Com metas atrasadas e hospedagem cara, COP começa sob a desconfiança global COP30 em Belém - avanços, paradoxos e limites da chamada diplomacia climática Contrato suspeito de R$ 480 mi favorece a alta de preços na conferência em Belém
Começo nublado

Com metas atrasadas e hospedagem cara, COP começa sob a desconfiança global

Conferência do clima abre nesta segunda-feira em meio a incertezas diplomáticas, promessas vagas e improviso logístico digno de república tropical.

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  • Da Redação | Coluna
  • 09/11/2025, 16:00
Com metas atrasadas e hospedagem cara, COP começa sob a desconfiança global
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omeça nesta segunda-feira, 10, a 30ª Conferência da ONU sobre Mudança Climática, em Belém. O evento que prometia selar compromissos de futuro começa, ironicamente, em clima de incerteza.

Dos 195 signatários do Acordo de Paris, apenas 79 entregaram suas novas metas climáticas/Fotos: Divulgação.
Dos 195 signatários do Acordo de Paris, apenas 79 entregaram suas novas metas climáticas - as chamadas NDCs. Juntos, representam 64% das emissões globais, segundo a plataforma Climate Watch. O resto do mundo, incluindo a Índia, segue em silêncio. A União Europeia, que costuma dar o tom, protocolou sua meta na última hora.

Jogo das promessas

As NDCs deveriam guiar políticas de combate à crise climática e ser revisadas a cada cinco anos, mas poucos governos respeitaram o prazo da ONU. Resultado: o relatório-síntese da UNFCCC foi inconclusivo. Estimativas paralelas indicam queda de 10% nas emissões até 2035 - quando o ideal seria 60% para manter o aquecimento abaixo de 1,5°C. “Fechar essa vergonhosa lacuna é fundamental”, diz Claudio Angelo, do Observatório do Clima.

O problema é que ninguém quer encarar o óbvio: o fim dos combustíveis fósseis. O tema sumiu da pauta desde Dubai, quando as petroleiras conseguiram “esfriar” a transição.

Metáfora perfeita

Belém foi pintada como símbolo da Amazônia sustentável, mas virou exemplo de capitalismo predatório. Hospedagem inflacionada, contratos nebulosos e delegações desistindo de vir por falta de verba. O quórum mínimo - 132 países - só foi atingido no apagar das luzes. O governo brasileiro precisou apelar à ONU e a bancos de desenvolvimento para ajudar na conta. De última hora, preços dos hotéis despencaram 60%.

Até sexta-feira, 160 países haviam confirmado presença; 27, ainda sem teto. A COP das incertezas ganhou também ares de feira de hospedagem.

 A meta miragem

Garantida a presença mínima, resta discutir o que fazer. A principal tarefa será definir indicadores da chamada Meta Global de Adaptação - um esforço para medir o quanto os países se preparam para o inevitável.

O número de critérios caiu de 5 mil para 100, mas o debate continua emperrado: falta dinheiro, sobra discurso. O Pnuma estima um déficit anual de até US$ 339 bilhões em financiamento climático. “Adaptar-se não é desistir, é insistir em bem viver”, resume Natalie Unterstell, do Instituto Talanoa. Falta convencer quem paga a conta.

Entre a fé e o fracasso

À sombra dos conflitos e da desconfiança global, a COP30 tenta provar que o sistema multilateral ainda serve para alguma coisa. Os ricos empurram a fatura para China e Índia; os pobres, cansados, cobram justiça climática.

O governo brasileiro, anfitrião orgulhoso, aposta na boa vontade internacional e em acordos voluntários - que, por definição, ninguém é obrigado a cumprir. Se a COP de Belém não aquecer o planeta, ao menos promete ferver os bastidores.

Papo Reto

O tomógrafo entregue recentemente pelo governador Helder Barbalho (foto) no Hospital Oncológico Infantil ainda não está em funcionamento - a previsão é para janeiro. 

•Enquanto isso, as crianças seguem realizando exames no Hospital Porto Dias e enfrentam longas esperas para sedação, necessária para o procedimento. 

Nos leitos, pacientes recorrem até a guarda-chuva para se proteger das goteiras. Essa é a saúde por todo o Pará. 

•O bispo emérito do Xingu, Dom Erwin Krautler, comemora seus 80 anos, 54 deles no Pará, lançando seu novo livro "A Igreja Profética e a Amazônia".

Dom Erwin ocupou cargos importantes na estrutura da Igreja Católica e seguiu os passos de tio Dom Eurico Krautler, que o antecedeu, na Prelazia do Xingu.

•O lançamento do livro ocorre hoje, a parir das 19h30, na sede da CNBB, na Barão do Triunfo.

Belém recebe até o dia a Mostra de Cinema Pachamama, que integra as ações culturais da COP30. 

•A programação acontece no Espaço Chico Mendes & Fundação Banco do Brasil e vai exibir os filmes “O Último Azul” e “Thiago & Ísis e os Biomas do Brasil”.

Paralelamente, a 10ª Mostra de Cinema da Amazônia, em parceria com o Observatório do Clima, apresenta o longa “A Queda do Céu”, de Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha. 

•Já o documentário “Rua do Pescador nº 6”, de Bárbara Paz, terá exibição especial seguida de debate com realizadores e autoridades.

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Olavo Dutra

Jornalista, natural de Belterra, oeste do Pará, com 48 anos de profissão e passagens pelos jornais A Província do Pará, Diário do Pará e O Liberal.