Belém, PA - Dia 6 de setembro celebra-se a oficialização do Hino Nacional Brasileiro, pelo Decreto nº 15.671, de 1922. A versão hoje utilizada foi composta por Francisco Manuel da Silva em 1822 (música) e por Osório Duque Estrada em 1909 (letra). Vale lembrar que alguns versos apócrifos tenham sido acrescentados à composição original de Estrada e incorporados definitivamente ao hino.
Sendo um dos símbolos máximos da identidade e da história do Brasil, o hino transcende o mero ato de cantar, sendo uma peça rica em significados históricos, culturais e literários. A letra do hino, escrita no contexto do final do século XIX e início do século XX, segue o estilo parnasiano, que privilegia a forma e a estética em detrimento da clareza.
O parnasianismo, movimento literário dominante na época, era marcado por uma preocupação excessiva com a perfeição formal e a utilização de uma linguagem sofisticada e rebuscada. No caso do Hino Nacional, isso se reflete na escolha de palavras raras e nas frequentes inversões sintáticas, que dificultam a compreensão imediata do texto.
A primeira estrofe do hino, por exemplo, apresenta imagens poderosas e de grande carga simbólica: “Ouviram do Ipiranga as margens plácidas / De um povo heroico o brado retumbante”. Aqui, o Ipiranga, local onde foi proclamada a Independência do Brasil, é descrito com uma calma que contrasta com o clamor vibrante de um povo que luta por sua liberdade. As palavras “plácidas” e “retumbante” são exemplos claros do vocabulário elevado típico do parnasianismo.
Outro aspecto notável do hino é a sua construção metafórica. Termos como “sol da liberdade”, “raios fúlgidos” e “gigante pela própria natureza” não são apenas expressões poéticas; eles condensam a visão idealizada e ufanista do Brasil, típica do romantismo. Apesar de o hino ser parnasiano na forma, seu conteúdo carrega o espírito romântico, especialmente na exaltação da pátria como uma nação predestinada à grandeza.
A complexidade da letra do Hino Nacional muitas vezes faz com que seu verdadeiro significado seja obscurecido para a maioria das pessoas, que o conhece mais pela melodia do que pelo entendimento profundo das palavras. Mesmo trechos amplamente cantados, como “Nossos bosques têm mais vida” e “Nossa vida no teu seio mais amores”, retirados do poema “Canção do Exílio” de Gonçalves Dias, frequentemente não são reconhecidos como parte de um diálogo maior com a literatura brasileira.
A história do hino também é peculiar. Composto em duas partes, totalizando 50 versos, o Hino Nacional só teve sua letra oficialmente reconhecida em 1922, após um longo período de utilização apenas da melodia. Durante esses mais de 300 anos desde o descobrimento do Brasil, o país não possuía um hino oficial, o que só mudou quando o presidente Epitácio Pessoa declarou a letra de Osório Duque Estrada como a oficial.
Por fim, é importante destacar que o Hino Nacional Brasileiro, com sua riqueza de linguagem e simbolismo, não é apenas uma canção, mas um reflexo das tensões e dos anseios de uma nação em construção. O hino exalta a pátria com uma linguagem que, embora rebuscada e complexa, carrega em si a essência do orgulho e da identidade nacional brasileira. Entender o hino, portanto, vai além de memorizá-lo; é necessário decifrar suas metáforas, reconhecer seu contexto histórico e apreciar sua beleza formal e literária.
Foto: Acervo histórico nacional