Taxa de juros ou um fogão novo?
Por Renato Condurú Jr.
Vi em canal de Tv a entrevista de um economista renomado em que fez uma análise da conjuntura econômica brasileira para, em seguida, defender a política do Banco Central de permanecer com a Selic em 13,75%.
Um dos pontos de defesa do economista é a taxa de desemprego do Brasil, em torno de 9%. Alega que essa taxa em relação à nossa economia é de pleno emprego e dificilmente será menor, pois não há ociosidade nos setores produtivos do País. Estamos com todas as vagas ocupadas.
Essa constatação sem dúvida explica os 9% de desemprego, porém, se não temos ociosidade e o desemprego é alto, significa que a população em idade ativa cresce muito acima do crescimento econômico. Ou seja, nossa estrutura produtiva é a mesma de bastante tempo atrás.
Costumo usar um exemplo bem simples para se entender essa questão de crescimento e desenvolvimento econômico. Imagine uma pequena empresa de produção de “quentinhas”. Ela dispõe de um fogão pequeno, de quatro bocas e com esse fogão consegue produzir no máximo 30 “quentinhas por almoço”. Com as vendas dessas “quentinhas” tem receita para contratar uma pessoa; para gerar mais emprego, precisaria faturar mais, para isso, produzir mais, e, para tanto, precisaria de um fogão maior.
Se comprar o fogão maior vai crescer em termos de produção e se desenvolver, gerando mais empregos, que, por sua vez, irão permitir aos empregados condições de agregar educação, qualificação, consumo, gerar impostos e fazer o País se desenvolver.
É justamente o que estamos vivendo: o fogão da economia brasileira hoje é o mesmo de mais de dez atrás, portanto, não há crescimento, nem, desenvolvimento, e os 9% de desempregados, o que, convenhamos, é muito elevado, vira normalidade e pleno emprego, o que não deveria.
Para sair disso e promover o crescimento da economia é preciso investimento produtivo - aumentar o tamanho do fogão -, e, para que isso, os juros não podem estar elevados. Juros altos atraem investimentos especulativos, engordam o mercado financeiro e não o mercado produtivo.
Dito isto, o argumento do economista, de que nossa taxa de desemprego de 9% é normal, que o foco é a inflação, parece piada. Como se fosse fácil qualquer que seja o governante eleito aceitar que a prioridade é ter uma taxa de juros alta para debelar a inflação, e assistir 9 milhões de pessoas engrossando a parcela dos que estão abaixo da linha da pobreza e passando fome.
Nenhum país do mundo atingiu o desenvolvimento sustentável sem antes equacionar suas desigualdades sociais. A expansão da população carente amplia a demanda por serviços públicos, aumenta o custo da máquina pública, que requer mais impostos para bancar isso. Além disso, agrava a segurança pública e impõe à segurança privada elevados custos de proteção.
Com esse cenário é muito provável que os economistas defensores da política monetária do Banco Central façam análises pedindo medidas emergenciais de transferências de renda para mitigar a pobreza, como fizeram recentemente. O governo é obrigado a gastar mais, aumentar o endividamento e o desequilíbrio fiscal é um moto contínuo de problemas com um único culpado, a taxa de juros, que não nos permitiu comprar um fogão maior.
Seria interessante fazer um exercício econométrico para avaliar o que é menos desastroso para o País: taxa de juros ou um novo fogão.