Vereador de Belém "acha" causa para chamar de sua e provoca polêmica, mas não é a favor da cidade

Zezinho Lima, do PL, usa “poder parlamentar para “fiscalizar” conhecido bar e restaurante por suposta ofensa ao ex-presidente Jair Bolsonaro; dono do negócio agradece.

27/02/2025, 09:20

Sarcasmo na Câmara de Belém e ataques nas redes sociais, eis o que rende a iniciativa do parlamentar preocupado com o futuro do ex-presidente Bolsonaro/Fotos: Divulgação


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Bar e Restaurante Café com Arte, um dos mais longevos de Belém, cidade conhecida pelos empreendimentos de diversão que nascem e morrem “da noite para o dia”, tem resistido ao tempo desde os anos 2000 com boa frequência, em pleno bairro de Nazaré. Não é segredo para ninguém que o dono do negócio, o DJ Roberto Figueiredo, é fã do presidente Lula e. Tanto que, em 2022, quando Jair Bolsonaro perdeu a eleição para Lula, Roberto patrocinou uns barris de chopp aos clientes. Recentemente, com o andamento das investigações sobre o ex-presidente, o empresário prometeu não uns, mas 13 barris de chopp, de graça, caso o ex-presidente seja preso.

Fiscal do quê? 

A promessa está nas redes sociais do Café com Arte desde 2022 e a cada desdobramento do caso Bolsonaro, aparece alguém cobrando o cumprimento da promessa. Foi o que aconteceu na semana passada, quando o ex-presidente foi denunciado pela Procuradoria Geral da República. 

Nessa fronteira entra em cena o vereador Zezinho Lima, do PL, que trocou a Câmara de Ananindeua pela de Belém na eleição do ano passado. Zezinho se magoou com a promessa e se achou no direito de usar sua autoridade parlamentar a ponto de “mandar investigar” o Café com Arte por suposta ofensa ao ex-presidente, seu “mito”. 

Na contabilização dos votos da eleição de 2024, Zezinho Lima, que se intitula “Fiscal do povo”, ficou na 26ª posição entre 35 eleitos para a Câmara de Belém - 6.258 votos, ou 0,79% do total, número bem longe dos mais de 21 mil da vereadora mais votada, a vereadora Silvane Ferraz, do MDB.  

Em menos de um mês no cargo, o parlamentar poderia pensar em projetos de saúde, educação, segurança e urbanismo para a cidade; mas não: fez sua escolha pessoal e política - logo, não é “Fiscal do povo” coisa nenhuma; está mais para “Fiscal do próprio umbigo”. 

Balanço das redes

Além das reações de opositores na Câmara de Belém (vídeo acima), nas redes sociais, desde terça-feira, 25, o apoio a Roberto Figueiredo explode. “O Café com Arte viralizou ao anunciar que distribuirá 13 barris de chopp grátis, caso o fascista seja preso” dispara um internauta. A iniciativa questiona a impunidade de figuras públicas acusadas de crimes.  E mais: “Ao invés de debater o mérito da proposta ou respeitar a liberdade do estabelecimento, o vereador intolerante, ligado a grupos integralistas e de discurso fascista, decidiu usar sua posição para perseguir, ameaçando fiscalizar o local com um requerimento abusivo”.   

“O que faz um representante público agir como capacho de uma agenda autoritária usando o ‘poder’ (carteirada) para atacar um empreendimento que ousou fazer uma crítica política. Enquanto a cidade de Belém enfrenta problemas urgentes (...), esse vereador prefere gastar recursos públicos com perseguição ideológica, movido por ódio e ressentimento. É uma postura covarde, típica de quem não tem argumentos e recorre à intimidação para calar vozes dissonantes”, ataca outro.   

