Com quase dois anos de
monitoramento na Região Metropolitana de Belém (RMB), o Instituto Fogo Cruzado
divulgou nesta segunda-feira (21) os dados dos tiroteios registrados entre
janeiro e junho de 2025. O levantamento mostra que, embora o número total de tiroteios
tenha caído 6% em relação ao mesmo período do ano anterior — de 312 para 292
casos — a letalidade das ocorrências, especialmente nas ações policiais,
aumentou de forma preocupante.
Segundo o relatório, quase metade
dos tiroteios (48,5%) ocorreu durante operações ou ações das forças de
segurança, somando 139 registros. Nessas ações, 220 pessoas foram mortas e 54
ficaram feridas, totalizando 274 vítimas baleadas. O número de mortes em ações
policiais subiu 16% em relação ao primeiro semestre de 2024, passando de 12
para 14. Todas as quatro chacinas mapeadas no período ocorreram em operações
policiais, com 14 mortos — dois a mais que no mesmo período do ano passado.
Casos emblemáticos ajudam a
ilustrar a gravidade da situação. Em Barcarena, três pessoas foram mortas
durante uma incursão policial no território quilombola do Cupuaçu. Já em Santa
Izabel do Pará, o número de feridos por tiros em ações policiais aumentou 133%.
Para o coordenador regional do Instituto Fogo Cruzado no Pará, Eryck Batalha,
“a atuação do Estado em áreas vulneráveis tem gerado impactos desproporcionais,
especialmente em comunidades tradicionais, refletindo traços do racismo
ambiental na Amazônia”.
Entre as vítimas baleadas no
semestre, 30% foram atingidas dentro de casa. Houve ainda casos registrados em
bares, automóveis e até em um lava jato. Três adolescentes e quatro idosos
morreram por disparos de armas de fogo, este último com um aumento de 33% em
relação ao ano passado. Já o número de feminicídios dobrou, com dois casos no
primeiro semestre de 2025.
Cenário por municípios e
bairros
Belém lidera os registros de
violência armada: 145 tiroteios, 91 mortos e 29 feridos — o que representa 49%
dos confrontos e 41% dos mortos da RMB. Ananindeua, Marituba e Castanhal
aparecem na sequência. Marituba teve aumento de 41% no número de vítimas baleadas
em comparação a 2024. Os bairros mais afetados foram Icuí-Guajará e Cidade Nova
(em Ananindeua), além do Guamá, Marco e Telégrafo (em Belém).
Entre os agentes de segurança,
houve redução no número de mortes (de 23 em 2024 para 13 em 2025), mas os casos
de policiais civis baleados triplicaram, subindo de um para três.
Dados de junho reforçam
tendências
Somente no mês de junho, foram
registrados 37 tiroteios, com 34 pessoas baleadas — 28 delas mortas. Embora o
número total de confrontos tenha caído 5% em relação a junho de 2024, a
letalidade subiu. Ananindeua apresentou os dados mais preocupantes: os tiroteios
passaram de cinco para 13 e as mortes triplicaram, de quatro para 12.
O Instituto alerta que, embora o recuo no número de tiroteios possa indicar uma leve melhora na frequência dos confrontos, os dados revelam uma intensificação da violência letal, sobretudo em operações policiais e em territórios vulneráveis, como comunidades quilombolas.