Achado arqueológico

Pesquisadores paraenses descobrem fóssil de "preguiça gigante" em Aveiro

Em escavações foi encontrada a vértebra de um animal da família de preguiças gigantes. Quando vivas, elas deveriam apresentar entre três e quatro metros de altura e pesar até duas toneladas

15/08/2023 14:20
Pesquisadores paraenses descobrem fóssil de

O estado do Pará ainda apresenta poucos registros fósseis de animais, espécies extintas e viventes, principalmente em ambientes de cavernas, que não sobreviveram a eventos de extinção. Mas um projeto financiado pela Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa) vem trazendo novas descobertas, como a que mostra a presença de “preguiça gigante”, no município de Aveiro.

Em 2022, com a equipe de estudantes paraenses do Grupo de Estudos em Paleontologia (Gepaleo) do Instituto de Estudos do Xingu da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), capacitada para escavar um sítio paleontológico com métodos refinados, o professor Elver Mayer obteve fomento da Fapespa, em conjunto com Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O projeto intitulado “Métodos arqueológicos de escavação aplicados a depósitos paleontológicos em cavernas do Pará”, que segue em andamento, colocou os pesquisadores em trabalho exploratório na caverna Paraíso, situada em Aveiro e imediações, na busca de depósitos fossilíferos.

A caverna Paraíso é a maior cavidade natural conhecida na Amazônia até o momento, atingindo mais de sete quilômetros de extensão, sem ter sido totalmente mapeada. Através dos trabalhos de Leda Zogbi, exploradora e a documentadora de cavernas, o biólogo Elver e os estudantes descobriram que a própria rocha da caverna continha fósseis, um tipo de ocorrência incomum no Brasil. Esses fósseis são de invertebrados marinhos, como corais, moluscos e lírios-do-mar, e datam do período carbonífero, situado entre aproximadamente 350 e 300 milhões de anos atrás.

Segundo Mayer, a procura dos fósseis do Quaternário - conhecido como “Era do Gelo”, que iniciou há aproximadamente 2,7 milhões de anos e dura até os dias atuais - nas cavernas do Pará foi realizada através de uma varredura visual nos pisos, paredes e tetos. Na caverna Paraíso foi encontrada a vértebra de um animal de grande porte, de uma família de preguiças gigantes chamada Mylodontidae. Quando vivas, essas preguiças gigantes deveriam apresentar entre três e quatro metros de altura e podiam pesar até duas toneladas.

“Registros antigos dessa família de preguiças gigantes na região amazônica são de uma época chamada Mioceno (desde aproximadamente 23 até 5 milhões de anos atrás). Porém, de acordo com o que pudemos verificar até o momento, não há registros confirmados da ocorrência na Amazônia para o período quaternário. Para esse intervalo de tempo, a família foi identificada em várias regiões da América do Sul, como em partes da Argentina, Paraguai e Uruguai, no Rio Grande do Sul, à oeste da Amazônia, no litoral do Equador e Peru e nas regiões sudeste e nordeste do Brasil. Se isso se confirmar, com esse registro da caverna Paraíso, poderemos constatar que a área geográfica em que essa família de preguiças gigantes viveu durante o quaternário também se estendeu à região amazônica”, analisa o pesquisador.

Para saber mais sobre essa preguiça e entender sobre suas relações de parentesco com outras espécies de preguiças gigantes, o projeto realiza um processo de análise do seu DNA no laboratório gerido pelo coordenador do LAAAE-USP, o doutor André Strauss, que é parceiro do Gepaleo nos projetos financiados pela Fapespa. 

“Apesar de todos os esforços e resultados obtidos, ainda não encontramos um sítio adequado para uma escavação detalhada no Pará. Afinal, os fósseis só se formam em condições excepcionais e estão sujeitos à destruição pela erosão durante milhares de anos, de forma que encontrá-los em grande quantidade é o equivalente a ganhar na loteria. E para ganhar temos que apostar! Felizmente, um dos projetos financiados pela Fapespa está em andamento e nele, a nossa aposta de realizar o achado de um sítio paleontológico ainda mais impactante. Assim, poderemos fazer novas descobertas e revelar para a população em geral um tanto mais sobre o que o patrimônio paleontológico do Pará preservou da história evolutiva da Amazônia”, disse Elver Mayer.

Por Agência Pará


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