Ricardo Gluck Paul avalia que futebol brasileiro já bateu no iceberg: “Ou tocamos violino e vemos tudo afundar ou nos mobilizamos para nos salvar”.
té hoje, tudo o que se presenciou de fair play no futebol brasileiro foram devoluções de posse de bola pela lateral do campo, mas este ano, um novo conceito para o termo chega para sacudir os clubes e, logo, logo se tornará público para tentar salvar muitos deles e conter outros.
Trata-se do “Fair play financeiro”, projeto que, na Confederação Brasileira de Futebol, a CBF, é comandado pelo paraense Ricardo Gluck Paul, um dos vice-presidentes da entidade e atual presidente da Federação Paraense de Futebol, a FPF. O grupo para discutir o assunto foi criado por determinação do presidente da CBF, Samir Xaud, em portaria assinada no dia 9 de junho.
No Brasil, o nome técnico para o fair play é Regulamento do Sistema de Sustentabilidade Financeira - SSF. A comissão terá 90 dias para apresentar um relatório com as propostas de regulamentação. Na Espanha, o sistema é chamado de Limite de Custo de Plantel Esportivo - LCPD; e, na Inglaterra, de Rentabilidade e Sustentabilidade - P&S. Ricardo Gluck Paul reitera que a ideia é a mesma no Brasil, mas, por aqui, a intenção é construir um modelo próprio.
“Importante entender o seguinte: não vai ser algo que a gente vai entubar - nos clubes - ʽolha, nosso modelo é o alemãoʼ. Não é isso. Precisamos compreender o momento do futebol brasileiro. Primeiro passo é compreender, diagnosticar, organizar conceitos e aí sim, partir para uma discussão do modelo”, concluiu
Para alertar à realidade crítica que vivem muitos dos clubes brasileiros em todas as divisões do futebol, Ricardo Gluck Paul recorre a uma analogia interessante, mas que pode ter um final diferente do longa estrelado por DiCaprio. Para o dirigente, o futebol brasileiro pode ser comparado ao “Titanic”, gigante dos mares que afundou em 1912.
“Em 2019, estávamos enxergando o iceberg, ou seja, já existia naquela época uma visão de futuro de que, do jeito como as coisas estavam indo, estávamos caminhando para tempos sombrios. Nós víamos o mundo implementando ações importantes para evitar esse caos e nada foi implementado no Brasil”, afirma.
O endividamento dos clubes da Série A do Campeonato Brasileiro em 31 de dezembro de 2019 era de R$ 5,7 bilhões, segundo a pesquisa “Valor das Marcas”, da BDO. Já o “Relatório Convocados”, estudo da Galápagos Capital e da Outfield, apontou que esse dado passou de R$ 14 bilhões entre times da elite brasileira no ano de 2024 - um alarmante aumento percentual de 145%.
“Naquela época, poderíamos ter desviado do iceberg. Qual a diferença para 2025? Nos chocamos com o iceberg. O cenário que temos hoje, sobretudo dos últimos quatro anos, é cenário de extremo endividamento dos clubes e mercado extremamente inflacionado. É um cenário terrível, que representa bem o choque do navio com o iceberg”, analisa.
Ricardo Gluck Paul tem trabalhado assiduamente para cumprir os prazos estabelecidos pela CBF e conta que durante sua viagem aos Estados Unidos, na Copa do Mundo de Clubes, antecipou encontros com dirigentes brasileiros e representantes da Fifa e da Conmebol. As discussões também incluem a Câmara Nacional de Resolução de Disputas, órgão da CBF que regula conflitos entre clubes, jogadores e agentes.
O levantamento realizado pela CBF mostra que 19 dos 20 clubes da Série A aderiram ao projeto. Apenas o Mirassol optou por não participar. A maioria dos clubes da Série B e oito federações estaduais também aderiram à iniciativa - inclusive os paraenses Remo e Paysandu.
Os dois clubes locais, no entanto, seguem calados sobre o que têm feito para se adaptar à realidade proposta pelo novo modelo de gerenciamento financeiro ou ideias para contribuir com o projeto que está em desenvolvimento. Especula-se, inclusive, que a folha atual do Remo está na casa dos R$ 4 a R$ 5 milhões, o que estaria totalmente fora dos padrões estabelecidos pelas novas regras do SSF, dada a receita do clube.
Ocorre que os dados relacionados à folha do Remo são extraoficiais. A única vez em que foi questionado sobre o assunto, durante entrevista concedida ao repórter Paulo Caxiado, da Rádio Clube do Pará, o executivo de futebol do clube, Marcos Braz, alegou que “este é um assunto interno, com dados que o clube prefere manter apenas entre os dirigentes”.
Da mesma forma, somente as especulações remetem a uma ideia da folha do Paysandu para a temporada de 2025, que estaria, de acordo com sites de notícias locais, em torno de R$ 3 milhões. Essas são, assim como no caso do Remo, informações que precisam ser remetidas à CBF tão logo o Regulamento do Sistema de Sustentabilidade Financeira seja implementado. A partir daí, nasce o diagnóstico.
Em uma coisa, no entanto, a metodologia brasileira será igual às demais já aplicadas no mundo do fair play financeiro: as sanções. Até porque não há, na visão da CBF, outra forma de controlar o "endividamento galopante" dos times do País se não for por meio de punições e consequências de futuros descumprimentos das novas regras.
Ainda assim, Ricardo afirma que “o documento final levará em conta as visões, dores, perspectivas e experiências dos participantes” com o objetivo de não ser injusto com ninguém. O único fato diagnosticado até o momento feito pelo Grupo de Trabalho é que há um acentuado desequilíbrio financeiro generalizado.
Aliás, não gastar mais do que se arrecada é, talvez, o ponto mais crucial do projeto. Nas últimas três janelas de transferências, o futebol brasileiro registrou gastos superiores a R$ 1 bilhão em contratações. Em 2025, o Palmeiras e o Botafogo lideram a tabela dos que mais investiram, com R$ 232,76 milhões e R$ 179,16 milhões, respectivamente.
O clube alviverde teve, em 2024, receita de mais de R$ 1,2 bilhão; dessa maneira, o gasto com contratações em janeiro de 2025 corresponde a cerca de 19% do faturamento. O alvinegro carioca, por sua vez, prevê cerca de R$ 700 milhões de receita; assim, os custos com transferências correspondem a 25%. Ambos estão fora da curva na atual realidade brasileira.
O projeto final do SSF será lançado no dia 11 de agosto. Em seguida, passa a valer o prazo de 90 dias para o Grupo de Trabalho entregar o modelo à presidência da CBF. O objetivo é traçar um fair play financeiro dentro da realidade das equipes brasileiras, com as características do País, mas inspirado em erros e acertos de medidas aplicadas em ligas internacionais.
Ao que tudo indica, o ano de 2025 será o último do esporte com a economia que se conhece no momento. E o Pará, ao menos nas expectativas do presidente da FPF, tem muito a ganhar com isso. “De verdade: é um grande momento para o Pará, pois temos um paraense liderando a principal pauta do futebol brasileiro. É preciso fazer bom uso disso. Em todos os aspectos”, encerra.
Veja a portaria de criação do Grupo de Trabalho da CBF
Jornalista, natural de Belterra, oeste do Pará, com 48 anos de profissão e passagens pelos jornais A Província do Pará, Diário do Pará e O Liberal.
Comentários
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