Batalha judicial favorece o Solidariedade em Ananindeua, mas cria ambiente para "traições"

Vereador Rui Begot retoma controle do partido no município, nas indica Ed Wilson a vice do prefeito Daniel Santos e embola acordo com senador Zequinha Marinho; e agora, doutor?

06/08/2024 12:00

Desembargador José Maria Teixeira do Rosário derruba decisão do juiz Marcelo Guedes e Solidariedade lança Ed Wilson para vice de Daniel/Fotos: Divulgação-Redes Sociais.


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o primeiro semestre deste ano, o presidente Lula nomeou dois juízes eleitorais da cota do governador Helder Barbalho. A procuradora do Pará, Anete Marques Penna de Carvalho, foi nomeada como premiação por ter desistido de concorrer à vaga do Quinto Constitucional no desembargo, saindo do caminho do advogado Alex Centeno, eleito desembargador. O segundo nomeado, ao lado de Anete, foi Marcelo Guedes. Filho do também advogado Hamilton Guedes, falecido em 2020, Marcelo trabalhou no escritório de Alex Centeno, compondo, em 2014 e 2018, o time de advogados eleitorais da campanha de Helder Barbalho a governador, quando se tornou superintendente do Detran, até posteriormente ser nomeado juiz eleitoral.

 

Em sua primeira atuação no cargo, Marcelo “causou”: de cara, afastou os inimigos políticos do governador no partido Solidariedade, tanto no Diretório de Tucuruí, onde está em jogo a candidatura de Eliane Lima, forte adversária de Alexandre Siqueira, do MDB, quanto no Diretório de Ananindeua, onde manter a dissolução da comissão provisória do Solidariedade torna inelegível seu presidente, vereador Rui Begot, e impede o partido de lançar outros candidatos no município que, assim como Begot, são aliados do prefeito Daniel Santos, do PSB, inimigo político número 1, ao menos nesse momento, do governador.

 

Vale tudo político

 

Desse cenário, uma questão precisaria ser notada, não fosse tão gritante o fato de o governador não fazer questão de disfarçar: na atual composição do MDB no Pará, o combate aos inimigos políticos não é feito somente nas urnas. Elas, aliás, são um detalhe. Tudo que puder ser feito fora do ambiente das urnas, e o que não puder também, será tentado. Para isso, aparelhar o Judiciário a favor de interesses políticos vem a calhar.

 

Na tarde de ontem, último dia para a realização das convenções municipais, Rui Begot ganhou na Justiça o direito de retornar à presidência da comissão municipal do Solidariedade. Chamou sua convenção para a tarde, na Câmara de Ananindeua. Pouco depois, Marcelo Guedes suspendeu a "decisão impugnada"  - Processo 0600174-02.2024.6.14.0072, id 122393529) e determinou à Secretaria Judiciária que restabelecesse o "status quo anterior", ou seja, a exclusão da comissão provisória do Solidariedade de Ananindeua.

 

Correria e recurso 

 

Begot, em sequência, impetrou mandado de segurança no Tribunal de Justiça do Pará contra a decisão de Guedes, respingando ainda no Diretório de Tucuruí, na figura de Euzébio Cabral, o homem de confiança de Alexandre Siqueira, que tomou o barco e figurou no mandado de Begot na condição de "litisconsórcio passivo", situação jurídica de quando há mais de um réu em uma mesma demanda.

 

O recurso de Begot foi atendido pelo desembargador José Maria Teixeira do Rosário, alegando que a decisão de Marcelo Guedes foi tomada ainda na chamada "fase de cognição sumária" do processo e reconhecendo a competência do juiz eleitoral da 72ª. Zona, anulado a cassação do Diretório do Solidariedade em Ananindeua.

 

Quem trai quem, afinal?

 

Depois dessa intensa briga judicial, com a devolução do diretório do partido em Ananindeua, o vereador Rui Begot abriu de imediato a convenção na tarde de segunda-feira, 5, último dia de prazo. Até então, com o partido suspenso na cidade e sem poder candidatar ninguém nem indicar o vice, estava em vigor o acordo feito nos bastidores com o senador Zequinha Marinho, de que a vaga de vice em Ananindeua seria do Podemos e, logo, recairia sobre o nome de Giselle Monteiro, filiada ao partido e esposa do deputado Erick Monteiro, do PSDB-Cidadania.

