Um perfil atribuído a um ex-policial militar e outro supostamente de um policial
militar em atividade com mais de 140 mil e 29 mil seguidores no Instagram,
respectivamente, fizeram postagens comemorando a morte de baleados pela Polícia
Militar de São Paulo na operação que ocorreu no Guarujá, na Baixada Santista,
que deixou dez mortos, de acordo com o governo estadual.
Nos stories, um ex-soldado que se apresenta como Paulo Mandalho compartilhou
vídeos com uma música que diz "hoje as pessoas vão matar. Hoje as pessoas
vão morrer". Ao passo em que o boletim de mortos era atualizado, o perfil
atribuído ao ex-soldado fazia novas postagens, comemorando e utilizando músicas
como "Brilha Brilha Estrelinha" ao fundo.
"Rota está igual Tele Sena. Com resultados de hora em hora", disse
Mandalho em uma das postagens. Após ter suas atitudes na rede social divulgadas
pela Ponte Jornalismo, ele disse "obrigado por me citarem na matéria"
e comemorou em seguida os números de engajamento e novos seguidores. O Estadão
não conseguiu contato com Mandalho.
Já o perfil atribuído ao soldado Diogo Raniere escreveu que "hoje as
pessoas vão matar" em uma publicação nos stories, de acordo com prints e
vídeos que circulam nas redes sociais. Depois, compartilhou uma imagem que diz:
"Não façam movimentos bruscos, boinas pretas na área", junto a uma
atualização sobre o número de mortos contabilizados pela polícia.
A cada atualização sobre número de mortos, o soldado também fez uma nova
postagem comemorando. "Estamos na expectativa do décimo Estamos só
esperando. Quando chegar a informação, eu já mando para vocês aqui", disse
Raniere, conforme mostra um dos vídeos.
Nesta segunda-feira, 31, apenas uma postagem falando sobre os mortos na
operação continuava ativa no perfil de Raniere. Trata-se de um vídeo em que
policiais aparecem fazendo buscas em uma comunidade do Guarujá. "A caçada
não para!", escreveu o soldado, junto a oito emojis de caixão. Consultado
pela reportagem por meio do Whatsapp, o soldado Raniere afirmou que não quer se
pronunciar sobre o caso.
Procurada, a Meta, empresa responsável pelo Instagram, não se manifestou até a
publicação desta reportagem.
Questionada pelo Estadão, a Secretaria de Segurança Pública não esclareceu se
investiga a autoria do conteúdo. A pasta afirmou que "que todas as mortes
resultantes de ações policiais estão sendo rigorosamente investigadas pela
Divisão Especializada de Investigações Criminais (Deic) de Santos e pela
Polícia Militar por meio de Inquérito Policial Militar (IPM)".
Ainda de acordo com a pasta, neste ano cinco policiais da reserva e um em
serviço morreram na Baixada Santista. "A fim de manter a segurança na
cidade do Guarujá, a polícia irá prosseguir com a Operação Escudo por, pelo
menos, 30 dias, com reforço policial na região."
Entenda o caso
A operação da Polícia Militar foi desencadeada após a morte de um soldado das
Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), Patrick Bastos Reis, de 30 anos, na
quinta-feira, 27. Questionado sobre denúncias da população local, o governador
Tarcísio de Freitas (Republicanos) disse que "não houve excesso" "Houve
atuação profissional que resultou em prisões e vamos continuar com as
operações."
A gestão estadual disse ainda que dez pessoas foram presas, incluindo o homem
suspeito de atirar contra o soldado que morreu Tarcísio disse que os casos que
resultaram em mortes serão investigados pela Polícia Civil. "Cada
ocorrência é investigada, não há ocorrência que não seja investigada. Todas vão
ser investigadas." O governador pontuou que "a polícia quer evitar o
confronto de toda forma".
O secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, justificou as mortes
dizendo que a violência parte dos criminosos e a polícia supostamente reage de
maneira proporcional a ela. De acordo com ele, serão investigadas as imagens
das câmeras das fardas dos PMs que participaram da operação para averiguar se
houve excessos, mas a Secretaria entende que as denúncias de tortura e excesso
de força policial não passam de "narrativas".
"Não chegou oficialmente nenhuma informação ou indício sobre caso de
tortura", afirmou. Segundo Derrite, o vídeo gravado pelo suspeito de ter
disparado contra Reis antes de se entregar a polícia, dizendo que faria isso
para "acabar com a matança" foi uma instrução de seu advogado para
"reforçar as narrativas".
Fonte: Estadão conteúdo
Foto: Redes sociais