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Além do ambiente

COP30 em Belém - avanços, paradoxos e limites da chamada diplomacia climática

Um balanço entre legados tangíveis, desafios persistentes e a complexa geopolítica global.

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  • Da Redação | Coluna Olavo Dutra
  • 09/11/2025, 11:00
COP30 em Belém - avanços, paradoxos e limites da chamada diplomacia climática
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realização da COP30 em Belém não é apenas mais uma conferência climática -, mas um marco histórico para a cidade e para a Amazônia. Com investimentos maciços, visibilidade internacional e transformações urbanas aceleradas, o evento deixou marcas profundas, mas também escancarou contradições estruturais e limites políticos que transcendem o âmbito ambiental.

 

Capital do Pará contabiliza legados, mas desafios históricos devem persistir depois da Conferência da ONU/Fotos: Agência Pará.

O legado e os desafios

Desde a indicação da cidade como sede do evento pelo presidente Lula, Belém viveu uma transformação sem precedentes. Dados oficiais mostram que o Pará recebeu cerca de 1,5 milhão de visitantes este ano - um aumento de 20% em relação ao ano anterior -, enquanto o aeroporto internacional da capital registrou crescimento de 90% nos voos internacionais entre janeiro e setembro. 

Foram abertas 84.894 novas empresas somente até outubro, com destaque para microempreendedores individuais, e o governo estadual estima que a COP30 responda por um terço do crescimento de 3% do PIB este ano.

Na esfera urbana, as mudanças são visíveis: o Parque da Cidade - construído em tempo recorde no antigo aeroporto do Aeroclube -, o Complexo Porto Futuro, com museus e equipamentos culturais, modernizações no sistema de transporte com o BRT Metropolitano, novos viadutos e intervenções em mais de 160 vias. Belém ganhou infraestrutura que, em condições normais, levaria anos ou mesmo décadas para ser implementada.

No entanto, os desafios históricos persistem. Ainda que tenham sido realizadas obras pontuais de saneamento - como a Estação de Tratamento de Esgoto Una (ETE Una) e intervenções em 13 canais -, cerca de 80% da população ainda não tem acesso a esgoto tratado. Urbanistas alertam para problemas como o desvio de efluentes não tratados para comunidades periféricas, caso da Vila da Barca, durante as obras da Nova Doca. O crescimento turístico e imobiliário também acentuou processos de gentrificação, afastando populações tradicionais de áreas valorizadas.

Ausência e isolamento

A não participação oficial dos Estados Unidos, sob o governo Trump, foi sentida, mas não paralisou a conferência. Pelo contrário; mostrou como a agenda climática segue avançando mesmo sem o engajamento da maior potência global. Enquanto americanos se isolavam, europeus, chineses e até mesmo nações emergentes estão firmando acordos bilaterais com Brasil e países amazônicos, garantindo influência diplomática e acesso a mercados de bioeconomia e créditos de carbono.

Quem mais perdeu com a ausência foi o próprio governo Trump, que abriu mão de participar de debates estratégicos sobre o futuro energético global e reforçou a imagem de um país fechado em seu nacionalismo - justamente quando o mundo discutia cooperação transnacional.

Geopolítica e impasses

A COP30 também evidencia que as negociações climáticas continuam reféns de tensões geopolíticas mais amplas. Rússia, China e Índia mantiveram posturas defensivas em relação a metas ambiciosas de curto prazo, enquanto nações vulneráveis - pequenos estados insulares - pressionaram por compensações financeiras por perdas e danos já irreversíveis.

A guerra comercial entre EUA e China, somada aos conflitos no Leste Europeu e Oriente Médio, ecoou nas salas de negociação, mostrando que a crise climática, por mais urgente que seja, ainda não supera rivalidades nacionais e interesses econômicos imediatos.

