“Motivos graves”: Unimed Belém convoca assembleia geral para destituir Conselho de Administração

Relatório destrincha entranhas da gestão Wilson Niwa, incluindo superfaturamento, conflito de interesses, favorecimentos e fraudes.

Por Olavo Dutra | Colaboradores

15/09/2023 08:05
“Motivos graves”: Unimed Belém convoca assembleia geral para destituir Conselho de Administração
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 ‘caixa preta’ da Unimed Belém está aberta e expõe as vísceras do presidente do Conselho de Administração da cooperativa, o médico Wilson Niwa. O chamado "Relatório de motivos graves", aberto à consulta exclusiva dos associados, vazou, e nele constam indícios de fraudes e superfaturamento, anormalidades administrativas e infração à legislação, envolvendo milhões de reais.


Sob ataque cerrado do CEO desde o início da gestão, eleita em assembleia geral, atual Diretoria Executiva abre a ‘caixa preta’ da cooperativa, apesar dos obstáculos impostos por Wilson Niwa/Fotos: Divulgação.

 Com quase 60 páginas, o documento, obtido com exclusividade pela Coluna Olavo Dutra, lança luz nos atos do Conselho de Administração, presidido por Wilson Niwa. Como se sabe, dois grupos travam um embate político pelo controle da Unimed Belém - um capitaneado por Niwa, e outro pela médica Liane Rodrigues, atual diretora-geral, que assina o comunicado distribuído aos cooperados sobre o relatório.

 

O documento passa a ser peça de resistência pelo controle da cooperativa e representa pesada munição para derrubar a gestão de Niwa do Conselho de Administração por meio de processo de destituição mediante uma nova assembleia geral. Nesse embate, a guerra midiática é intensa, e o comunicado, datado do dia 13 de setembro, confronta o comunicado emitido por Niwa e equipe. Nas diligências e medidas para obter informações sobre a gestão, Liane e seus diretores alegam dificuldades em reunir dados e provas diante de obstáculos criados pelo presidente Wilson Niwa.

 

"Não somos levianos, como a presidência tenta fazer crer. Em que pese a dificuldade em obter documentação e provas, quando o dirigente máximo da instituição utiliza todo o poder que possui - ou pensa possuir - para atravancar a fiscalização, tudo está devidamente comprovado", diz um trecho do comunicado da Diretoria Executiva.

 

Compra e superfaturamento

 

O questionamento à gestão do CEO Wilson Niwa possui sete pontos. O primeiro é o que chama mais atenção e traz supostas irregularidades no período da pandemia da Covid 19. O relatório aponta a compra de aparelhos de ultrassom, tomografia e raio-x para o Hospital Prime sem o devido cuidado e diligência, de maneira direta, atropelando o processo legal, no valor de 31 milhões, através da. de reais empresa de construção civil responsável pela obra do hospital. A compra, por esse meio, ignora os procedimentos de compliance.

 

"É possível afirmar que, aparentemente, sem qualquer justificativa e, principalmente, sem o mapa ou cotação de preço, foram adquiridos os equipamentos mais caros do mercado e pelo maior valor. Tais fatos apontam para indícios de superfaturamento no processo de compra feito diretamente pelo então diretor-presidente", expressa o relatório.

 

‘Bondades’ ou maldade?

 

"Graves inconsistências foram encontradas, também com indícios de superfaturamento e fraude, em um caso específico no contexto relacionado a medicamentos adquiridos pela cooperativa durante a pandemia. Os produtos estavam represados e próximos do prazo de validade. Naquele período, tomaram a decisão de doá-los, ao invés de incinerá-los. Foram encontradas doações de medicamentos a diversas entidades privadas que nada têm a ver com o ramo da saúde, a exemplo de mineradora e concessionária de veículos...", conforme trecho do relatório

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Ainda no contexto da pandemia, o relatório aponta suspeitas de irregularidades na aquisição de medicamentos. A somatória das notas fiscais correspondentes aos gastos relativos aos meses de maio, junho e julho de 2020 atingiram o equivalente a R$ 5,9 milhões e estaria "muito diferente do valor oficialmente declarado", de R$ 1,2 milhão. 

 

A violação de ‘compliance’

 

Entre os dias 25 de junho de 2022 e 28 de julho de 2023, a diretora Técnica do Hospital Prime, Vânia Brilhante, cadastrou a empresa de construção civil, vinculada ao próprio marido, para atuar nas obras do hospital. Os fatos apurados demonstraram que o procedimento contou com a anuência do CEO, Wilson Niwa. "A provocação para cadastramento da referida empresa no ramo da construção civil foi iniciada pela própria diretora Técnica, que agiu claramente em desacordo com as políticas de compliance e caracterizou claro conflito de interesse", aponta o documento.

 

Demissão e manobra

 

Por não agir dentro das práticas mínimas de gerenciamento de riscos e

controle interno em meio ao tsunami, um colaborador do Núcleo de Ações Estratégicas foi demitido, mas imediatamente reintegrado pelo Conselho que, para tanto, alterou o organograma interno da cooperativa. “Por que tanto esforço para manter o colaborador em uma área estratégica?”, questiona o relatório. No restante do documento estão listados atos supostamente irregulares relacionados ao passivo tributário do ISSQN não provisionado e mais conflito de interesses e desvio de finalidade do setor de compliance.

 

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