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São mentirosos?

Com a saúde na UTI, Prefeitura de Belém desmente médicos e sofre forte reação

Profissionais reagem à nota oficial que nega atrasos salariais e transfere culpa às organizações sociais; categoria denuncia calote e cobra providências do prefeito

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  • Da Redação | Olavo Dutra
  • 14/10/2025, 08:00
Com a saúde na UTI, Prefeitura de Belém desmente médicos e sofre forte reação
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arece que enquanto o mundo olha para a COP Belém não enxerga o básico. Com todos os olhos do planeta voltados para Belém por causa da COP30, a prefeitura se mostra incapaz de enxergar o que está bem diante dela - o colapso da própria rede municipal de saúde.

Ao chamar de "fake news" denúncias de atrasos salariais feitas por médicos, o prefeito Igor Normando cutucou um vespeiro em Belém/Fotos: Divulgação.
Nesta segunda-feira, 13, uma nota oficial divulgada pela Secretaria de Saúde (Sesma) gerou revolta entre profissionais e entidades médicas. Em tom agressivo, a prefeitura classificou como fake news as denúncias de atrasos salariais feitas por médicos que atuam em unidades municipais e UPAs da capital.

A reação da categoria veio imediata e em coro: “Médicos mentirosos?”, retrucou o movimento Médicos Unidos Belém nas redes sociais. A resposta foi também uma acusação - e das mais sérias: a prefeitura, segundo os profissionais, tenta mascarar a inadimplência generalizada com discursos prontos e transferindo responsabilidades para as Organizações Sociais (OS) contratadas para gerir os serviços.

A culpa dos outros

Na nota, a Prefeitura de Belém cita duas organizações - Instituto Nacional em Pesquisa e Gestão de Saúde (InSaúde) e Instituto de Apoio ao Desenvolvimento da Vida Humana (IADVH) - como responsáveis pelas UPAs dos bairros Jurunas e Marambaia.

Segundo o comunicado, “todos os pagamentos referentes aos serviços prestados pelas referidas OS foram devidamente quitados pela prefeitura até o dia 22 de setembro”, data do último empenho, quando os contratos teriam sido encerrados.

Após essa data, diz a Secretaria, a gestão passou a ser realizada por outra OS, “que manteve parte dos profissionais anteriormente vinculados”. Em outras palavras, o município tenta se eximir da culpa, entregando o abacaxi às empresas terceirizadas - como se não fosse da própria prefeitura a obrigação de garantir os recursos para que as OS cumpram suas folhas de pagamento.

Resposta dos médicos

A réplica veio a galope. Médicos afirmam que a prefeitura mente por omissão. O grupo Médicos Unidos Belém assegura que a Secretaria realmente fez repasses a algumas OS até 14 de setembro, mas as empresas alegam que parte dos valores segue em aberto e, por isso, não têm como quitar os salários. “De quem é a culpa?”, provocam os profissionais.

E não para por aí. O movimento lembra que várias unidades nem sequer foram mencionadas na nota da prefeitura. UMSs, a UPA de Icoaraci e o PSM do Guamá, por exemplo, continuam com pendências salariais.

“Dando nomes aos bois”, dizem os médicos, as empresas Health & Care e Castelo Serviços Médicos são as responsáveis diretas pelas unidades e ainda não receberam qualquer empenho de pagamento.

Calote sem destino

Segundo os médicos, o Pronto Socorro do Guamá, a UPA de Icoaraci e as UMSs do Tapanã, Benguí, Jurunas, Carananduba e Baía do Sol estavam sob gestão da Health & Care até 1º de agosto - quando já havia um mês de atraso. Na reunião com a Secretaria de Saúde, em 8 de outubro, os profissionais perguntaram por que a empresa foi a única sem empenho para pagamento. Saíram sem resposta - e continuam sem salário referente a julho e agosto.

A situação se repete nas UMSs de Outeiro, Cotijuba e Icoaraci, geridas até julho pela Castelo Serviços Médicos. Já nas UPAs da Marambaia e Jurunas, administradas pela InSaúde, o repasse até foi feito, mas parte do valor foi retida para abater dívidas das empresas com a própria prefeitura. Resultado: os médicos receberam apenas o mês de julho.

Um jogo de empurra

Enquanto a prefeitura se esquiva e as OS empurram a culpa de volta, os boletos dos médicos continuam vencendo. Diferente da Prefeitura de Belém, que tenta negar o problema, as empresas ao menos admitem o calote - mas alegam não ter prazos definidos para receber.

“Ordem na casa...”

O impasse, que já se arrasta há semanas, ameaça paralisar atendimentos em plena preparação para a COP30, quando a cidade espera milhares de visitantes e exige uma estrutura mínima de saúde pública.

A esta altura do campeonato - e ante a situação caótica na saúde pública de Belém -, tudo leva a crer que, na parte que lhe cabe, a prefeitura prefere cuidar da imagem a cuidar de gente – e a fé que move romarias não alcança os corredores das UPAs e dos prontos-socorros, onde a paciência dos médicos acabou junto com o salário.

Nas redes sociais, a mensagem que ecoa das salas de espera é curta e direta - como nas palavras dos próprios médicos: “Prefeito, bota ordem na tua casa e paga teus médicos.”

Papo Reto

Alguma coisa está fora de ordem em Belém – e a concessão do estacionamento do Porto Futuro II ao empresário Henrique Mendes da Silva Nassar (foto), o “rei dos estacionamentos”, é prova disso.

•Henrique Nassar é dono de um império no setor, onde estabeleceu uma espécie de monopólio. Ele surgiu no mercado como dono da HMSN Parking Ltda, hoje, City Parking Ltda. Mudam-se os nomes, as estratégias são as mesmas

No Porto Futuro II, o recibo do estacionamento mostra os dados da FH Parking Ltda, registrada em nome de Filippo Elias Ribeiro Nassar, irmão de Henrique. 

•Além do irmão, outros supostos são André Luiz Rodrigues de Paiva e o funcionário José Carlos Cardoso de Freitas Pinto Junior.

Também chama a atenção a falta de publicação oficial do contrato entre o governo do Estado e a FH Parking Ltda. 

•Em fevereiro deste ano, o Ministério Público abriu Inquérito Civil para investigar um suposto favorecimento no contrato nº 001/2023, firmado entre a Intel Park e a Secult, na cessão do estacionamento do Porto Futuro I a Henrique. Mas o caso, como era de se esperar, não deu em nada.

A agropecuária paraense vive um boom da soja e do gado jamais visto, em contraste com a drástica queda da agricultura familiar.

•Há vinte anos, o Pará cultivava arroz, feijão e mandioca em quase 70% das áreas plantadas que, segundo o IBGE, caíram para 16% no ano passado.

Já a soja saiu do zero e ocupa 50% da área plantada, enquanto a criação de gado caminha para ser a maior do Brasil, beirando 30 milhões de animais, quase quatro animais para cada cidadão paraense.

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Olavo Dutra

Jornalista, natural de Belterra, oeste do Pará, com 48 anos de profissão e passagens pelos jornais A Província do Pará, Diário do Pará e O Liberal.