A ilusão eleitoral

A imensa visibilidade de Belém, o legado óbvio das obras e a circulação de dinheiro na capital do Pará são essenciais para combater um equívoco recorrente em análises políticas simplistas: a ideia de que o “sucesso” da COP30 garantirá a eleição de Hana Ghassan, candidata do governador Helder Barbalho, ou elevará suas candidaturas apoiadas em 2026. Eventos internacionais geram visibilidade, não votos.

O eleitor paraense - como qualquer outro - vota com base em variáveis múltiplas que vão além da satisfação ou insatisfação com o governo a partir de dados de emprego, saúde, segurança e saneamento. Se os novos hotéis e museus não vierem acompanhados de redução real das desigualdades, universalização do saneamento e geração de empregos de qualidade; se o nepotismo e o favorecimento atávicos de uma só família não se misturarem ao legado da COP30, tudo isso será lembrado como uma vitrine efêmera - não como uma transformação sustentável.

Belém deu um salto, mas não vai resolver seus problemas crônicos. A COP30 amplifica discussões urgentes, mas não supera a fragmentação geopolítica global. E deve mostrar, sobretudo, que o futuro climático do planeta depende menos de conferências isoladas e mais de compromissos permanentes - tanto local quanto globalmente.

Efeito colateral

O evento que antes e durante sua realização agita a vida social e política da cidade deixa para trás uma vítima política involuntária: Igor Normando, o alcaide, que poderia ter surfado na onda da Cúpula do Clima, mas que, ao invés disso, se afoga no rescaldo de sua irrelevância política. Mesmo diante dessa oportunidade, o prefeito mostra apenas que é o primo do governador que chegou até o palácio Antônio Lemos de carona e de lá sairá como entrou.

Além dos desafios locais, a conferência explicita os limites intrínsecos da diplomacia climática no século XXI. A ausência dos Estados Unidos - sob um governo Trump refratário ao multilateralismo e ao debate climático - não paralisou as discussões da Cúpula, mas reforçou a fragmentação geopolítica em torno da agenda verde. Enquanto potências como China e União Europeia avançam em acordos bilaterais, nações em desenvolvimento pressionavam por reparações históricas, e velhas rivalidades geopolíticas contaminaram as negociações. 

 O clima não espera

A reunião dos líderes globais encerrada sexta-feira, deixou claro que, sem superar patriotismos ideológicos de ocasião e os conflitos estratégicos da macroeconomia, mesmo consensos científicos mais urgentes seguirão limitados pela política - e o tempo climático não espera.

Papo Reto

Quem está na COP30 precisa caminhar - e muito. Com várias ruas interditadas, táxis e carros de aplicativo nem chegam perto do Hangar.

•Os que chegam mais próximos são os ônibus elétricos e, ainda assim, o caminho pela rua Protásio Lopes é obrigatório até a Blue Zone.

Andréia Sadi (foto), jornalista da Globo News, foi uma das que usou transporte especial da linha COP30, saindo de Nazaré para o Marco. Um fã a viu no ônibus e fez foto.

•Aviso aos navegantes: sem ônibus em circulação, as corridas de mototáxi sofreram reajuste médio de 200% na periferia da cidade.

Porém, um trágico e infame detalhe dá conta de que, como estão arrecadando mais, já foram avisados de que a "taxa" do crime também será majorada. 

•A Inteligência Artificial é protagonista de uma revolução silenciosa: a da renegociação de dívidas. 

No Brasil, onde o número de inadimplentes ultrapassa 78 milhões de pessoas, segundo o Serasa, a IA está mudando a forma como empresas e consumidores se comunicam.

•Dados do Anuário Cobrança com IA 2025 mostram que a agente virtual Mia - Monest Inteligência Artificial - já conduziu mais de 6 milhões de conversas de negociação e R$ 500 milhões em acordos desde o início de sua operação, em janeiro de 2024.

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Olavo Dutra

Jornalista, natural de Belterra, oeste do Pará, com 48 anos de profissão e passagens pelos jornais A Província do Pará, Diário do Pará e O Liberal.