‘caixa preta’ da Unimed Belém está aberta e expõe as vísceras do presidente do Conselho de Administração da cooperativa, o médico Wilson Niwa. O chamado "Relatório de motivos graves", aberto à consulta exclusiva dos associados, vazou, e nele constam indícios de fraudes e superfaturamento, anormalidades administrativas e infração à legislação, envolvendo milhões de reais.
Com quase 60 páginas, o documento, obtido com exclusividade pela Coluna Olavo Dutra, lança luz nos atos do Conselho de Administração, presidido por Wilson Niwa. Como se sabe, dois grupos travam um embate político pelo controle da Unimed Belém - um capitaneado por Niwa, e outro pela médica Liane Rodrigues, atual diretora-geral, que assina o comunicado distribuído aos cooperados sobre o relatório.
O
documento passa a ser peça de resistência pelo controle da cooperativa e
representa pesada munição para derrubar a gestão de Niwa do Conselho de
Administração por meio de processo de destituição mediante uma nova assembleia
geral. Nesse embate, a guerra midiática é intensa, e o comunicado, datado do
dia 13 de setembro, confronta o comunicado emitido por Niwa e equipe. Nas
diligências e medidas para obter informações sobre a gestão, Liane e seus
diretores alegam dificuldades em reunir dados e provas diante de obstáculos
criados pelo presidente Wilson Niwa.
"Não
somos levianos, como a presidência tenta fazer crer. Em que pese a dificuldade
em obter documentação e provas, quando o dirigente máximo da instituição
utiliza todo o poder que possui - ou pensa possuir - para atravancar a
fiscalização, tudo está devidamente comprovado", diz um trecho do
comunicado da Diretoria Executiva.
Compra e superfaturamento
O
questionamento à gestão do CEO Wilson Niwa possui sete pontos. O primeiro é o
que chama mais atenção e traz supostas irregularidades no período da pandemia
da Covid 19. O relatório aponta a compra de aparelhos de ultrassom, tomografia
e raio-x para o Hospital Prime sem o devido cuidado e diligência, de maneira
direta, atropelando o processo legal, no valor de 31 milhões, através da. de
reais empresa de construção civil responsável pela obra do hospital. A compra,
por esse meio, ignora os procedimentos de compliance.
"É
possível afirmar que, aparentemente, sem qualquer justificativa e,
principalmente, sem o mapa ou cotação de preço, foram adquiridos os
equipamentos mais caros do mercado e pelo maior valor. Tais fatos apontam para
indícios de superfaturamento no processo de compra feito diretamente pelo então
diretor-presidente", expressa o relatório.
‘Bondades’ ou maldade?
"Graves
inconsistências foram encontradas, também com indícios de superfaturamento e
fraude, em um caso específico no contexto relacionado a medicamentos adquiridos
pela cooperativa durante a pandemia. Os produtos estavam represados e próximos
do prazo de validade. Naquele período, tomaram a decisão de doá-los, ao invés
de incinerá-los. Foram encontradas doações de medicamentos a diversas entidades
privadas que nada têm a ver com o ramo da saúde, a exemplo de mineradora e
concessionária de veículos...", conforme trecho do relatório
.
Ainda
no contexto da pandemia, o relatório aponta suspeitas de irregularidades na
aquisição de medicamentos. A somatória das notas fiscais correspondentes aos
gastos relativos aos meses de maio, junho e julho de 2020 atingiram o
equivalente a R$ 5,9 milhões e estaria "muito diferente do valor
oficialmente declarado", de R$ 1,2 milhão.
A violação de ‘compliance’
Entre
os dias 25 de junho de 2022 e 28 de julho de 2023, a diretora Técnica do
Hospital Prime, Vânia Brilhante, cadastrou a empresa de construção civil,
vinculada ao próprio marido, para atuar nas obras do hospital. Os fatos
apurados demonstraram que o procedimento contou com a anuência do CEO, Wilson
Niwa. "A provocação para cadastramento da referida empresa no ramo da
construção civil foi iniciada pela própria diretora Técnica, que agiu
claramente em desacordo com as políticas de compliance e
caracterizou claro conflito de interesse", aponta o documento.
Demissão e manobra
Por
não agir dentro das práticas mínimas de gerenciamento de riscos e
controle
interno em meio ao tsunami, um colaborador do Núcleo de Ações
Estratégicas foi demitido, mas imediatamente reintegrado pelo Conselho que,
para tanto, alterou o organograma interno da cooperativa. “Por que tanto
esforço para manter o colaborador em uma área estratégica?”, questiona o
relatório. No restante do documento estão listados atos supostamente irregulares
relacionados ao passivo tributário do ISSQN não provisionado e mais conflito de
interesses e desvio de finalidade do setor de compliance.