Violência

Tiroteios diminuem, mas violência letal em ações policiais cresce na Grande Belém

Relatório do Instituto Fogo Cruzado aponta 292 tiroteios no primeiro semestre de 2025, com aumento de mortes em chacinas

21/07/2025, 10:30
Tiroteios diminuem, mas violência letal em ações policiais cresce na Grande Belém

Com quase dois anos de monitoramento na Região Metropolitana de Belém (RMB), o Instituto Fogo Cruzado divulgou nesta segunda-feira (21) os dados dos tiroteios registrados entre janeiro e junho de 2025. O levantamento mostra que, embora o número total de tiroteios tenha caído 6% em relação ao mesmo período do ano anterior — de 312 para 292 casos — a letalidade das ocorrências, especialmente nas ações policiais, aumentou de forma preocupante.

Segundo o relatório, quase metade dos tiroteios (48,5%) ocorreu durante operações ou ações das forças de segurança, somando 139 registros. Nessas ações, 220 pessoas foram mortas e 54 ficaram feridas, totalizando 274 vítimas baleadas. O número de mortes em ações policiais subiu 16% em relação ao primeiro semestre de 2024, passando de 12 para 14. Todas as quatro chacinas mapeadas no período ocorreram em operações policiais, com 14 mortos — dois a mais que no mesmo período do ano passado.

Casos emblemáticos ajudam a ilustrar a gravidade da situação. Em Barcarena, três pessoas foram mortas durante uma incursão policial no território quilombola do Cupuaçu. Já em Santa Izabel do Pará, o número de feridos por tiros em ações policiais aumentou 133%. Para o coordenador regional do Instituto Fogo Cruzado no Pará, Eryck Batalha, “a atuação do Estado em áreas vulneráveis tem gerado impactos desproporcionais, especialmente em comunidades tradicionais, refletindo traços do racismo ambiental na Amazônia”.

Entre as vítimas baleadas no semestre, 30% foram atingidas dentro de casa. Houve ainda casos registrados em bares, automóveis e até em um lava jato. Três adolescentes e quatro idosos morreram por disparos de armas de fogo, este último com um aumento de 33% em relação ao ano passado. Já o número de feminicídios dobrou, com dois casos no primeiro semestre de 2025.

Cenário por municípios e bairros

Belém lidera os registros de violência armada: 145 tiroteios, 91 mortos e 29 feridos — o que representa 49% dos confrontos e 41% dos mortos da RMB. Ananindeua, Marituba e Castanhal aparecem na sequência. Marituba teve aumento de 41% no número de vítimas baleadas em comparação a 2024. Os bairros mais afetados foram Icuí-Guajará e Cidade Nova (em Ananindeua), além do Guamá, Marco e Telégrafo (em Belém).

Entre os agentes de segurança, houve redução no número de mortes (de 23 em 2024 para 13 em 2025), mas os casos de policiais civis baleados triplicaram, subindo de um para três.

Dados de junho reforçam tendências

Somente no mês de junho, foram registrados 37 tiroteios, com 34 pessoas baleadas — 28 delas mortas. Embora o número total de confrontos tenha caído 5% em relação a junho de 2024, a letalidade subiu. Ananindeua apresentou os dados mais preocupantes: os tiroteios passaram de cinco para 13 e as mortes triplicaram, de quatro para 12.

O Instituto alerta que, embora o recuo no número de tiroteios possa indicar uma leve melhora na frequência dos confrontos, os dados revelam uma intensificação da violência letal, sobretudo em operações policiais e em territórios vulneráveis, como comunidades quilombolas.


Foto: Bruno Cecim / Ag.Pará

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