A Câmara aprovou nesta quinta-feira, 14, o projeto de lei que trata do acordo
feito pelo governo federal com os Estados para compensar perdas com a
arrecadação do ICMS no ano passado. Foram 349 votos a favor, 68 contrários e
duas abstenções no texto-base. A proposta foi encaminhada ao Senado.
O projeto prevê uma antecipação de R$ 10 bilhões dos recursos a Estados e
municípios, seja por repasses diretos do Tesouro ou abatimento de dívidas. O
texto também determina que a União faça um repasse extra de R$ 2,3 bilhões ao
Fundo de Participação dos Municípios (FPM) e outro de R$ 1,6 bilhão para o
Fundo de Participação dos Estados (FPE).
O texto inicial apresentado pelo Executivo apenas regulamentava o acordo feito
entre União e entes federativos, e homologado pelo Supremo Tribunal Federal
(STF), que previa uma compensação em torno de R$ 27 bilhões aos entes entre
2023 e 2025 pelas perdas na arrecadação do ICMS no ano passado - quando o
ex-presidente Jair Bolsonaro patrocinou a redução temporária no imposto
estadual sobre itens como combustíveis, energia elétrica, comunicações, em meio
à corrida eleitoral.
No entanto, em meio à pressão de prefeitos a quase um ano das eleições, os
parlamentares passaram a defender uma saída no próprio projeto para aumentar os
repasses de recursos federais aos municípios já para este ano. O acordo incluído
no relatório foi feito em parceria com o Ministério da Fazenda.
Dos R$ 27 bilhões do acordo judicial entre União e Estados, cerca de R$ 9
bilhões foram compensados por força de decisões judiciais. Dos R$ 18 bilhões
restantes, aproximadamente R$ 15,64 bilhões serão compensados mediante
abatimento dos valores das prestações de dívidas estaduais e R$ 2,57 bilhões
por meio de transferências diretas aos Estados e ao Distrito Federal. Os
municípios têm direito à cota parte constitucional de 25% (que recai sobre os
R$ 18 bilhões) do valor devido a cada Estado.
Para atender os prefeitos, o projeto estabelece que os valores da compensação
das perdas do ICMS previstos para 2024 serão antecipados para este ano por meio
de transferência direta da União, seja via repasse direto ou abatimento de
dívidas - o chamado "encontro de contas". O montante total repassado
será de R$ 10 bilhões.
"A medida atende aos Estados, ao Distrito Federal e, em particular, aos
municípios, que têm sido impactados com quedas na arrecadação e nas
transferências legais em virtude de medidas como a correção da tabela do
Imposto de Renda", diz o texto. A antecipação não altera o cronograma de
compensação previsto para 2025.
O projeto também obriga os Estados a comprovarem a transferência dos 25% dos
municípios. Mesmo que o ente federativo tenha sido beneficiado via abatimento
de dívidas, deverá haver o envio direto de recurso às prefeituras. O relator
também incluiu no projeto uma emenda para obrigar a União a repassar
diretamente a cota-parte dos municípios caso os Estados não o façam em até 30
dias.
Além da antecipação, o texto prevê ainda uma cobertura de perdas reais do FPM
em julho, agosto e setembro deste ano, no valor de R$ 2,3 bilhões. O relatório
também determina que, ao fim de 2023, a União complementará os recursos do
fundo caso haja comprovação da redução real do repasse levando em conta todos
os meses do ano.
No caso do FPE, o valor da recomposição será de R$ 1,6 bilhão para mitigar
perdas de receita dos entes federativos nos meses de julho e agosto deste ano,
após negociação feita hoje pelo relator com líderes partidários da Câmara. O
presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), demonstrou contrariedade com a
inclusão dessa medida, mas Zeca acabou fechando um acordo.
Combustíveis
O relator do projeto, deputado Zeca Dirceu (PR), que também é o líder do PT na
Casa, voltou a negar que haja brecha em seu texto para que os entes federativos
aumentem a alíquota do ICMS cobrada sobre os combustíveis.
"Eu queria esclarecer que se está revogando algumas coisas, no final do
texto, mas em momento algum isso está alterando a tributação de ICMS, a
essencialidade. Jamais, com essa lei, algum Estado vai poder cobrar mais que
18%. Jamais vai poder ser alterada [com o projeto] a forma como a alíquota é
cobrada", declarou Zeca.
Na versão original do projeto, uma brecha permitia que Estados aumentassem a
alíquota. Mas o texto foi modificado pelo relator, após a repercussão negativa
revelada pelo Estadão/Broadcast.
Fonte: Estadão conteúdo
Foto: Agência Senado