Marido da ministra do Meio Ambiente responde pelo sumiço de R$ 44,15 milhões no Caso Usimar

Empresário Fábio Vaz de Lima, que enfrenta processo por improbidade administrativa, busca consolidar negócios de crédito de carbono no Pará.

16/02/2025, 11:00
Marido da ministra do Meio Ambiente responde pelo sumiço de R$ 44,15 milhões no Caso Usimar
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esde 2001, Fábio Vaz de Lima, marido da ex-senadora e atual ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, está no centro de um processo judicial que se arrasta há mais de duas décadas. O "Caso Usimar", como ficou conhecido, envolve uma ação civil por improbidade administrativa que tramita na 6ª Vara da Justiça Federal em São Luís, Maranhão. O processo, que já chegou ao Supremo Tribunal Federal (STF), foi devolvido à instância inferior pela ministra Carmen Lúcia em 2008, onde permanece até hoje, aguardando julgamento.

Em 2011, o então deputado federal Aldo Rebelo acusou o marido da ministra Marina Silva de envolvimento em contrabando de madeira/Fotos: Divulgação.
A matéria remonta a dezembro de 2000, quando o Conselho Deliberativo da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) aprovou um projeto da Usimar Componentes Automotivos. O projeto, que nunca foi concretizado, resultou em um prejuízo de R$ 44,15 milhões, segundo o Ministério Público Federal. Fábio Vaz, na época, participou da reunião do Conselho como representante do então governador do Acre Jorge Viana, mas afirma que estava presente apenas como ouvinte e que seu nome foi indevidamente incluído na ata como um dos que aprovaram o projeto.

Em entrevistas passadas, Vaz defendeu sua inocência, alegando que não tinha direito a voto na reunião e que sua inclusão na lista de aprovadores foi um erro. "Estou pagando caro por um erro que não cometi", declarou em 2014. O processo, que já se arrasta por 24 anos, está atualmente sob a análise do juiz federal Jorge Ferraz de Oliveira Junior, com os autos conclusos para decisão desde maio deste ano.

De olho na COP30

Enquanto enfrenta essa batalha judicial, Fábio Vaz também se destaca no cenário econômico de Belém, onde frequenta os lobbies dos hotéis desde que a cidade foi confirmada como sede da COP30. Vaz está envolvido em negócios de crédito de carbono, um mercado em expansão que visa a compensação de emissões de gases de efeito estufa.

O preço dos créditos de carbono pode variar bastante, dependendo do tipo de projeto e da certificação. No Brasil, os preços têm oscilado entre US$ 5 e US$ 15 por tonelada de CO2 equivalente, embora projetos de alta qualidade e com benefícios adicionais possam alcançar valores mais altos. É nessa trilha que transita o ilustre marido da ministra.

Contrabando de madeira

A trajetória de Fábio Vaz é marcada por sua relação longeva com Marina Silva, com quem tem dois filhos. Nascido em Santos, São Paulo, ele se mudou para o Acre em 1983, onde se envolveu com a militância social e a área agrícola. O casal, que se conheceu na Universidade Federal do Acre, foi filiado ao Partido dos Trabalhadores até 2009, quando Marina se juntou ao Partido Verde para fundar, a seguir, com Heloísa Helena e Pedro Ivo, a Rede Sustentabilidade. Mesmo na Rede, onde integra a minoria, Vaz manteve-se próximo dos governos petistas no Acre por quase 14 anos e agora transita com desenvoltura tanto no ministério comandado pela mulher dele como em pastas como Ibama, ICMBio, Funai e Sudam, dentre outros.

Vaz e Marina enfrentaram outra polêmica em 2011, quando o então deputado federal Aldo Rebelo acusou Vaz de envolvimento em contrabando de madeira durante uma discussão acalorada sobre o Código Florestal. As acusações, que remontavam a 2004, foram investigadas pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, que arquivou o caso em 2013 sem um parecer conclusivo.

Marina Silva, que sempre defendeu o marido, classificou as acusações de Aldo Rebelo como "falsas e levianas" e uma "cortina de fumaça" para desviar o foco do debate sobre o Código Florestal. Apesar das tensões, nem Marina nem Fábio processaram Aldo Rebelo, que também não retirou suas declarações.

Trava no Judiciário

O desfecho do “Caso Usimar” ainda é incerto. Embora Fábio Vaz continue a afirmar sua inocência, a demora em uma solução para o processo sugere que sua conclusão bateu em uma trava política. O processo, que já dura mais de duas décadas, é um exemplo emblemático da lentidão do Sistema Judiciário brasileiro quando se trata de julgar políticos e personalidades notórias, o que muitas vezes resulta em longas esperas por um veredicto final e, na maioria das vezes, em impunidade.

Enquanto isso, Vaz segue com desenvoltura pelos corredores e escaninhos da COP30, em Belém, abrindo portas com seu credencial parental-ministerial e buscando parceiros no mercado de créditos de carbono, setor que ganha cada vez mais relevância no contexto das discussões globais sobre a precificação das mudanças climáticas. Com a COP30 se aproximando, a presença frequente de Vaz em Belém se não indica seu gosto pela culinária paraense, certamente assinala o tamanho de seu apetite pelos negócios que se avizinham.

Papo Reto

·Uma das razões da desistência do projeto de dragagem do Porto de Belém foi a exigência da Marinha de conclusão da obra em maio. O prazo tem uma justificativa internacional, por isso o governador do Estado, Helder Barbalho (foto), concordou.

·A obra deveria ser certificada na Inglaterra, dada a natureza das operações previstas para o porto durante a COP30 - receber navios de cruzeiro e não de cargas.

·A conclusão óbvia dos técnicos foi de que, além da falta de tempo, a empresa responsável pela obra precisaria continuar dragando até novembro para garantir o livre tráfego das embarcações, sob pena de tudo voltar à estaca zero.   O assoreamento do Porto de Belém não é para amadores.               

·Em Belém, morto tem que provar, ainda que através de terceiros, que morreu a cada 90 dias. É uma das exigências absurdas praticadas por cartórios para quem precisa resolver problemas relacionados a heranças.

·Alguma coisa está fora de ordem no planejamento da infraestrutura da COP 30, que acontece em novembro, em Belém. 

·Em plena crise de disponibilidade de hospedagens para o evento - com repercussão planetária, diga-se -, padres barnabitas não receberam nenhum retorno da proposta que fizeram através de emissários aos organizadores do evento.

·Trata-se da cessão do Centro de Evangelização, em Benevides, à altura da Curva do Cupuaçu, BR-316, com capacidade de acomodar até 200 pessoas.

·Por essas e outras é que não se entende a tal crise de hospedagens de que tanto se fala. É muita acomodação para resolver a falta de acomodações

·Vai ter carnaval em Mosqueiro, apesar da Prefeitura de Belém. O sinal de fumaça saiu do Bloco “Pele Vermelha”, confirmado pelo Bloco “Pimenta da Ilha”. Só falta a Agência Distrital negar segurança aos foliões - só falta.


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