o primeiro semestre deste ano, o
presidente Lula nomeou dois juízes eleitorais da cota do governador Helder
Barbalho. A procuradora do Pará, Anete Marques Penna de Carvalho, foi nomeada
como premiação por ter desistido de concorrer à vaga do Quinto Constitucional
no desembargo, saindo do caminho do advogado Alex Centeno, eleito
desembargador. O segundo nomeado, ao lado de Anete, foi Marcelo Guedes. Filho
do também advogado Hamilton Guedes, falecido em 2020, Marcelo trabalhou no
escritório de Alex Centeno, compondo, em 2014 e 2018, o time de advogados
eleitorais da campanha de Helder Barbalho a governador, quando se tornou
superintendente do Detran, até posteriormente ser nomeado juiz eleitoral.
Em sua primeira atuação no cargo,
Marcelo “causou”: de cara, afastou os inimigos políticos do governador no
partido Solidariedade, tanto no Diretório de Tucuruí, onde está em jogo a
candidatura de Eliane Lima, forte adversária de Alexandre Siqueira, do MDB,
quanto no Diretório de Ananindeua, onde manter a dissolução da comissão
provisória do Solidariedade torna inelegível seu presidente, vereador Rui
Begot, e impede o partido de lançar outros candidatos no município que, assim
como Begot, são aliados do prefeito Daniel Santos, do PSB, inimigo político
número 1, ao menos nesse momento, do governador.
Vale tudo político
Desse cenário, uma questão precisaria
ser notada, não fosse tão gritante o fato de o governador não fazer questão de
disfarçar: na atual composição do MDB no Pará, o combate aos inimigos políticos
não é feito somente nas urnas. Elas, aliás, são um detalhe. Tudo que puder ser
feito fora do ambiente das urnas, e o que não puder também, será tentado. Para
isso, aparelhar o Judiciário a favor de interesses políticos vem a calhar.
Na tarde de ontem, último dia para a
realização das convenções municipais, Rui Begot ganhou na Justiça o direito de
retornar à presidência da comissão municipal do Solidariedade. Chamou sua
convenção para a tarde, na Câmara de Ananindeua. Pouco depois, Marcelo Guedes
suspendeu a "decisão impugnada" - Processo
0600174-02.2024.6.14.0072, id 122393529) e determinou à Secretaria Judiciária
que restabelecesse o "status quo anterior", ou seja, a exclusão da
comissão provisória do Solidariedade de Ananindeua.
Correria e recurso
Begot, em sequência, impetrou mandado
de segurança no Tribunal de Justiça do Pará contra a decisão de Guedes,
respingando ainda no Diretório de Tucuruí, na figura de Euzébio Cabral, o homem
de confiança de Alexandre Siqueira, que tomou o barco e figurou no mandado de
Begot na condição de "litisconsórcio passivo", situação
jurídica de quando há mais de um réu em uma mesma demanda.
O recurso de Begot foi atendido pelo
desembargador José Maria Teixeira do Rosário, alegando que a decisão de Marcelo
Guedes foi tomada ainda na chamada "fase de cognição sumária" do
processo e reconhecendo a competência do juiz eleitoral da 72ª. Zona,
anulado a cassação do Diretório do Solidariedade em Ananindeua.
Quem trai quem, afinal?
Depois dessa intensa briga judicial,
com a devolução do diretório do partido em Ananindeua, o vereador Rui Begot
abriu de imediato a convenção na tarde de segunda-feira, 5, último dia de
prazo. Até então, com o partido suspenso na cidade e sem poder candidatar
ninguém nem indicar o vice, estava em vigor o acordo feito nos bastidores com o
senador Zequinha Marinho, de que a vaga de vice em Ananindeua seria do Podemos
e, logo, recairia sobre o nome de Giselle Monteiro, filiada ao partido e esposa
do deputado Erick Monteiro, do PSDB-Cidadania.
Mas, na convenção de ontem, na Câmara
de Ananindeua, Begot aclamou o nome de Ed Wilson para vice na chapa do prefeito
Daniel Santos, com direito a discurso e tudo pelo agora candidato a vice.
A notícia logo se espalhou, mas, de modo sombrio. Se Rui Begot é aliado de
Daniel e não faz nada sem seu aval, logo, indicar Ed Wilson simboliza traição
de Daniel não apenas ao acordo com o Podemos, mas também ao seu fiel escudeiro
Erick Monteiro, que inclusive abandonou a candidatura à prefeitura de sua
cidade natal, Capitão Poço, para ajudar Daniel em Ananindeua.
Postura subserviente
Como na política não tem inocentes,
fonte da Coluna Olavo Dutra assegura que Erick deve se manter
no papel que vem desempenhando até agora: o de subserviência ao prefeito de
Ananindeua, Daniel Santos. Então, o que ele decidir, estará decidido. Já a
posição do senador Zequinha Marinho não deve seguir a mesma tendência, muito
pelo contrário, recusar eventual composição com Daniel Santos.
É bom lembrar que, por decisão
cautelar pedida pelo Ministério Público na investigação sobre supostos desvios
de recursos públicos do Iasep, de 30 de abril até meados de julho passado, Ed
Wilson esteve proibido de aproximar-se de servidores do Instituto e de
Ananindeua, e isso incluiu o servidor público número um, o prefeito Daniel, que
por três meses, publicamente, evitou dividir espaço com Ed Wilson.
Resta saber agora qual decisão tomará
Daniel Santos. Afinal, muita coisa muda entre as convenções realizadas e as
atas entregues ao Tribunal Regional Eleitoral.
Papo Reto
· O
deputado estadual Thiago Araújo anunciou a pedagoga e professora Shirley Alves (foto) como sua candidata a vice-prefeita nas eleições para a Prefeitura de Belém.
· Shirley Alves tem 51 anos, é
formada em pedagogia e especialista em gestão educacional. Casada, mãe e avó,
em 2022, concorreu ao cargo de deputada federal. Atualmente, Shirley preside o
Agir, um dos seis partidos integrantes da Coligação Mudança de Verdade.
· Na corrida pela Prefeitura de
Belém este ano, apenas o candidato do PL, Eder Mauro, e o do Republicanos,
Thiago Araújo, escolheram mulheres para o cargo de vice.
· Conforme a professora Luzia
Miranda, "permanece o domínio masculino, percebido através da seletividade
interposta na escolha dos protagonistas do jogo partidário”.
· Segundo ela, “as mulheres
incorporam-se às tarefas necessárias ao desenvolvimento do processo de
divulgação e propaganda dos candidatos, mas a estrutura da organização
partidária não rompe com o autoritarismo estabelecido pelo poder masculino da
instituição".
· Aliás, a nomeação do
professor Gilmar Pereira, número 1 da lista de eleitos para o cargo de reitor,
está na fase de tramitação no MEC. A nomeação, se não ocorrer nenhum acidente
de percurso, está prevista para outubro, quando termina o mandato do atual reitor.
· Seis novos
promotores de Justiça de 1ª entrância foram empossados ontem pelo Ministério
Público do Estado em sessão do Colégio de Procuradores de Justiça.
· São eles: Rennan Fernandes de
Souza, Rodrigo Rettori Guimarães, Marcel Moraes Mota, Rogério Luiz Ferreira
Silva, Rhander Lima Teixeira e Pedro Smith do Amaral Neto.
· Os seis novos membros do
MP se somam aos 59 promotores de Justiça que tomaram posse em cerimônia
realizada no Theatro da Paz, em abril deste ano.
· Todos os 65 promotores de
Justiça empossados neste ano foram aprovados em concurso público de ingresso
para a carreira.