Críticas, controvérsias e poucos resultados marcam começo da administração Igor Normando em Belém

Promessas de campanha do candidato do MDB despencam como árvores em Belém, enquanto os gastos públicos sobem.

Por Olavo Dutra

23/02/2025, 08:10
Críticas, controvérsias e poucos resultados marcam começo da administração Igor Normando em Belém
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ma mangueira caiu após uma forte chuva na avenida Governador José Malcher, bairro de Nazaré. A árvore desabou por volta das 20h no perímetro entre as avenidas 14 de Março e Generalíssimo Deodoro, interditando a via e perturbando o tráfego. Segundo relato de trabalhadores que estavam no local, um galho da mangueira havia caído horas antes.

Um dos destaques da nova gestão é a criação de cargos para acomodar adversários políticos e fracassados nas urnas/Fotos: Divulgação.
“Quando chove é preciso ter cuidado”, disse um trabalhador que ajudava na remoção dos destroços da árvore centenária. Ensopado pela chuva, ele conclui: “Agora, esse negócio de árvore cair virou problema do menino”.

O “menino” a que ele se refere é Igor Normando, eleito prefeito pelo MDB em 2024 na esteira de uma campanha milionária comandada pelo governador Helder Barbalho, que o tirou da última posição para a primeira em apenas 15 dias e enterrou as chances de reeleição de Edmilson Rodrigues, do Psol, o ocupante da cadeira.

Nos primeiros dias de mandato, a administração de Igor Normando à frente da Prefeitura de Belém gerou mais controvérsias e críticas do que resultados. Embora haja um nítido esforço de justificar suas atitudes, a realidade é que a gestão de Normando começou marcada por decisões questionáveis, críticas à falta de experiência de sua equipe e uma visível dependência do governador Helder Barbalho, primo dele e principal cabo eleitoral.

Economia “do engana”

Um dos pontos fortes da campanha de Igor Normando no ano passado era sua crítica às “gastanças” da administração anterior com a máquina pública. Contudo, a tão propagada reforma administrativa, que prometia reduzir custos e tornar a administração mais eficiente, revelou-se um engodo.

Embora Igor Normando tenha anunciado a redução do número de secretarias e a fusão de órgãos municipais, a realidade é que novas secretarias foram criadas, pressionando ainda mais o custeio da administração. A fusão de secretarias, longe de resultar em economia, manteve os custos originais, criando uma ilusão de austeridade, enquanto os gastos públicos continuam a aumentar.

A proposta de reforma administrativa de Igor Normando gerou polêmica antes mesmo da posse. A vereadora Marinor Brito, do Psol, criticou o projeto, acusando o prefeito de extinguir e fundir órgãos municipais o que, segundo ela, prejudicaria servidores e programas essenciais. A fusão de secretarias e fundações, como a Secretaria de Habitação (Sehab) e a Companhia de Desenvolvimento Metropolitano (Codem) foi um dos pontos mais criticados.

A anunciada “redução de 600 cargos comissionados”, embora vista como uma medida de economia à primeira vista, também é alvo de críticas. Alguns argumentam que a medida pode prejudicar a eficiência da administração pública e afetar negativamente os serviços prestados à população. Outros dizem que os temporários foram apenas remanejados.

Também gerou controvérsia a decisão de extinguir a Fundação Escola Bosque, a Funbosque. Embora Normando tenha assegurado que a Escola Bosque continuará e terá suas ações ampliadas, a medida é vista pelo sindicato dos trabalhadores em educação e por lideranças como um retrocesso na educação ambiental e na preservação da Amazônia.  “É tragicômico que isso ocorra justamente na capital da COP30”, ironiza uma liderança do Sintepp.

Adversários no comando?

Na contramão do prometido enxugamento da máquina e da nomeação de um “secretariado técnico”, como prometeu o prefeito em entrevista no “Bom Dia Pará”, vários órgãos foram criados sem estrutura e muitos deles abrigam personagens no mínimo polêmicos.

Uma das novas secretarias criadas é a de Ciência e Tecnologia, entregue a Lélio Costa, que exerceu cargos de relevância na administração passada, dentre elas a presidência da Codem e a Secretaria de Urbanismo. Lélio foi um dos coordenadores da campanha de Edmilson, que chamava o atual prefeito de “marionete” e classificava o governador como “nepotista”.

Na esteira dessa indicação, o prefeito nomeou como titular da recém-criada Secretaria Executiva de Políticas Públicas e Bem Estar Social a influencer Bruna Lorrane. Habitué de campanhas eleitorais, Bruna Lorrane já foi candidata a vereadora e a deputada federal, fez parte da administração do ex-prefeito de Belém Zenaldo Coutinho, trabalhou nas campanhas do deputado Thiago Araújo, e, nas últimas eleições, migrou para Ananindeua, onde foi acolhida pelo prefeito Daniel Santos.

Outra nomeação inesperada foi a de Juliana Fonteles, crítica mordaz do governador Helder Barbalho e do ex-titular da Seap Jarbas Vasconcelos. Juliana Fonteles protagonizou ação por improbidade contra o Estado, em 2019, apontando que havia tortura, maus-tratos e abuso de autoridade nas unidades penitenciárias sob a administração Helder. Certamente, isso caiu no esquecimento. Fonteles assumiu uma diretoria na Secretaria de Trabalho e Renda da Prefeitura de Belém.

Papo Reto

·Veja quem votou contra e a favor da tese da nulidade das investigações que levaram à condenação do ex-deputado Luiz Afonso Sefer defendida pelo desembargador Alex Centeno (foto) no Pleno do TJE.

·A favor: desembargadores Alex Centeno, Mairton Carneiro, Célia Regina Pinheiro, José Antônio Cavalcante, Amílcar Guimarães, Margui Bittencourt, Pedro Sotero, Luana Santalices e Torquato Alencar.

·Contra: acompanharam o relator Roberto Moura, presidente da Corte, os desembargadores José Maria do Rosário, Ricardo Nunes, Luzia Nadja, Luiz Gonzaga Neto e Maria Elvina Gemaque. Alguns desembargadores estão em gozo de férias e outros não compareceram à sessão.

·Duas comissões da OAB perderam a chance de se posicionar no caso da decisão do Pleno do Tribunal de Justiça do Pará, ambas relacionadas à defesa da mulher e da criança. Tudo como Dante no Casarão.

·De um atento leitor da coluna: “Que postura a do desembargador Alex Centeno, debutante eleito pela força do governador: é parente por afinidade do governador e do prefeito de Belém; amigo do procurador-geral do Estado, Ricardo Sefer, funcionário de Helder, e do deputado estadual Gustavo Sefer, apoiador do governador e sobrinhos do acusado.

·Quanto ao acusado, controla duas OS que gerenciam a maioria dos hospitais públicos do Pará com um serviço péssimo e devolvendo até 40% do repasse mensal... deixa pra lá”. Ufa! Livre pensar é só pensar.

·Luiz Afonso Sefer e o agora treinador Cuca têm em comum a acusação de abuso de menores. Cuca ganhou até a caducidade da pena.

·Os ex-jogadores Robinho e Daniel Alves, que se envolveram com mulheres adultas em boates da Itália e Espanha, continuam presos. 

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