São Paulo, 28 - O ministro Luís Roberto Barroso, presidente
do Supremo Tribunal Federal (STF), rejeitou o pedido do ex-presidente Jair
Bolsonaro (PL) para excluir os ministros Flávio Dino e Cristiano Zanin do
julgamento da denúncia do inquérito do golpe.
A defesa do ex-presidente pediu a suspeição de Flávio Dino e de Cristiano Zanin
com base em notícias-crime contra Bolsonaro movidas pelos ministros antes de
assumirem as cadeiras no STF.
Em sua decisão, Barroso afirma que as alegações do ex-presidente "não são
passíveis de enquadramento em qualquer das hipóteses taxativamente"
previstas na legislação para o impedimento de magistrados.
"Não se admite: (i) a criação de situação de impedimento que não tenha
sido expressamente mencionada no texto legal; ou (ii) a interpretação extensiva
de suas disposições, para que contemplem situações não previstas pelo
legislador", escreveu Barroso.
Os ministros compõem a Primeira Turma do STF. Se fossem barrados do julgamento,
o quórum ficaria reduzido para analisar a denúncia no colegiado, de modo que a
votação poderia ser transferida para o plenário da Corte, como deseja o
ex-presidente.
Antes de assumir a vaga no tribunal, quando era advogado, Zanin subscreveu em
nome do PT uma notícia-crime contra Bolsonaro por ataques às instituições. Um
dos crimes atribuídos ao ex-presidente na representação era justamente o de
tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tipificação
que consta na denúncia do inquérito do golpe.
Em ofício à presidência do STF, o ministro afirmou que a atuação no caso
"ocorreu estritamente no âmbito técnico-jurídico e ficou restrita aos
autos dos respectivos processos" e que não tem "qualquer sentimento
negativo que possa afetar" sua atuação no caso.
Em maio de 2024, Zanin se declarou impedido para julgar o recurso do
ex-presidente contra a condenação da Justiça Eleitoral que o deixou inelegível.
A defesa de Bolsonaro alegou também que ele também não deveria participar do
julgamento do plano de golpe porque os casos têm relação.
O ministro afirmou que, "excepcionalmente", se deu por impedido para
julgar o caso porque o processo era "assemelhado" à ação que havia
subscrito em nome do PT, mas alegou que o a denúncia do golpe "destoa em
absoluto de julgamentos de natureza cível ou eleitoral".
Em relação a Flávio Dino, os advogados mencionam uma queixa-crime por acusação
de calúnia, injúria e difamação, movida pelo ministro quando ele era governador
do Maranhão. Dino também afirmou que não tem "qualquer desconforto"
para participar do julgamento., que segundo ele "vai se dar de acordo com
as regras do jogo previstas na lei e no regimento interno, com isenção e com
respeito à ampla defesa".
"O Supremo é composto por 11 ministros. Todos chegaram lá do mesmo modo.
Todos os ministros foram escolhidos por presidentes da República e aprovados no
Senado. Existem ministros indicados por cinco presidentes da República
diferentes", afirmou Dino.
Fonte: Estadão conteúdo
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