Mata fome de quem? Enquanto moradores da área do igarapé aguardam dias melhores, dinheiro público escorrega pelo ralo do lixo que sacia a fome de acordos políticos.
ntônio Landi nasceu em Bolonha, Itália, em 1713. Já era um arquiteto premiado quando veio para o Brasil, atendendo à solicitação do rei de Portugal, que desejava contratar pessoas capazes de fazer observações astronômicas, medições e confeccionar mapas para demarcar as fronteiras ao norte do País.
O processo de ocupação desordenada culminou na formação de um cinturão de pobreza em torno de canais, que reproduzem e acumulam diversos problemas urbanos, reflexo do descaso do poder público, que tem falhado em implementar políticas efetivas nessas regiões, exacerbando a situação de precariedade de ruas, casas e vidas.
O Igarapé Mata Fome é o principal curso d’água da Bacia Hidrográfica situada no distrito do Bengui. A urbanização assimétrica da área originou uma série de problemas sociais e ambientais, resultando na degradação da bacia e na alteração da morfologia do canal, quadro que se intensifica com o aumento continuado da densidade populacional na região.
Moradora do lugar, Maria Carmem Pereira da Silva é o retrato vivo do atraso e da desumanização que assola muitas comunidades da cidade. Dona de casa, mãe de três filhos, moradora há mais de quinze anos das margens do canal, Maria, uma mulher preta de 42 anos, conhece bem o peso da vida marcada por dificuldades. Mãe solteira, diarista, sua história é a de tantas famílias que lutam para sobreviver em uma área sem saneamento básico, onde a esperança de melhorias parece sempre distante.
Mata Fome ganhou esse nome por uma razão simples: era uma área de canal que propiciava a pesca. No entanto, isso ficou no passado. Por anos, suas ruas repletas de lama, enchentes e lixo acumulado nas águas, mostram a dura verdade de uma área que permanece negligenciada. A falta de coleta de lixo, o esgoto a céu aberto e a ausência de água potável adequada transformam a rotina de quem ali vive em uma verdadeira batalha contra a doença e a miséria. Para Maria, cada dia é uma luta para manter seus filhos, João, de oito anos, e David, de cinco e Esther, de nove anos, livres de doenças que se espalham pela água contaminada.
A situação do Mata Fome não é um fato isolado. A crise do saneamento em Belém é alarmante. Segundo dados recentes, mais de 50% da população da cidade ainda vive sem acesso a tratamento adequado de esgoto. A cidade, que já foi conhecida como “a Veneza brasileira”, poderia estar na dianteira das políticas de saneamento na Região Norte. Apesar de os recursos destinados ao município serem vultosos, muitos deles parecem nunca chegar às comunidades mais necessitadas.
Na quinta-feira, 16, a Polícia Federal deflagrou a operação “Óbolo de Caronte”, investigando contratos milionários em saneamento e infraestrutura urbana firmados entre 2020 e 2024. Segundo a PF, os contratos somam cerca de R$ 285 milhões, dos quais R$ 153 milhões se destinavam a obras prioritárias de saneamento. A ação cumpriu 13 mandados de busca e apreensão, afastou 12 servidores e suspendeu contratações suspeitas, todas autorizadas pela Justiça Federal.
Os indícios apontam que os valores eram frequentemente sacados em espécie, prática típica de lavagem de dinheiro. Em novembro de 2024, foram apreendidos R$ 601 mil em espécie. A PF também identificou empresas de fachada e relações estreitas entre gestores públicos e grupos empresariais, indicando uma verdadeira “patrimonialização” dos contratos. Entre os nomes de destaque está o senador cassado Beto Faro, do PT, com forte influência sobre a Sezel, antiga Sesan, e seus contratos milionários.
Enquanto o dinheiro público seguia caminhos obscuros, moradores como Maria Carmem Pereira da Silva, mãe de três filhos, enfrentam lama, lixo e esgoto a céu aberto. “Cada dia é uma luta para manter meus filhos livres de doenças”, diz Maria. A água contaminada se tornou rotina, assim como as promessas de saneamento que nunca chegam.
O prefeito Igor Normando, do MDB, afirmou que a operação mira a gestão passada. “Os contratos foram firmados durante a administração de Edmilson Rodrigues”, disse Cleiton Chaves, titular da Sezel. Alex Potiguar, adjunto da Procuradoria Geral, reforçou: “A atual gestão acompanha as diligências, mas não participou da assinatura dos contratos”.
Edmilson Rodrigues, do Psol, alegou que os contratos começaram entre 2020 e 2024, “antes da minha gestão”. A ironia é evidente: 2020 foi ano de pandemia, e a PF aponta que a maior parte das obras ocorreu entre 2021 e 2024, integralmente durante sua administração.
A investigação revela como política e contratos públicos podem sustentar irregularidades. Mesmo cassado, Faro ainda reverbera, com aliados mantendo controle sobre recursos e contratos. O dinheiro que deveria levar saneamento e infraestrutura à população alimenta interesses políticos e empresariais, enquanto bairros inteiros seguem abandonados.
Para cada R$ 1 milhão desviado, dezenas de famílias permanecem sem serviços básicos. Maria e outros moradores do Mata Fome enfrentam doenças evitáveis, desigualdade ampliada e abandono. Entre a lama, o lixo e os milhões desaparecidos, a ironia é inevitável: Belém precisa de saneamento, mas só recebe explicações protocolares, enquanto o dinheiro público faz seu próprio percurso, invisível aos olhos da cidade.
•Não é verdade que o prefeito de Belém, Igor Normando (foto), do MDB, irá apresentar projeto à Câmara de Vereadores tornando a capital paraense oficialmente parte da Região Metropolitana de Recife”. Nesse jogo, pessoas e negócios são apenas detalhes
•A fila por credenciais na COP30 promete ser tão longa quanto a do supermercado antes da Black Friday.
•A Itaipu trará à COP30 o primeiro barco brasileiro movido inteiramente a hidrogênio verde, um grande avanço na busca por transporte sustentável.
•Fique por dentro: o traficante Marcelo da Sucata tinha policiais militares como guarda-costas. Segundo relatos idôneos, a Polícia Federal teve de afastar os PMs que pertencem a uma milícia. Por sinal, em termos de crime organizado, o Pará registra a integração entre milícias e facções criminosas.
•No Pará, parece que alguns prefeitos têm mais advogados que população em alguns bairros: cinco escritórios defendendo interesses de uma única prefeitura - dois deles dividindo o mesmo prédio.
•Os honorários são tão generosos que até os troféus de política municipal ficariam com inveja: R$ 12 mil para uns, R$ 360 mil para outros e R$ 720 mil para alguns sortudos.
•Em alguns casos, contratos quase gêmeos circulam com CNPJs distintos. Resultado: trabalho repetido ou dupla contabilidade? Só Deus sabe.
•Não há aviso na porta da prefeitura, mas quem passa de longe percebe o recado implícito: aqui se paga bem, mesmo que ninguém explique por quê.
•Enquanto a cidade segue sua rotina, o quebra-cabeça dos advogados continua. Questionamentos? Muitos. Respostas? Nenhuma.
Jornalista, natural de Belterra, oeste do Pará, com 48 anos de profissão e passagens pelos jornais A Província do Pará, Diário do Pará e O Liberal.
Comentários
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