O Conselho de Segurança da ONU finalmente conseguiu chegar a um acordo para pedir uma pausa humanitária em Gaza. Nesta quarta-feira, foi um texto proposto por Malta que foca na situação das crianças e acabou obtendo os votos suficientes.
Apesar de pedir a pausa, a resolução não faz um apelo pelo fim de hostilidades, como queria o Brasil. Os russos consideraram o documento "fraco". Imediatamente após a aprovação, o governo de Benjamin Netanyahu deixou claro que não vai cumprir o que o texto pede.
No total, 12 dos 15 países do grupo apoiaram o texto, entre eles o Brasil — os EUA, a Rússia e o Reino Unido optaram pela abstenção.
Para o Ministério das Relações Exteriores de Israel, não há lugar para as medidas propostas enquanto os reféns estiverem sendo mantidos pelo Hamas.
O embaixador de Israel na ONU, Gilad Erdan, disse que a resolução está "desvinculada da realidade". "A estratégia do Hamas é deteriorar deliberadamente a situação humanitária na Faixa de Gaza e aumentar o número de vítimas palestinas para fazer com que a ONU e o Conselho de Segurança detenham Israel. Isso não acontecerá. Israel continuará a agir até que o Hamas seja destruído e os reféns sejam devolvidos", disse;
É lamentável que o Conselho de Segurança continue a ignorar e se recuse a condenar ou mesmo mencionar o massacre realizado.
Além de uma pausa humanitária, o texto pede que acesso seja dado para que ajuda chegue à população civil, principalmente para crianças. Além disso, a resolução pede que os reféns israelenses sob o controle do Hamas sejam liberados.
Pelas regras da ONU, uma resolução do Conselho tem poder vinculante. Não se trata de um voto simbólico — mas Israel, por décadas, vem colecionando violações a decisões do colegiado.
A esperança hoje é que, ao ser aprovada, a resolução coloque pressão sobre Israel e sobre seus aliados para que haja uma mudança no comportamento.
O que diz Israel
Durante a reunião desta quarta-feira, o embaixador de Israel nem sequer esteve presente. Sua delegação apenas disse que Hamas não vai atender ao pedido da resolução de soltar os reféns e lamentou que o Conselho até agora não tenha condenado os massacres do grupo palestino.
Para a delegação, o texto aprovado não faz nada para melhorar a situação da população civil e deixou claro que Israel não tem opção: irá continuar até destruir o Hamas e recuperar os reféns. A guerra, segundo eles, terminaria se o Hamas se entregasse e libertasse os reféns.
O embaixador palestino na ONU, Riyad Mansour, lamentou o comportamento de Israel. "Eles acabam de anunciar que não irão cumprir. O que podemos fazer?", disse. Para o diplomata, o texto deveria ter pedido um cessar fogo, o que não ocorreu. "Israel considera todos os palestinos como terroristas. Eles querem completar o Nakba", disse.
A repercussão diplomática
Para a Suíça, o texto chega "tarde demais" para muitas pessoas que morreram. O governo brasileiro indicou na ONU que a resolução já deveria ter sido aprovada há semanas — não apenas para lidar com a crise, mas também salvar a credibilidade do Conselho.
O Itamaraty alertou que o texto aprovado não atende às necessidades de que um fim às hostilidades seja proposto e voltou a criticar os vetos anteriores em outras resoluções em fala no Conselho hoje.
Para o governo russo, a pausa proposta não é um substituto para uma trégua ou um acordo de cessar-fogo. Moscou acusou os americanos por não permitir que um texto fosse mais ambicioso. "Quem é que vai aplicar a pausa e monitorá-la?", questionou o Kremlin.
Há três semanas, o Brasil havia apresentado uma proposta para o estabelecimento de uma trégua — a resolução brasileira conseguiu 12 dos 15 votos no Conselho, mas foi vetada pelos EUA sob o argumento de que não lidava com o direito a autodefesa de Israel. Outras três propostas tampouco passaram.
Brasil apoiou projeto russo
Antes da votação desta quarta-feira, o embaixador russo na ONU, Vasily Nebenzya, apresentou uma emenda sugerindo a inclusão de um parágrafo que pedia uma "trégua humanitária" e que leve "a fim de hostilidade". O texto era uma referência à resolução já aprovada na Assembleia Geral da ONU, mas que não contou com o apoio dos EUA e Israel.
A proposta russa foi apoiada por cinco países, entre eles o Brasil — nove optaram por abstenção, e os EUA rejeitaram. "Isso quer dizer que vocês são favoráveis à continuação da guerra?", questionou o embaixador russo.
Fonte: UOL
Foto: Reprodução/ONU