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Causas e efeitos da desigualdade de renda e distribuição de riqueza no Brasil

Embora tenha avançado na redução da pobreza e desigualdade de renda nas primeiras décadas do século XXI, o Brasil continua sendo um dos países mais desiguais do planeta

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  • José Croelhas | Especial para a COL
  • 12/10/2025, 10:00
Causas e efeitos da desigualdade de renda e distribuição de riqueza no Brasil

O Brasil foi o último país do ocidente a abolir a escravidão (1888), sem qualquer política de integração dos negros à sociedade como cidadãos livres. Isso acabou criando uma abissal divisão social e econômica baseada na raça, que aliás acaba persistindo até hoje. Lá do período colonial, a estrutura fundiária era extremamente concentrada.


A "Lei de Terras" de 1850 beneficiou as elites e dificultou o acesso à terra para a população mais pobre, criando uma barreira histórica à distribuição de riqueza.


Um pouco mais tarde, o processo de industrialização, acelerada no século XX, não foi acompanhada por reformas de base, como a agrária e a educacional. Criou-se, então, uma economia dual: um setor moderno e bem-remunerado convivendo com um vasto setor informal e de baixa produtividade.


Em outro quadrante, a educação básica pública, principalmente para as camadas mais pobres, sempre foi de qualidade questionável, dificultando a mobilidade social, pois os filhos das famílias ricas, com acesso a escolas privadas de qualidade, sempre tiveram vantagens para ingressar nas melhores universidades e ocupar os cargos melhor remunerados.


Assim, apesar de avanços como as cotas, o acesso às universidades públicas de qualidade ainda é majoritariamente de alunos de classes mais elevadas.

A combinação de educação deficiente com a falta de programas massivos de qualificação profissional condenou uma grande parcela da população a empregos de baixo valor agregado e salários reduzidos.


Não à toa, cerca de 40% dos trabalhadores estão na informalidade, sem carteira assinada, o que significa baixos salários, nenhum direito trabalhista (FGTS, férias, 13º salário...) e ausência de previdência social. 


No Brasil, mulheres e negros recebem em média salários significativamente inferiores aos de homens brancos para exercer as mesmas funções, ainda que possuindo a mesma qualificação.


O sistema tributário brasileiro, por sua vez, é profundamente injusto, incidindo pesadamente sobre o consumo (impostos embutidos em produtos e serviços, como ICMS, IPI e PIS/COFINS), o que onera proporcionalmente mais os pobres.  Ao mesmo tempo, a tributação sobre a renda e sobre grandes patrimônios só agora entrou de vez na berlinda. 


Em resumo, os pobres pagam proporcionalmente mais impostos que os ricos. Por décadas, a política de juros altos no Brasil permitiu que uma minoria muito rica, detentora de títulos da dívida pública, acumulassem riqueza de forma passiva, às custas do orçamento público que, assim, deixa de investir em serviços para a população.


O crédito disponível à população de baixa renda é caro e quase sempre consignado, enquanto os muito ricos têm acesso a produtos financeiros sofisticados, que multiplicam seu patrimônio.


O grande dilema brasileiro é que a desigualdade extrema sempre gerou um ciclo vicioso que prejudica o desenvolvimento econômico, a coesão social e a qualidade de vida de todos.


Uma população com baixo poder aquisitivo significa um mercado consumidor limitado, desestimulando investimentos e a produção em massa, travando o ciclo virtuoso do crescimento.


No Brasil, a "loteria do nascimento" determina em grande parte o destino de muitos indivíduos. Quem nasce pobre tem probabilidade muito baixa de ascender economicamente, o que gera desesperança e frustração.


Grupos econômicos poderosos conseguem moldar políticas públicas, leis e orçamentos em seu próprio benefício, em detrimento do interesse coletivo, fenômeno apelidado de "capitalismo de laços" ou "state capture".


A desigualdade no Brasil, portanto, não é um problema isolado, mas a característica central de seu modelo de desenvolvimento histórico. Ela é tanto causa quanto consequência de uma série de mazelas econômicas, sociais e políticas.


Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

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Olavo Dutra

Jornalista, natural de Belterra, oeste do Pará, com 48 anos de profissão e passagens pelos jornais A Província do Pará, Diário do Pará e O Liberal.