldo Maiorana, que são também os que estão à frente das promoções e apresentações do concurso. Se bem que a última palavra é sempre de Ronaldo.  

Depois de alguns anos sendo realizado no Hangar, o concurso, pelo segundo ano consecutivo, voltou à sede da Assembleia Paraense, e sempre com grande público. É louvável como o concurso ainda provoca interesse de tanta gente. Este ano, voltou a ser transmitido, ao vivo, pela TV Liberal, e pelo YouTube, para o Brasil todo.

Um fato que chama atenção é a transmissão do concurso, que não é fácil, porque é ao vivo, sendo quase uma transmissão do Círio e envolve dezenas de profissionais. Atualmente na TV Liberal, talvez não tenha ninguém com expertise para fazer esse tipo de trabalho. Por isso, a emissora traz de volta, como free lancers, jornalistas que já deixaram a emissora há algum tempo, como Simone Amaro, que sempre dirigiu a transmissão; Flávia Lima, para apresentar; Tayse Assis, nos comentários; Mara Carlo, na maquiagem, e outros mais.  

A voz do povo

Como sempre, o melhor desse tipo de disputa está nos comentários do público, nos quais, ninguém fica satisfeito. Teve gente que disse que a vencedora “nem chorou, porque já sabia que ia vencer”. Outro disse que “esse título do Remo foi comprado pelo Helder Barbalho”. Outro disse que o “Papão ficou em último lugar” e “Se for chorar, Paysandu, manda áudio”.  Mas teve elogios: “Eles avaliam a beleza e dança e não tecnologia. Naturalidade é o que conta”. “Sou remista, moro em Goiás e fico muito feliz pelo meu time”. 

Papo Reto

·Onze novos DAS acabam de ser nomeados para a Secretaria de Habitação de Belém da gestão Igor Normando por indicação do ministro das Cidades, Jader Filho (foto).

·A secretaria está sob a direção de Hamilton Pinheiro, amigo pessoal e de longa data do ministro, e passa a incorporar agora Lucas Lazera, enteado de Jader Filho. 

·Sabe-se agora: entre os milhares de torcedores que estiveram no “Mangueirinho”, sábado, em que o Campinas venceu o Cruzeiro pela Superliga Masculina de Vôlei, estava o ex-governador Simão Jatene, muito festejado pelo público presente.

·A neta do ex-governador é jogadora de vôlei do Clube do Remo

·A Prefeitura de Belém assina hoje a cessão das duas quadras de tênis do Portal da Amazônia à Federação Paraense de Tênis. 

·A entidade vai reformar os espaços para instalar uma escolinha de tênis gratuita no local.

·As quadras de tênis do Portal não funcionam como quadra de tênis há muito tempo e sempre foram negligenciadas pelo poder público.

·Hoje, elas estão sem uso funcional, deterioradas, e servem como quadra de futebol para a garotada.

·O advogado Rafael Tupinambá assume amanhã, às 17 h, a presidência da Comissão de Gestão, Empreendedorismo e Inovação da OAB-PA.

·A Comissão prevê desenvolver e agregar valores empreendedores visando a melhoria da qualidade de vida social, financeira e familiar da categoria.

·Notificadas pelo Ministério da Fazenda, as Bets, finalmente, serão obrigadas a apresentar políticas contra a lavagem de dinheiro.

·Cresceu 68% a farra do desmatamento na Amazônia Legal. Em janeiro, foram 133 km² ou mais de 400 campos de futebol devastados.

·"Não se vê uma única manifestação dos donos do poder, nem de artistas, nem de ambientalistas, diferentemente de quando Bolsonaro governava", protestam os opositores do governo.

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