Sem noção

Projeto na Câmara de Três Corações pede retirada de homenagens a Pelé na cidade

Vereador apresenta proposta de mudança de nomes de estádio, ginásio e avenida e resume a justificar que, “tantas homenagens jogam o nome da cidade na lama”.

07/02/2025, 19:30
Projeto na Câmara de Três Corações pede retirada de homenagens a Pelé na cidade

São Paulo, SP - Um projeto de lei que está na Câmara Municipal de Três Corações, no sul de Minas Gerais, pede a retirada do nome de Pelé de três locais da cidade onde nasceu. O processo de discussão do projeto foi iniciado nesta quinta-feira, 6, na Comissão de Justiça da Câmara local. As informações são do jornal Folha de São Paulo.


Apresentada pelo vereador Ricardo Ferreira (Avante), conhecido como Ricardinho do Gás, a proposta é que o ginásio municipal, o estádio do Clube Atlético Tricordiano e uma das principais avenidas do município retornem aos nomes que tinham antes de ser homenagens ao Rei do Futebol.


Sem homenagens


Ricardinho quer que o estádio Rei Pelé, do Atlético Tricordiano, onde Dondinho, pai do Rei do Futebol, jogou, volte a se chamar Elias Arbex, nome de velho dirigente do clube; que o ginásio apelidado Pelezão seja novamente chamado de Vilelão, por causa do ex-prefeito e ex-deputado estadual Aílton Parnaíba Vilela; e que a avenida Rei Pelé seja de novo avenida Ricardo Azeredo.


Havia também a ideia de que a praça Pelé voltasse a ser chamada Coronel José Martins. Segundo o artista plástico Fernando Ortiz, pesquisador da trajetória do ex-jogador e conhecido pela luta para que Três Corações abraçasse a história do Rei do Futebol, José Martins tinha quatro fazendas na região e foi dono de 43 escravos.


Foi estudo feito por Ortiz, apresentado na Câmara em 2023, que provocou a alteração de nome da praça, de Coronel José Martins para Pelé. "Argumentei que não era possível a imagem do preto mais famoso do mundo estar em um local com nome de um escravagista", afirmou.


Agora, uma das justificativas dos que defendiam a volta ao nome anterior é que o espaço é tombado e não poderia ter tido nada modificado. Chegou-se, porém, à conclusão de que o tombamento não inclui o nome. Como o local já tem uma estátua de Pelé, o item foi retirado do projeto antes de ir oficialmente à Comissão de Justiça.


A assessoria de Ricardinho confirmou o teor do projeto, mas não retornou os contatos da reportagem do jornal. Segundo sua assessoria, a motivação para a tentativa de mudança é que ter tantas homenagens ao Rei do Futebol significa "jogar a história de Três Corações no lixo”.


Reações


O presidente da Câmara, Wesley Michel Rezende Dardaque (Podemos), afirmou ser contrário ao projeto. Ele é autor da proposta que rebatizou o estádio da cidade como Rei Pelé.


"Ele [Ricardinho] comentou comigo no início do ano que tinha interesse em apresentar esse projeto. Eu disse que não concordava. Não falo pela Câmara, mas, como vereador, vou me posicionar contra", disse.


Outras autoridades da cidade, ouvidas pela reportagem, apresentam argumentos parecidos com o da assessoria de Ricardinho. Apontam, por exemplo, que Elias Arbex, dirigente na época em que Dondinho jogava na cidade, morreu quando buscava uma bola para o Atlético Tricordiano jogar.


Para os defensores do projeto, a ideia é preservar a história de outras pessoas que foram importantes para Três Corações. "Eu acho que essas pessoas não entendem a real dimensão do Pelé", contestou Dardaque.


A reação foi imediata também por parte de cidadãos locais que defendem todas as homenagens ao craque.


Convidado pelo presidente da Câmara a argumentar aos vereadores contra o projeto, Ortiz disse que não pretende fazê-lo. Vai, porém, escrever uma carta explicando os motivos pelos quais considera um escândalo retirar qualquer homenagem a Pelé na cidade.


O artista plástico foi um dos impulsionadores da reforma da casa onde Pelé morou na infância. O local se transformou em atração turística e recebe, segundo a prefeitura, cerca de 300 pessoas por dia.


Foto: AFP

Mais matérias Brasil