Casa de shows considerada intocável deve ser fechada com denúncias antigas e uma morte que poderia ser evitada; a lei falhou.
Moradores do Conjunto Médici I e adjacências viviam sob a trilha sonora involuntária do pagode; até a Marinha pediu formalmente o fechamento da casa/Fotos: Divulgação.
“Principado da Marambaia” sempre conviveu com incômodos, mas poucos tão persistentes quanto a “Casa de Shows” Santa Matta. A coluna denunciou o espaço em 2023 pela ocupação irregular da calçada, pelo barulho que varava madrugadas e por uma blindagem pública que desafiava o Código de Posturas, pedidos da Marinha e o bom senso. Um ano depois, nada mudou. Ou pior: mudou para pior.
Quando as primeiras denúncias surgiram, já se comentava que o “bom puxado” tinha recebido do poder público um gesto de generosidade que poucos negócios conseguem: a calçada da Rodolfo Chermont virou extensão natural do empreendimento. A geometria do espaço público foi substituída pela geometria do lucro. Quem precisa transitar, se vira. Quem precisava dormir, desistia.
Moradores do Conjunto Médici I e adjacências viviam sob a trilha sonora involuntária do pagode. A Marinha do Brasil chegou a pedir formalmente o fechamento da casa. Nada aconteceu. Santa Matta continuou funcionando como se houvesse outra legislação - feita sob medida.
Fontes da coluna, à época, apontaram proximidades políticas incômodas. Quem aparecia como proprietário formal era Ronaldo Cardoso, considerado um suposto “testa de ferro”. A engrenagem, diziam, orbitava por conexões que incluíam um alto funcionário municipal. Nada de ilícito declarado, mas tudo muito conveniente para explicar a longevidade das permissões.
No último domingo, 30, a suposta permissividade encontrou seu desfecho trágico: o advogado criminalista Carlos Alberto dos Santos Costa Júnior foi morto a tiros em frente ao bar, após desentendimento com o policial civil José Thiago, agente da Core, um grupo de elite da Polícia Militar do Pará.
O vídeo ao qual a OAB Pará teve acesso mostra o advogado avançando com uma garrafa. O policial recua e dispara duas vezes. A cena é rápida, brutal - e suficiente para transformar um incômodo crônico em caso de polícia, investigação e disputa de versões.
Segundo relatório do 27º BPM, obtido pela coluna, o Santa Matta funcionava sem Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros - documento básico, obrigatório e inegociável. A fiscalização encontrou casa cheia, estrutura de show e nenhuma documentação. A PM determinou o encerramento das atividades.
A licença, vale lembrar, permite funcionamento até 2h. O episódio fatal ocorreu depois disso.
Há dois anos, a coluna publicou extensa matéria sobre o bar: ocupação irregular, som além do tolerável, ausência de regramento e denúncias de moradores, tudo sob a sombra de uma alegada proteção política. A bronca era pública, documentada e reiterada.
Neste fim de semana, uma fonte escreveu à coluna com o mesmo desabafo de um ano atrás: “Isso aí é um inferno. Já mandaram fechar, mas ninguém fecha.” Outra pergunta surgiu, com ironia:
“Tu não és sócio desse negócio?” A resposta veio certeira: não, mas alguém sempre lucrou com o caos.
O caso reacende a pergunta que atravessa administrações, fiscalizações e notas oficiais: como um estabelecimento sem AVCB, alvo de queixas de moradores, relatórios da PM e pedidos da Marinha, segue funcionando como se fosse intocável?
A resposta está menos na noite dos tiros e mais na sombra das permissões, nas amizades públicas e nas portas que nunca fecham. Está no jogo conhecido entre política e entretenimento, onde as regras só valem para alguns.
A Polícia Civil abriu procedimento para apurar o crime e a conduta do agente. A OAB encaminhou o vídeo às autoridades para análise conclusiva. A perícia tenta reconstruir a dinâmica, mas, ao final e ao cabo, o ponto central é outro: se o poder público tivesse cumprido seu papel, o Santa Matta já estaria fechado - ou no mínimo regularizado - muito antes de a madrugada terminar em morte.
A tragédia não nasceu no domingo. Ela foi plantada lá atrás, quando a lei deixou de valer na esquina da Rodolfo Chermont.

•Observadores avaliam que uma das dificuldades do prefeito Igor Normando (foto) neste primeiro ano de gestão em Belém responde pela presença de grupos políticos instalados na administração.
•Belém estaria, portanto, para o que se poderia chamar de “República da Matrioska” - na Rússia, o conjunto de bonecas empilhadas umas dentro das outras.
•No caso de Belém, contudo, a história não tem nada a ver com personagens de contos de fadas, mas de supostas lideranças políticas.
•A disputa interna estaria entre a “República do Cabo de Santo Agostinho”, comandada pela primeira-dama, e a “República de Pau D’arco”, sob o controle de Cleidson Chaves, o “Cleitinho”, ex-chefe de Gabinete. Os dois grupos subjugaram os demais.
•Comparando com as matrioskas russas, o prefeito Igor Normando acabaria sendo a menor peça - e isso gera consequências ruins.
•O Conselho Nacional de Trânsito validou a resolução que altera e simplifica o processo de emissão de CNH no País, incluindo o fim da exigência de aulas em autoescolas.
•Em uma semana, o governo do Rio retirou 1.800 toneladas de barricadas, com maquinário pesado, para liberar vias e garantir a mobilidade urbana de todos.
•Da série "se inveja matasse": o governo do Paraná vai enviar 2 mil estudantes - alguns deles que nunca andaram de avião -, para intercâmbio internacional gratuito em 2026.
•Na última semana todos receberam orientações sobre a experiência no exterior.
Jornalista, natural de Belterra, oeste do Pará, com 48 anos de profissão e passagens pelos jornais A Província do Pará, Diário do Pará e O Liberal.
Comentários
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