Contas no vermelho: Belém está entre as três piores capitais do País, diz Tesouro Nacional

Levantamento aponta que mais de 3,2 mil prefeituras tiveram piora nas contas públicas em 2023, na comparação com 2019; total do rombo nacional soma cerca de R$ 12,5 bilhões.

24/08/2024, 08:00
Contas no vermelho: Belém está entre as três piores capitais do País, diz Tesouro Nacional
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ditado popular sentencia: “Se conselho fosse bom, ninguém dava, vendia”. Por esse viés, os candidatos à eleição deste ano deveriam ter mais cuidado ao se alvoroçarem em disputar o cargo de prefeito. Estudo recente do Tesouro Nacional aponta que um total de 5.345 prefeituras brasileiras declararam dados financeiros preocupantes referentes a 2019 e 2023.


Prefeito de Belém costuma atribuir atropelos à gestão anterior e à pandemia de covid, que afetou todos os setores da administração, em todos os níveis/Fotos: Divulgação.
 

Dessas mais de 5 mil, 3.269 prefeituras apresentaram piora nas contas públicas em 2023 na comparação com 2019 - e Belém, capital do Pará, está entre as piores, ocupando a penúltima colocação entre as capitais. Ou seja, quem se eleger na “Cidade das Mangueiras” deve herdar uma prefeitura muito, muito endividada; senão quebrada, no vermelho, como se diz.

 

O Brasil contava 991 prefeituras com as contas no vermelho no primeiro semestre de 2024, ano do último período com apuração disponível. Os rombos somavam R$ 12,5 bilhões, com destaque para o resultado negativo de São Paulo (- R$ 2,3 bilhões). Um total de 3.582 municípios estava com as contas no azul em 2019, nos quais os superávits somavam R$ 41,3 bilhões.

 

Os dados foram levantados a partir do Sistema de Informações Contábeis e Fiscais do Setor Público Brasileiro (Siconfi) e os números são declarados pelas administrações municipais ao Tesouro Nacional a cada dois meses.

 

O estudo foi feito baseado em dados de 2019, último ano sem os efeitos da pandemia de covid 19, antes das eleições de 2020, e 2023, penúltimo ano dos atuais prefeitos. Dos municípios que pioraram, 1.967 que estavam no azul antes da pandemia, fecharam 2023 no vermelho. Outros 830 tiveram queda no superávit e 472, aumento no déficit.

 

Da água para o vinho

 

Segundo o Tesouro Nacional, Belém tinha em 2019 um déficit de menos R$ 75.124.319,00, quando o prefeito era Zenaldo Coutinho, do PSDB, e no final de 2023 é de menos R$ 518.788.257,00, na gestão de Edmilson Rodrigues, do Psol.

 

No ranking do Tesouro Nacional, Belém está na 24ª posição, à frente apenas do Rio de Janeiro e de São Paulo, que lidera a lista de maiores rombos - R$ 7,9 bilhões - em 2023, sendo que a essa cidade, praticamente, reverteu o superávit de R$ 9,2 bilhões observado em 2019.

 

Evoluíram a deficitárias

 

Outras sete capitais, além de São Paulo, também tinham as contas no azul em 2019, mas registraram déficits no ano passado: Curitiba (PR), Rio Branco (AC), Porto Velho (RO), Aracajú (SE), Porto Alegre (RS), Macapá (AP) e Rio de Janeiro (RJ).

 

Entre todas as capitais de Estados, a que está em melhor situação é Belo Horizonte, Minas Gerais, mas, mesmo assim, o superávit, que era de R$ 1.221.700 bilhão em 2019, caiu para R$ 622 milhões em 2023, ou seja, quase a metade.

 

O estudo constata que as prefeituras que melhoraram são 2.076. Foram consideradas melhorias de aumentos de superávit em 1.194 cidades, reversões de rombo em 676 e retrações nos déficits em outras 206.

 

Das onze capitais que apresentaram melhora nas contas públicas, três saíram do déficit e foram ao superávit: Natal (RN), Campo Grande (MT) e Florianópolis (SC). Brasília não é considerada para o levantamento, porque declara os dados junto aos Estados, e não com as cidades.

