De tanto aceitar favores do governo do Pará, esquerda acabou reduzida a figurante política

PT e Psol afundaram fragorosamente no Estado, mas a história não está completa - ao menos na parte que envolve o senador Beto Faro, que tem o dom de sobreviver à Justiça Eleitoral.

30/10/2024 09:30
De tanto aceitar favores do governo do Pará,  esquerda acabou reduzida a figurante política
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povo é sábio ao dizer que “quem muito se abaixa…” - acaba mostrando aquilo que não gostaria que fosse visto. O ditado parece representar bem o ocaso do braço da política que já foi a esquerda no Pará, que encolheu por completo. Virou “nanica”.


Dois principais partidos de esquerda no Estado, PT e Psol só não estão reduzidos a pó porque ainda mantêm cargos eletivos importantes, como no Senado/Fotos: Divulgação.
 

PT e o Psol conseguiram sair da posição de partidos protagonistas e passaram a meros coadjuvantes, senão figurantes. Fonte da Coluna Olavo Dutra que analisa o cenário credita como motivo principal desse encolhimento a aliança das antigas lideranças de esquerda com o grupo Barbalho.

 

Meu pirão primeiro

 

O grupo, como é público e notório, tem tomado decisões que apontam - e consolidam - um aparelhamento político com peças confiáveis e lubrificadas para funcionar por mais de década, no mínimo, mirando no primeiro momento as eleições de 2026, que envolvem a candidatura a cargo federal do próprio governador, a princípio ao Senado, com viés de uma possível candidatura à reeleição do presidente Lula.

 

Votos bastante úteis

 

Mas é fato que a aliança com a esquerda, vinda desde a eleição do presidente Lula em 2006, ajudou a eleger Helder Barbalho bem mais à frente, em 2018, para o primeiro mandato de governador. Muito embora naquele ano nacionalmente o PT, representado por Fernando Haddad, tenha perdido a eleição presidencial, o partido ainda elegeu no Pará três deputados para a Assembleia Legislativa: Dirceu Ten Caten, Carlos Bordalo e Dilvanda Faro, os três já com discurso de “oposição responsável” que, na prática, significou apenas um alinhamento já esperado ao novo governo estadual.

 

Sombra e estagnação

 

Quatro anos depois, em 2022, o PT seguiu sem crescimento e manteve as mesmas três vagas, desta vez com Elias Santiago, Maria do Carmo Martins e a reeleição de Carlos Bordalo. Já o Psol, que teve vaga no Legislativo estadual quando o atual prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, foi deputado estadual, voltou à Casa em 2022 ao eleger Lívia Duarte, mulher do secretário Cláudio Puty, nome sempre polêmico quando se trata de reeleger seus chefes ao Executivo. Foi assim com a ex-governadora Ana Júlia Carepa, e agora com o próprio Edmilson, mas essa é outra conversa.

 

Lívia Duarte saiu da Câmara de Belém, única vaga do Psol em 2020, ano da eleição do terceiro mandato de Edmilson, já sob o guarda-chuva do grupo Barbalho. O PT, por sua vez, ficou com apenas duas cadeiras, com Amaury da APPD e Bia Caminha, que este ano não se reelegeu, e acabou apenas com a vaga de Neia Marques. As outras vagas ditas da esquerda ficaram com o Psol, para de Marinor Brito e Vivi Reis. O PT do B, que tinha conquistado uma vaga em 2020 para Altair Brandão, manteve a cadeira, agora com Rodrigo Moraes.

 

Um caso atípico

 

O prefeito Edmilson Rodrigues é o caso mais emblemático. Eleito para o terceiro mandato sob o mesmo guarda-chuva em 2020, acabou enfrentando agora um opositor destacado pelo governador de sua própria família. Com isso, o atual prefeito amargou um terceiro lugar fora do segundo turno e sem conquistar nem 10% daquele que era seu próprio eleitorado.

 

Nessa derrocada política foram abafados ao longo do caminho nomes que estiveram no auge de um grande grupo que já foi a esquerda no Pará, como a própria Ana. Júlia, que surgiu vice de Edmilson na sua primeira eleição a prefeito, no ano de 1996, e Valdir Ganzer, no ano 2000.

