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Crise no Rio

Transferência de chefes do Comando Vermelho para segurança máxima terá rodízio e dispersão

Cúpula da facção será espalhadas por unidades de segurança máxima do governo federal em Brasília, Porto Velho (RO), Mossoró (RN), Campo Grande (MS) e Catanduvas (PR)

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  • 31/10/2025, 14:45
Transferência de chefes do Comando Vermelho para segurança máxima terá rodízio e dispersão

Rio de Janeiro, RJ - O Ministério da Justiça já tem pronta a estratégia para a transferência dos dez chefões do Comando Vermelho (CV) que, segundo a polícia do Rio, ordenaram os bloqueios e barricadas pela cidade em represália à megaoperação executada na terça-feira (28) nos complexos do Alemãoe da Penha, a partir do presídio de Bangu 3.


As transferências foram solicitadas pelo governo do Rio à Vara de Execuções Penais, vinculada ao Tribunal de Justiça do Estado, na própria terça, e ainda não foram liberadas. Mas o governo federal já decidiu espalhar os dez integrantes da “comissão”, a cúpula da facção, pelas cinco unidades de segurança máxima do governo federal – Brasília, Porto Velho (RO), Mossoró (RN), Campo Grande (MS) e Catanduvas (PR) –, de forma a fazer com que eles fiquem dispersos, atendendo a um pedido das autoridades do Rio.


Como há poucas unidades, porém, será inevitável que dois ou mais presos acabem juntos em uma delas. Por isso, embora sejam penitenciárias de segurança máxima, onde os detentos ficam isolados em celas individuais de 6 metros quadrados, haverá um cuidado extra para que eles não se articulem dentro das cadeias ou a partir delas, como já ficou evidente que vem fazendo no sistema prisional do Rio.


A estratégia determinada pela cúpula do Ministério da Justiça, já adotada em outros casos que envolvem líderes de facção, é fazer um rodízio, com a troca dos presos de unidade em períodos determinados conforme informações de inteligência.


“A ideia é quebrar a cadeia de comando da organização criminosa e evitar que os presos criem vínculos no entorno dos presídios”, diz uma fonte a par das discussões ouvida em caráter reservado, já que o assunto é considerado “reservadíssimo” pela cúpula da Justiça. 


O esquema de rodízio já foi adotado em 2024, por exemplo, quando chefes do Comando Vermelho e de outras facções criminosas acabaram transferidos de presídios federais em uma operação cercada de sigilo que reuniu quase cem policiais penais e envolveu três penitenciárias. 


O Rio tem 58 presos no sistema federal, mas isso não impediu o CV de ampliar seu domínio. Entre eles estão Fernandinho Beira–Mar, primeiro detento do sistema penal federal, que "inaugurou" a unidade de Catanduvas em 2006, e Marcinho VP, que está em penitenciárias de segurança máxima desde 2007. Os dois foram transferidos de unidades no rodízio do ano passado.


Dos dez presos que estão em Bangu quatro deles já estiveram em estabelecimentos de segurança máxima, mas foram liberados por ordens judiciais. Na foto exclusiva publicada pelo Globo, eles aparecem no corredor de Bangu 3 conversando no corredor, observados por policiais penais, enquanto a operação se desenrolava nos complexos do Alemão e da Penha. 


De volta ao Rio


My Thor, por exemplo, passou quase 15 anos em Catanduvas, mas voltou em 2021. Em 2023, a Vara de Execuções Penais (VEP) determinou seu retorno ao sistema federal, mas a decisão foi suspensa por um juiz de segunda instância.


Em agosto do ano passado, uma operação da PF feita dentro da cadeia constatou que ele não só continuava comandando o tráfico no Rio e em São Paulo, como mantinha na cela dez celulares. Ainda assim, My Thor continuou onde estava. 


Outro personagem é Naldinho, homem de confiança de Fernandinho Beira-Mar. Em maio, o repórter Rafael Soares revelou que foi ele quem escreveu o “salve” determinando uma trégua no crime durante a reunião do G20. No texto, Naldinho explica que “um representante das autoridades do Rio procurou o irmão que é sintonia e pediu para segurarmos sete dias sem guerras".


E completa: “Se veio no diálogo, eles demonstraram um respeito por nós”. O Ministério Público e a PF tentam desde o ano passado transferi-lo para uma prisão federal, mas os pedidos têm sido negados pela VEP, que alega não ver urgência e ou ameaça à ordem pública em sua permanência em Bangu.


Ainda está foragido o principal alvo, Edgar Alves de Andrade, o Doca, responsável pela expansão do Comando Vermelho, que estava prestes a concluir a tomada das Zonas Oeste e Sudoeste da cidade. Há um prêmio de 100 mil reais para quem fornecer informações sobre a captura dele.


O que dizem as secretarias


Procurada pelo blog, a Secretaria de Administração Penitenciária do governo do Rio informou que os presos foram colocados “em isolamento na Penitenciária Laércio da Costa Pelegrino (Bangu 1) até que os processos para a transferência solicitada pelo governador Cláudio Castro, do PL estejam concluídos. Os trâmites estão em andamento entre o Estado e o Tribunal de Justiça”.


Já a Secretaria Nacional de Política Penitenciária (Senappen), vinculada ao Ministério da Justiça, alegou que a transferência de presos de alta periculosidade “aguarda autorização judicial, e a alocação dos custodiados nas unidades é realizada conforme análise técnica e de inteligência da Polícia Penal Federal em tempo oportuno”. 


Confira abaixo a íntegra da nota da Senappe:


A Secretaria Nacional de Políticas Penais (SENAPPEN), do Ministério da Justiça e Segurança Pública, informa que não procede a informação sobre suposto rodízio ou dispersão de custodiados que serão transferidos do Rio de Janeiropara penitenciárias federais.


A transferência de presos de alta periculosidade aguarda autorização judicial, e a alocação dos custodiados nas unidades é realizada conforme análise técnica e de inteligência da Polícia Penal Federal em tempo oportuno. Por razões de segurança, não são informados os locais de custódia até a conclusão das escoltas.


Foto: Coluna Malu Gaspar/O Globo

(Com O Globo)

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Olavo Dutra

Jornalista, natural de Belterra, oeste do Pará, com 48 anos de profissão e passagens pelos jornais A Província do Pará, Diário do Pará e O Liberal.