“Se o bar está legalizado, com alvará em dia e respeitando as normas sanitárias, não cabe a um político de mentalidade pequena e antidemocrática ditar o que é ‘aceitável’ como forma de expressão. Ameaçar o estabelecimento por uma promoção e posicionamento é um ataque à liberdade de empreender. Se o vereador Zezinho Lima fosse minimamente sério, estaria fiscalizando desvios de verbas, cobrando transparência na Câmara ou propondo projetos para a cidade, não agindo como cão de guarda de milícias ideológicas”.   

 “É preciso solidarizar-se com o bar e defender seu direito de existir sem assédio. A campanha proposta não é apenas sobre chopp gratuito: é um símbolo de resistência contra a cultura da impunidade e o autoritarismo. Se o ex-presidente for preso, após condenação judicial, será porque a Justiça funcionou. E isso, sim, merece ser celebrado por quem defende o Estado Democrático de Direito”.  

Outra postagem diz “Vamos lá, clientes e não clientes, e estabelecimentos de Belém, apoiar o Café com Arte. Que outros bares, artistas e coletivos se unam a essa causa, mostrando que a sociedade não se calará diante desse abuso de autoridade de políticos que preferem oprimir a debater. Enquanto o vereador brinca de ‘fiscalizar’ opiniões, nós brindaremos à liberdade, com ou sem chopp”. 

Moral da história: por essas e outras - e se Bolsonaro for preso -, o dono do Café com Arte vai acabar obrigado a aumentar a oferta; o público está garantido pelo nobre vereador.  

Fortes emoções

No início de novembro do ano passado, recém-eleito, o vereador Zezinho Lima se submeteu a uma cirurgia para a remoção de um tumor no pulmão. Durante o procedimento, sofreu uma parada cardiorrespiratória e foi colocado em coma induzido, segundo comunicado da equipe médica. Internado na UTI de um hospital particular, o vereador se recuperou e parece bem, felizmente, mas, cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém.

Então vereador em Ananindeua e aproveitando a visita do ex-presidente a Belém, Zezinho Lima fez a seguinte postagem no Instagram: “Pouca gente sabe, mas o ex-presidente Bolsonaro tem muita afinidade com o vereador de Ananindeua, Zezinho Lima, com quem construiu uma relação de amizade, sendo o único vereador presenteado pelo ex-presidente com a medalha 3I - "Imorrível, Imbrochável e Incomível".  

Nada, não: Zezinho sempre teve uma trajetória política e pessoal marcada por controvérsias.

Papo Reto

·O executivo do grupo RBA Nilton Lobato (foto) foi nomeado diretor de Publicidade, Propaganda e Marketing da Secretaria de Comunicação do governo do Estado

·Nilton Lobato ocupará a função antes exercida por Hamilton Pinheiro, outro executivo do grupo que deixou a Secretaria para assumir a Secretaria de Habitação de Belém na gestão Igor Normando. 

·Em tempo de desaprovação maior que a aprovação (44%x29%), Lula troca Nísia Trindade por Alexandre Padilha no comando do Ministério da Saúde.

·Padilha, que vinha sendo fritado na Secretaria de Relações Institucionais, "caiu pra cima", por assim dizer.

·Um dos idealizadores do programa Mais Médicos nos tempos de Dilma, Padilha chega não com a missão de melhorar, por exemplo, o desempenho do SUS, mas para tentar dourar a imagem do presidente junto à sociedade.

·Impressionantemente a velocidade com que o STF apreciou e, de pronto, rejeitou, todos os pedidos de impedimento contra Moraes, Dino e Zanin no julgamento que a corte fará de Jair Bolsonaro. 

·"Fora, Lula!" ou "Anistia Já!"? Visivelmente dividida diante do iminente enfraquecimento do governo, a direita, no fundo, não sabe que rumo tomará o "teatro das tesouras".

·O Tribunal de Contas da União está com todo o gás em uma auditoria nas contas da Previ, após rombo de R$ 14 bilhões no chamado Plano 1, entre janeiro e novembro de 2024.

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