 

Quem te viu, Belém?

 

No final de 2017, primeiro ano do segundo mandato de Zenaldo Coutinho na prefeitura, uma informação direto de Brasília deixou a gestão aliviada: desde 2013, depois de oitos anos de gestão de Duciomar Costa, Zenaldo e equipe tentavam colocar Belém, financeiramente, nos eixos, mas tudo era muito difícil e Belém estava no vermelho.

 

As mais de 5 mil prefeituras de municípios brasileiros são auditadas, ano a ano, pelo Sistema de Informações sobre Requisitos Fiscais, de caráter meramente informativo e facultativo, que espelha registros de informações que estiverem disponíveis nos cadastros de adimplência ou sistemas de informações financeiras, contábeis e fiscais geridos pelo governo federal, por meio da Secretaria do Tesouro Nacional.

 

Pendências no sistema

 

Atualmente, segundo a Secretaria do Tesouro Nacional, cerca de 61,2% dos municípios brasileiros têm pendências no sistema. Estas pendências podem impedir os municípios de receberem transferências voluntárias do governo federal e de contratar operações de crédito. Entre os especialistas em economia, eles costumam dizer que o CAUC “é o Serasa das prefeituras brasileiras”.

 

E era assim que Belém estava no início de 2013: no vermelho e sem conseguir contratar nada, com nenhuma instituição bancária. Mas, no final de 2017, depois de cinco anos de muito “apertar o cinto”, Belém saiu da “lista vermelha” e a notícia veio de Brasília.

 

À época, em dezembro de 2017, Zenaldo Coutinho estava de férias e fora do Brasil. Quem foi a Brasília assinar os documentos com a Secretaria do Tesouro Nacional foi o vice-prefeito - 2017 a 2020, Orlando Reis, do PSB, e Belém passou a ser “a menina dos olhos dos bancos”. Quase que imediatamente, teve às suas portas instituições bancárias como BID, Banco do Brasil, Caixa Econômica e outros em busca de fazer negócios com Belém.

 

Equilíbrio para nada

 

O esforço, naquela época, em manter as contas em equilíbrio apontou à regularização da situação da Prefeitura de Belém no CAUC. A regularização junto à Secretaria do Tesouro Nacional, em 2017, atribuiu ao município de Belém o conceito “Rate B” e depois, em 2018, o conceito passou a ser “Rate B+”.

 

De 2018 ao início de 2020, Belém conseguiu respirar economicamente e fazer alguns negócios, mas veio a pandemia de covid 19 - e o resto é história que todos viveram e o município voltou a ficar muito endividado, como até hoje. O prefeito de Belém que o diga.  

 

Papo Reto

 

·  A presidente do Banpará, Ruth Mello (foto), arranjou um problema - e não foi por falta de aviso. O MP abriu procedimento que prevê apurar possíveis prejuízos à coletividade por conta da paralisação dos serviços do banco entre os dias 12 e 15 deste mês.

 

·  Estaria a exuberância da florada dos ipês - jamais vista com tamanha intensidade em Belém - relacionada à diminuição da umidade relativa do ar, fruto, por sua vez, do rigor climático que de uns tempos para cá tem afetado a Amazônia?

 

·  Aliás, por falar em estiagem, rios da Amazônia registram este ano níveis abaixo da média histórica e algumas comunidades tradicionais já enfrentam desafios agravados pelo desabastecimento de alimentos e água potável.

 

· O Ministério da Saúde recomendou intensificação da vigilância de casos de transmissão vertical da febre do Oropouche, cujo vírus é transmitido da mãe para o bebê durante a gestação ou no parto.

 

· Pernambuco e outros Estados, por exemplo, já criaram comitê para enfrentamento e prevenção à doença, mas, no Pará, nem se fala no tema.

 

· Está "no forno" e pronta para testes em humanos uma vacina brasileira contra a Mpox - desenvolvida por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais. Os primeiros resultados iniciais, em laboratório, são muito animadores.

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