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Papel e caneta

Meio ambiente e IA são principais apostas para o tema da redação do Enem 2025

Professores apontam justiça climática e ética digital como assuntos mais prováveis da prova

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  • 13/10/2025, 21:13
Meio ambiente e IA são principais apostas para o tema da redação do Enem 2025

São Paulo, SP - O tema da redação do Enem é uma das maiores preocupações dos estudantes que se preparam para o exame. Tradicionalmente, a prova privilegia assuntos sociais, ligados à cidadania, inclusão e direitos humanos. Diante das muitas possibilidades, candidatos treinam textos sobre temas variados. Mas, nesta reta final, o que priorizar?


Para ajudar nessa preparação, a Folha ouviu professores diversos colégios e cursinhos sobre suas apostas e separou os temas em oito eixos, que serão detalhados nas próximas semanas. Para 2025, duas temáticas estão à frente: meio ambiente e justiça climática; e tecnologia, inteligência artificial e ética digital.


Segundo Sousa Nunes, professor do Colégio Farias Brito, a redação do Enem funciona como um termômetro social. "Ano após ano, ela revela os dilemas mais urgentes do Brasil e exige que o estudante não apenas escreva bem, mas pense criticamente o país e proponha soluções responsáveis", afirma.


O eixo ambiental não é novidade na prova. Em 27 anos, o Enem já abordou temas como preservação da floresta, consumo sustentável e gestão de recursos hídricos. A diferença agora é o contexto.


O Brasil vive um dos momentos mais críticos em décadas, o que reforça a aposta de que o tema volte à prova. Segundo o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), 2024 teve o pior período de queimadas na Amazônia desde 2010, com 278,2 mil focos de incêndio.


Professores também citam a realização da COP30 (Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas), marcada para novembro de 2025, em Belém (PA). Será a primeira vez que o evento ocorre no Brasil e na Amazônia Legal, o que deve colocar o país no centro do debate climático internacional.


Segundo Sidinéia Azevedo, professora de português e redação do Colégio Bernoulli, a questão social deve aparecer de forma integrada. O conceito de racismo ambiental - segundo o qual populações vulneráveis são as mais afetadas por desastres e degradação - é visto como uma abordagem que combina sustentabilidade e justiça social. "Faz sentido trazer o tema desse ponto de vista porque as maiores vítimas dos impactos são grupos em situação de vulnerabilidade", diz


A segunda aposta é o eixo tecnologia e inteligência artificial, que ganhou força com a popularização das ferramentas de IA generativa. Para os educadores, trata-se de um dos debates mais urgentes da atualidade, com implicações éticas, sociais e educacionais.

"Pode-se dizer que este tema é um ‘hit’ do momento. A popularização da IA tem gerado debates intensos, principalmente sobre desemprego, qualificação profissional e ética no uso da tecnologia", afirma André Barbosa, professor de redação do Colégio Oficina do Estudante


O exame pode explorar as dualidades da IA, como o avanço científico e médico versus dilemas éticos, precarização do trabalho, disseminação de desinformação e necessidade de requalificação profissional.


"A prova pode exigir que o aluno discuta o papel do Estado, das escolas e das empresas na condução dessa transição inevitável. Como consequência direta, a educação precisará se reinventar", diz Rafael Galvão, diretor pedagógico da Rede Alfa CEM Bilíngue.


A discussão também envolve a inclusão digital. O acesso desigual a dispositivos e à internet ainda exclui milhões de brasileiros, sobretudo idosos e pessoas de baixa renda.

Nas próximas semanas, a Folha publicará reportagens sobre as principais apostas para o tema da redação do Enem. Além de meio ambiente e inteligência artificial, cada semana trará dois novos eixos indicados por professores ouvidos pelo jornal.


Os temas serão detalhados com dicas de educadores sobre o motivo da escolha, como se preparar, possíveis abordagens e erros a evitar durante o estudo e a realização da redação.


A prática leva à perfeição


O preparo para a redação não se resume a "adivinhar" o tema, mas a estar pronto para qualquer eixo temático. Mais do que decorar fórmulas, o candidato precisa desenvolver repertório cultural atualizado, capacidade de argumentação e sensibilidade social. Por isso, a prática constante é indispensável.


Os professores defendem que o estudante equilibre estrutura e conteúdo para alcançar boas notas. Azevedo usa a metáfora do bolo. "A estrutura é a massa, e o repertório é o recheio. O aluno precisa dominar os dois."


O repertório, segundo ela, deve vir do que o aluno aprendeu ao longo da educação básica, em diferentes disciplinas, e não apenas de temas da moda. "O estudante não deve ‘gourmetizar’ o estudo, escolhendo só o que acredita que vai cair. O Inep sempre surpreende."


Planejar o texto antes de escrever também faz diferença. Esboçar um pequeno projeto - com tese, dois parágrafos de desenvolvimento e uma proposta de intervenção completa - ajuda a evitar furos e garante clareza na exposição das ideias.


Os avaliadores do Enem julgarão o desempenho na redação de acordo com os seguintes critérios:

- Competência 1: Domínio da norma culta escrita.

- Competência 2: Compreensão e desenvolvimento do tema.

- Competência 3: Organização e defesa de argumentos.

- Competência 4: Coesão e coerência na argumentação.

- Competência 5: Proposta respeitando direitos humanos.


A prática semanal de escrita é considerada o melhor treino. Escrever um texto por semana, revisar e comparar produções anteriores permite desenvolver ritmo, vocabulário e precisão.


O objetivo não é alcançar a nota máxima, mas elaborar uma redação coerente, coesa e bem fundamentada, dentro das cinco competências exigidas pelo exame. Em vez de buscar fórmulas ou citações prontas, vale apostar na reflexão própria.


Foto: Divulgação

(Com a Folha)

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Olavo Dutra

Jornalista, natural de Belterra, oeste do Pará, com 48 anos de profissão e passagens pelos jornais A Província do Pará, Diário do Pará e O Liberal.