nico do Psol a comandar uma capital de Estado, o prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, não conseguiu obter um novo mandato nas eleições de outubro do ano passado. Em Belém, pouca gente se surpreendeu com esse resultado. Sucessivas pesquisas mostravam que Edmilson não liderava nenhum dos cenários prospectados pelos institutos. O resultado final foi, portanto, previsível.
A recente entrevista publicada nas redes sociais que traz Edmilson Rodrigues
como protagonista de uma narrativa de vitimização e defesa de sua gestão à
frente da Prefeitura de Belém é, portanto, uma tentativa frustrada de
justificar o injustificável.
Fantasmas da direita
Ao encerrar seu terceiro mandato, o prefeito não apenas amargava uma rejeição de 80%, como viu a reprovação recorde se converter em uma derrota acachapante. Então, o único prefeito do Psol a governar uma capital, ao fim e ao cabo, ficou em terceiro lugar na disputa pela reeleição, o que evidenciou o mau humor da população com sua gestão. Em vez de reconhecer falhas e erros primários, o ex-prefeito prefere apontar o dedo, alegando ser vítima de uma suposta campanha de desinformação orquestrada “pela extrema direita”. Quisera fosse isso.
“Simplista e desonesto”
É inegável que a política é um campo de disputas acirradas, mas a insistência
de Edmilson em se colocar como alvo de ataques “da direita” é uma estratégia
que ignora a realidade de sua gestão. Durante seu mandato, o ex-prefeito da
capital acumulou uma série de decisões questionáveis, agravada pela montagem de
equipe claudicante, o que resultou em seu isolamento político que, ao final, se
traduziu em sua derrota nas urnas. A narrativa de que sua administração foi
prejudicada por “forças externas” não é apenas simplista, mas também desonesta,
pois desvia a atenção dos problemas internos que realmente afetaram sua
capacidade de governar.
Remexendo o lixo
A gestão do lixo, por exemplo. A capital paraense, que vai sediar a COP30, maior evento da ONU sobre meio ambiente, não encontrou, durante o terceiro mandato de Edmilson Rodrigues, nenhuma solução para a crise do lixo, que se manifestava nas duas pontas: na coleta e na destinação. Tanto que a própria prefeitura apresentou ao Tribunal de Justiça do Estado do Pará um pedido para que fosse prorrogado o funcionamento do Aterro Sanitário de Marituba por mais um ano e meio.
A prorrogação autorizada liberou o recebimento do lixo de Belém na cidade
vizinha. O fechamento do Aterro de Marituba já foi prorrogado diversas vezes
devido aos danos ambientais resultantes de sua permanência em atividade. O
local é o destino de cerca de 500 mil toneladas de resíduos por ano. São cerca
de 40 mil por mês. O espaço, criado em 2015 para substituir o lixão do Aurá, já
esgotou há muito a sua capacidade.
Gramado do vizinho
Edmilson
Rodrigues também critica a nova gestão de Belém e aponta retrocessos em áreas
como educação e cultura, mas é importante lembrar que sua própria administração
enfrentou críticas severas nessas mesmas áreas. A fusão da Fundação Escola
Bosque, a Funbosque, com a Secretaria de Educação e a suposta privatização do
Palacete Pinho são, segundo ele, medidas que comprometem conquistas sociais. No
entanto, o ex-prefeito falha em reconhecer que sua gestão também foi marcada
por decisões que não atenderam às necessidades da população, especialmente dos
mais vulneráveis e seria tedioso se debruçar sobre todas elas.
Em
março de 2024, para se ter ideia, um exemplo, servidores municipais bloquearam
avenidas da cidade em protesto contra a proposta de reajuste da prefeitura.
Entre as reivindicações, exigiam salário mínimo no vencimento base e vale
alimentação.
A Funbosque, que agora o ex-prefeito defende como uma referência nacional em
educação ambiental, não foi imune a críticas durante seu mandato. A falta de
investimentos adequados e a ineficiência na implementação de políticas públicas
na área de educação ambiental foram pontos levantados por diversos setores da
sociedade. Assim, sua defesa tardia da Funbosque parece mais uma tentativa de
recuperar uma imagem desgastada do que um compromisso genuíno com a educação
ambiental.
Educação e cultura
Além disso, a transformação do Palacete Pinho em Escola Municipal de Artes, embora tenha sido uma iniciativa elogiada, jamais se provou como uma ideia autossustentável, não podendo por isso ser usada como um escudo para encobrir os múltiplos problemas que marcaram sua gestão. A “privatização” não foi anunciada, mas, se realmente ocorrer, deve ser debatida não como um retrocesso absoluto. Deve-se considerar o contexto atual das finanças do município e as necessidades da população.
“A
Fundação Banco do Brasil, por exemplo, tem interesse em se instalar em Belém e
tem capacidade de manter o espaço e garantir sua função pública”, diz o líder
de um coletivo de fazedores de cultura que passou pela Fumbel em gestões
passadas.
Edmilson Rodrigues fala sobre resistência e a importância de investimentos em
educação e cultura como ferramentas para combater a desigualdade, mas, os
fazedores de arte e cultura em Belém questionam. Um reconhecido atuante na área
da cultura contesta: “onde estavam esses investimentos durante sua gestão? A
retórica de resistência é válida, mas não foi acompanhada de ações
concretas e resultados palpáveis durante sua administração”.
Defesa e ataque
A
insistência de Edmilson Rodrigues em se colocar como “vítima de ataques da
extrema direita” é uma estratégia que não se sustenta diante da realidade. “O
ex-prefeito precisa encarar os erros de sua administração, exercitar a
autocrítica e entender que a insatisfação da população é resultado de suas
próprias decisões”, diz um vereador com assento na mesa diretora da Câmara. “Em
vez de buscar culpados externos, seria mais produtivo refletir sobre como suas
ações impactaram a vida dos cidadãos e como ele poderia ter feito melhor”,
finaliza.
“A crítica à gestão de Igor Normando é prematura”, diz um vereador do MDB.
“Deve ser feita com responsabilidade e embasamento, mas não pode servir como um
manto para encobrir as falhas de sua própria administração. A população de
Belém merece um debate honesto e transparente sobre o futuro da cidade, e não
uma disputa de narrativas que apenas perpetuam a polarização política”,
conclui.
“É hora de Edmilson Rodrigues assumir a responsabilidade por sua gestão e
contribuir de forma construtiva para o desenvolvimento de Belém, em vez de se
perder em uma retórica de vitimização que não leva a lugar algum”, diz um
dirigente do Psol que pertence a um dos grupos internos críticos ao
ex-prefeito.
“A população de Belém cansou de ser enganada por discursos que tentam desviar a
atenção de uma gestão que falhou em muitos aspectos”, diz uma liderança
sindical que representa servidores do município. “Infelizmente é preciso
admitir que ninguém sentirá falta dessa administração, muito menos os
servidores públicos de Belém”, conclui.
O epitáfio está posto
Winston Churchill foi o grande político britânico do Século XX, sendo o primeiro-ministro e líder de seu país durante a Segunda Guerra Mundial. Frasista memorável, Churchill escreveu que “política é quase tão excitante quanto a guerra, e quase tão perigosa. Na guerra, você é morto uma vez, mas, em política, pode morrer várias vezes.”
Saber ressuscitar em política é uma arte para poucos. Mas os que ressuscitam
têm, invariavelmente, a capacidade de exercitar a autocrítica. Edmilson
Rodrigues terá que encarar esse exercício se quiser voltar a caminhar entre os
vivos.