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PIX rastreado

Governo Lula aperta o pequeno enquanto fecha os olhos para chamados "masters"

Banco Central amplia vigilância sobre o usuário comum, mas mantém intocadas as operações bilionárias que seguem gerando rombos silenciosos no sistema financeiro.

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  • Da Redação | Coluna Olavo Dutra
  • 27/11/2025, 11:00
Governo Lula aperta o pequeno enquanto fecha os olhos para chamados
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decisão do Banco Central de ativar o rastreamento integral de todas as transações via PIX abriu uma fissura política que não será fácil de recompor. O governo vende a mudança como avanço contra golpes - argumento real, mas insuficiente diante do alcance do novo mecanismo. Na prática, cria-se a maior base de vigilância financeira já montada no País, voltada justamente para quem menos representa risco sistêmico: o usuário comum, o microempreendedor, o comércio de bairro.

  

Medida prevê combater golpes, diz presidente do BC, mas, no andar de cima, “masters” deixam prejuízos/Fotos: Divulgação.

O ponto que reacende o debate é simples: enquanto o Estado aumenta seu poder de monitorar quem transfere R$ 20 para o mototaxista, as “operações master”, aquelas sim capazes de provocar estragos multibilionários, continuam circulando longe do radar do debate público, dos discursos oficiais e do mesmo rigor aplicado ao PIX. 

Bondosa vista grossa

O novo sistema permite que cada transferência - horário, destino, origem, frequência, valor - seja rastreada de ponta a ponta. É, tecnicamente, um salto na capacidade de investigação bancária e policial. Golpes digitais deverão ser mais rapidamente identificados, e recuperar o dinheiro desviado tende a ficar menos penoso.

Mas, do outro lado, o contraste é desconfortável. As grandes engrenagens que movimentam bilhões - carteiras de crédito agressivas, derivativos opacos, mesas proprietárias arriscadas, fundos alavancados, operações estruturadas que desafiam a lógica do regulador - permanecem operando em circuitos que escapam ao escrutínio direto da população. E, quando dão errado, o prejuízo nunca fica no colo dos executivos: despeja-se no varejo bancário, nas contas públicas ou nos colchões de garantias do sistema.

É uma assimetria gritante: o Estado vigia o varejo e contemporiza o atacado. A conta - econômica e política - chega para o governo. O anúncio veio na contramão da maré. Após a “patuscada nacional” que desgastou a equipe econômica e queimou capital político, o governo precisava tranquilizar, não incendiar. 

A ativação do rastreio total do PIX, ainda que justificada por questões técnicas, foi lida como movimento de controle - e não proteção. A desconfiança é imediata: se o BC agora tem estrutura completa de monitoramento, o que impede o cruzamento automático de dados para fins fiscais? E, pior, por que o esforço de vigilância recai sobre o pequeno enquanto as operações que realmente quebram o país seguem escapando pela tangente?

Especialistas já preveem aumento de autuações, especialmente entre microempreendedores e pequenos comerciantes - justamente o setor que mais depende do PIX para sobreviver. A medida avança sobre o granular da economia, onde circulam valores ínfimos para o sistema, mas vitais para quem recebe.

No andar de cima…

Os últimos anos foram fartos em exemplos de “operações master” que estouraram silenciosamente: fundos que acordaram insolventes, bancos médios que precisaram de socorro discreto, carteiras de crédito que evaporaram bilhões, conglomerados que colapsaram longe dos olhos da sociedade. Tudo isso com muito menos rastreabilidade do que agora se exige do cidadão comum.

A crítica não é nova, mas ganha força com o novo PIX: o regulador é forte para baixo, fraco para cima. Não há dúvida que o PIX fica mais seguro, mas o usuário não, necessariamente.

O Estado amplia seu poder, mas não sua coerência. E o governo, que já apanhou pela má comunicação recente, coleciona outro desgaste: vigia o pequeno e tolera brechas gigantescas onde nascem os prejuízos de verdade. Mais do que rastrear o PIX, o Brasil precisa rastrear o próprio desequilíbrio - só falta critério.

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Olavo Dutra

Jornalista, natural de Belterra, oeste do Pará, com 48 anos de profissão e passagens pelos jornais A Província do Pará, Diário do Pará e O Liberal.