 

Mas, na convenção de ontem, na Câmara de Ananindeua, Begot aclamou o nome de Ed Wilson para vice na chapa do prefeito Daniel Santos, com direito a discurso e tudo pelo agora candidato a vice. A notícia logo se espalhou, mas, de modo sombrio. Se Rui Begot é aliado de Daniel e não faz nada sem seu aval, logo, indicar Ed Wilson simboliza traição de Daniel não apenas ao acordo com o Podemos, mas também ao seu fiel escudeiro Erick Monteiro, que inclusive abandonou a candidatura à prefeitura de sua cidade natal, Capitão Poço, para ajudar Daniel em Ananindeua.

 

Postura subserviente

 

Como na política não tem inocentes, fonte da Coluna Olavo Dutra assegura que Erick deve se manter no papel que vem desempenhando até agora: o de subserviência ao prefeito de Ananindeua, Daniel Santos. Então, o que ele decidir, estará decidido. Já a posição do senador Zequinha Marinho não deve seguir a mesma tendência, muito pelo contrário, recusar eventual composição com Daniel Santos.

 

É bom lembrar que, por decisão cautelar pedida pelo Ministério Público na investigação sobre supostos desvios de recursos públicos do Iasep, de 30 de abril até meados de julho passado, Ed Wilson esteve proibido de aproximar-se de servidores do Instituto e de Ananindeua, e isso incluiu o servidor público número um, o prefeito Daniel, que por três meses, publicamente, evitou dividir espaço com Ed Wilson.

 

Resta saber agora qual decisão tomará Daniel Santos. Afinal, muita coisa muda entre as convenções realizadas e as atas entregues ao Tribunal Regional Eleitoral.

  

Papo Reto

 

·  O deputado estadual Thiago Araújo anunciou a pedagoga e professora Shirley Alves (foto) como sua candidata a vice-prefeita nas eleições para a Prefeitura de Belém.

 

· Shirley Alves tem 51 anos, é formada em pedagogia e especialista em gestão educacional. Casada, mãe e avó, em 2022, concorreu ao cargo de deputada federal. Atualmente, Shirley preside o Agir, um dos seis partidos integrantes da Coligação Mudança de Verdade.

 

· Na corrida pela Prefeitura de Belém este ano, apenas o candidato do PL, Eder Mauro, e o do Republicanos, Thiago Araújo, escolheram mulheres para o cargo de vice.

 

· Conforme a professora Luzia Miranda, "permanece o domínio masculino, percebido através da seletividade interposta na escolha dos protagonistas do jogo partidário”.

 

· Segundo ela, “as mulheres incorporam-se às tarefas necessárias ao desenvolvimento do processo de divulgação e propaganda dos candidatos, mas a estrutura da organização partidária não rompe com o autoritarismo estabelecido pelo poder masculino da instituição".

 

·  Aliás, a nomeação do professor Gilmar Pereira, número 1 da lista de eleitos para o cargo de reitor, está na fase de tramitação no MEC. A nomeação, se não ocorrer nenhum acidente de percurso, está prevista para outubro, quando termina o mandato do atual reitor.

 

·  Seis novos promotores de Justiça de 1ª entrância foram empossados ontem pelo Ministério Público do Estado em sessão do Colégio de Procuradores de Justiça.

 

· São eles: Rennan Fernandes de Souza, Rodrigo Rettori Guimarães, Marcel Moraes Mota, Rogério Luiz Ferreira Silva, Rhander Lima Teixeira e Pedro Smith do Amaral Neto.

 

· Os seis novos membros do MP se somam aos 59 promotores de Justiça que tomaram posse em cerimônia realizada no Theatro da Paz, em abril deste ano.

 

· Todos os 65 promotores de Justiça empossados neste ano foram aprovados em concurso público de ingresso para a carreira. 

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