 

Mudança de ares

 

Pelo PT, Edmilson ainda chegou a ser pré-candidato à Presidência da República em 2002. Mas, em 2005, mudou de partido junto com um grupo dissidente do partido rumo ao Psol. Entre eles, no Pará, estavam ainda lideranças como José Nery Azevedo, que viria a herdar o mandato de Ana Júlia Carepa no Senado; a então deputada estadual Araceli Lemos e Marinor Brito, que dali a 5 anos seria eleita senadora.

 

Efeito denorex

 

Um pouco antes, em 2006, a esquerda paraense parecia ter dado outro salto com a eleição de Ana Júlia a governadora. Parecia, pois foi bem aí que a ‘grande coalizão’ de partidos que a elegeu já foi liderada nos bastidores pelo então senador Jader Barbalho e o então PMDB. Quatro anos depois, em 2010, Ana Júlia não foi reeleita, mas o grupo Barbalho saiu maior, aliado também à reeleição de Lula à Presidência da República.

 

Em 2020, deixando de lado o deputado federal José Priante que, segundo dizem os analistas do cenário, é único parente non grato na família Barbalho, o grupo, especialmente o governador, entrou forte na campanha para eleger Edmilson Rodrigues a prefeito.

 

Ladeira abaixo

 

O mandato começou e a aliança seguiu de um jeito estranho, com um Edmilson completamente subserviente ao governador do Pará. “Edmilson parceria muito mais um secretário, ao permitir que a população enxergasse o governador como o verdadeiro prefeito de Belém. O auge desse comportamento foi o governador vestir seus servidores de azul, a cor do seu partido, colocando-os nas ruas para ajudar uma Belém cheia de lixo e maus tratos, na execução de serviços básicos de limpeza e capinação que deveriam ser feitos pela Prefeitura de Belém. Bem aí, Helder Barbalho aparecia como o verdadeiro prefeito da cidade, fazendo do básico e trazendo megaeventos para a cidade, como a COP30, a ponto de facilmente eleger seu novo parente e a empurrar o atual prefeito ladeira abaixo”, conclui a fonte.

 

Lado B do partido

 

Nesse corolário da queda vertiginosa dos dois partidos de esquerda dispensam-se comentários sobre o PT do B, isto é, a parte do partido comandada pelo senador Beto Faro, também eleito pelas mãos de Helder Barbalho. A história do senador encravou nas gavetas do Tribunal Regional Eleitoral, portanto, ainda não está escrita convenientemente e corre o risco de compor o cenário de um delirante voo de galinha.

 

Papo Reto

 

·   Entreouvido nos corredores da Sudam: o sofrível desempenho do PT e aliados de primeira hora na eleição municipal provocará, inevitavelmente, uma "reforma profunda" da máquina federal, fazendo crer que poderá atropelar até o superintendente Paulo Rocha (foto).

 

·  Chegou a 9,9 milhões o número de eleitores que se abstiveram de votar no segundo turno, ausência bem parecida com a do tempo da pandemia, segundo o sábio entendimento da Justiça Eleitoral

 

· Para se ter ideia, no segundo turno, em Belém, 16.053 eleitores votaram em branco, 26.210 votaram nulo e 266.092 nem deram as caras, totalizando, nada mais, nada menos do que 308.355 “nãos” aos dois candidatos em disputa.

 

· No Supremo, enquanto André Mendonça arquivava dois inquéritos contra o governador fluminense, Cláudio Castro, o ministro Fachin arquivava o inquérito que investigava Renan Calheiros e Eduardo Braga, ícones do MDB, indiciados por suspeita de receber propina de uma farmacêutica.

 

· Pelas contas das cortes superiores da Terra Brasilis, José Dirceu e Pezão estão livre de culpas. Todos 'inocentados', todos livres, todos soltos.

 

· A Polícia Federal divulgou números de sua atuação nas eleições: apreendeu R$ 55 milhões em bens e valores e instaurou 2.577 inquéritos policiais para apurar crimes eleitorais.

 

· A bolada maior foi "achada" no Pará, mas ninguém fala mais do assunto.

 

· Os crimes ambientais dispararam 88% na Amazônia, diz a Polícia Rodoviária Federal.

 

· Só as apreensões de minérios clandestinos aumentam 170% e as de madeira, 65%.


· Desde a última segunda-feira, todas as instituições bancárias estão obrigadas a oferecer o Pix Agendado Recorrente, permitindo que o usuário programe pagamentos sempre no mesmo dia de cada mês.

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