Cientista político Elias Tavares analisa como petismo e bolsonarismo superam direita e esquerda no eleitorado
A mais recente pesquisa do Datafolha traz um dado que, à primeira vista, parece contraditório, mas que na verdade ajuda a explicar com precisão o momento político brasileiro. Segundo o levantamento, 35% dos entrevistados se identificam com a direita e 22% com a esquerda. Ao mesmo tempo, 40% se dizem petistas e 34% bolsonaristas. Quando o recorte se aprofunda, surgem números ainda mais reveladores: 27% dos petistas se declaram de direita, e 11% dos bolsonaristas afirmam ser de esquerda.
Esses dados não indicam confusão do eleitor, tampouco incoerência. Eles revelam algo mais profundo: no Brasil de hoje, a identidade política deixou de ser organizada prioritariamente por ideologias clássicas e passou a ser estruturada por pertencimento, experiência concreta e polarização.
Quando o eleitor afirma ser “de direita” ou “de esquerda”, ele raramente está fazendo uma declaração doutrinária. Esses rótulos funcionam, na prática, como atalhos simbólicos. Direita pode significar valores morais, defesa da ordem, crítica ao Estado ou rejeição ao PT. Esquerda pode representar sensibilidade social, defesa de políticas públicas ou oposição ao bolsonarismo. Não se trata de um alinhamento teórico, mas de uma percepção difusa, construída a partir do debate público e da experiência cotidiana.
Já as identidades “petista” e “bolsonarista” operam em outra lógica. Elas são identidades políticas afetivas, personalistas e altamente polarizadas. O eleitor não se identifica apenas com um programa, mas com um campo simbólico, com uma narrativa e, muitas vezes, com a rejeição explícita ao outro lado. É por isso que essas identidades aparecem com mais força do que direita e esquerda na pesquisa.
O dado de que mais de um quarto dos petistas se declara de direita é especialmente ilustrativo. Isso mostra que o PT deixou de ser percebido apenas como um partido ideologicamente de esquerda e passou a representar, para muitos eleitores, políticas sociais concretas, proteção ao emprego, presença do Estado e estabilidade econômica.
Ao mesmo tempo, esses eleitores podem concordar com pautas associadas à direita, como posições conservadoras em costumes, defesa da autoridade ou crítica a excessos da máquina pública. Não há, para eles, contradição nisso.
O mesmo raciocínio vale para os bolsonaristas que se dizem de esquerda. Muitos rejeitam o rótulo “direita” por associá-lo a elites econômicas ou ao mercado financeiro, mas mantêm apoio a Bolsonaro por valores morais, discurso antissistema ou antipetismo. A identidade política, nesse caso, se sobrepõe à ideologia.
A polarização é o elemento que costura todo esse cenário. Em ambientes altamente polarizados, como o brasileiro, o eleitor é empurrado para escolhas binárias. Primeiro escolhe um lado, depois racionaliza suas posições. Ideias perdem centralidade, e o pertencimento ganha protagonismo. Direita e esquerda se tornam categorias secundárias, moldadas conforme a conveniência simbólica do momento.
O que a pesquisa do Datafolha revela, portanto, não é um eleitor desinformado, mas um sistema político que funciona cada vez mais a partir de afetos, identidades e agendas pontuais. Para partidos, lideranças e analistas, a mensagem é clara: compreender o eleitor brasileiro hoje exige olhar menos para rótulos ideológicos clássicos e mais para a dinâmica da polarização, da experiência social e da construção de pertencimento político.
Foto: Divulgação
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*Elias Tavares é cientista político
Jornalista, natural de Belterra, oeste do Pará, com 48 anos de profissão e passagens pelos jornais A Província do Pará, Diário do Pará e O Liberal.
Comentários
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