s vésperas das eleições para os cargos de conselheiros tutelares, que aconteceram no País inteiro, o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, Conanda, foi acionado pela Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão do Rio de Janeiro, após a divulgação de práticas ilegais em igrejas e templos, onde religiosos aliciavam a população com desinformação e preconceito para que votassem apenas em candidatos que professassem a mesma fé do pastor ou da igreja. Uma indução compulsória em nome do “compromisso” do fiel para com a igreja.
O conselheiro tutelar é o responsável por garantir os direitos de crianças e adolescentes em cada município, cujo regramento segue o Estatuto da Criança e do Adolescente.
“Deus” contra o “diabo”
A Procuradoria Regional dos Direitos
do Cidadão teve acesso a imagens exclusivas feitas pelo portal g1 que mostram
pastores e membros de igrejas divulgando informações falsas e induzindo os
eleitores a votarem em candidatos de seus grupos, o que é irregular. A
denúncia, registrada no Rio, descortinava uma prática nacional, que aconteceu
no Pará como em outros Estados: a orientação deliberada das igrejas evangélicas
para controlar os conselhos tutelares, alegando que os candidatos da igreja
seriam “de Deus” e aqueles que não depositam o dízimo do pastor seriam “do
diabo”, e que defenderiam a prática de “pedofilia” e a “divisão da família”,
argumentos torpes e abertamente falsos para seguir impondo a lógica do medo, a
mesma que foi usada nas eleições de 2018 e 2022.
Retórica envernizada
Na verdade, encoberto por um verniz
retórico, a busca é por manter o controle político de áreas geográficas de
abrangência dessas igrejas, visando eleger vereadores e deputados.
Isso trouxe à tona, como nenhuma
outra eleição anterior para conselheiros tutelares, a preocupação dos órgãos de
controle com a influência do fundamentalismo religioso na agenda de defesa dos
direitos da infância e no controle social das famílias, que pode levar à
desagregação da legislação em vigor ou a uma leitura enviesada e partidarizada
do Estatuto.
Mais um capítulo do que a direita
conservadora chama de “guerra cultural”. Eles veem os progressistas como
“degenerados perniciosos” que, sob o pretexto de defender os direitos humanos,
“querem antecipar e confundir a sexualidade das crianças e destruir a família
tradicional”.
Infiltração alarmante
Enquanto ativistas sociais e dos
direitos humanos buscavam eleger conselheiros comprometidos com a aplicação
plena do Estatuto da Criança e do Adolescente, conservadores de afiliação
religiosa se mobilizaram para impor suas próprias pautas e limitar os avanços
conquistados.
“É alarmante perceber como o
fundamentalismo religioso tem se infiltrado em um campo que deveria ser regido
apenas pela lei”, disse Patrícia Souza, da Comissão Eleitoral dos Conselhos
Tutelares do Rio de Janeiro. “A organização - igreja - pode apresentar os
candidatos e promover debates, desde que convide todos os candidatos daquele
conselho tutelar”, enfatiza.
Denúncias do uso de dinheiro para
arregimentar votos também surgiram, sobretudo nas redes sociais, com denúncias
até mesmo do envolvimento de facções criminosas interessadas em manter o
controle territorial e político de determinadas áreas, bairros ou comunidades.
Laicidade em risco
Paralelamente a esse veio
subterrâneo, sobre o qual não se noticiou ou investigou, o que se viu de norte
a sul do País foram igrejas evangélicas atuando de forma ativa e militante para
influenciar as eleições nos conselhos tutelares, usando para isso a
partidarização do espaço de culto e a pregação do medo como motivador de voto.
“Essa interferência religiosa coloca
em risco a laicidade do Estado e compromete a imparcialidade necessária para
garantir a defesa dos direitos de todas as crianças”, afirma Newton Freire,
advogado que atua na área de direitos humanos.
As preocupações são legítimas sobre a
possibilidade de conselheiros tutelares de vertente fundamentalista limitarem o
acesso ao aborto legal, por exemplo, ignorarem abusos sexuais e serem
condescendentes com agressões homofóbicas e transfóbicas. “A agenda
conservadora se concentra em promover uma retórica moralista e discriminatória.
“Apartheid” à brasileira
É fundamental destacar que o Estatuto
da Criança e do Adolescente é uma conquista importante para a proteção dos
direitos das crianças e deve ser respeitado e aplicado integralmente”, enfatiza
Freire. Ao impor suas crenças e valores, desconsiderando a diversidade e a
pluralidade de nossa sociedade, esses ativistas das igrejas-partidos ferem o
estatuto legal de proteção de crianças e adolescentes e perpetuam uma retórica
de ódio, do “nós contra eles”, que esgarça o tecido social de modo patológico e
pode nos levar a um apartheid político-social sem
precedentes.
Lei em segundo plano
“Não é uma disputa entre céu e
inferno”, retoma Freire, “como se afirma nos púlpitos das igrejas. São humanos
disputando o espaço em que devem aplicar a lei. Muitas igrejas realizam
trabalhos relevantes no combate à violência doméstica, no combate ao
alcoolismo; justamente por isso é preocupante quando essas mesmas instituições
se tornam instrumentos de influência política e ideológica, colocando em risco
a proteção de crianças e adolescentes”.
A defesa dos direitos não deve ser
pautada por crenças ou ideologias, mas sim pela garantia de um ambiente seguro
e inclusivo para todas as crianças, independentemente de sua origem, gênero ou
orientação sexual. O avanço do fundamentalismo religioso e ideológico nas
eleições dos conselhos tutelares representa um retrocesso para a proteção dos
direitos humanos e coloca em risco a construção de uma sociedade mais justa e
igualitária.
Rua de mão única
É fundamental resistir e estimular um
diálogo aberto e inclusivo sobre os direitos da infância, incluindo lideranças
religiosas e não religiosas de todas as vertentes. A sociedade deve lutar
para que os conselhos tutelares sejam espaços verdadeiramente laicos, onde a
lei seja o único guia para a defesa dos direitos. Somente assim será possível
garantir um futuro seguro e respeitoso para as próximas gerações.
Papo Reto
O Centro Israelita do Pará, através de seu
presidente, Isaac Ramiro Bentes (foto), publicou nota de
agradecimento ao prefeito de Santarém, Nélio Aguiar, em razão de sua
manifestação pública de solidariedade ao Estado de Israel e sua população, vítima
das ações terroristas do Hammas.
Os impactos do conflito entre Israel e Hamas na
agropecuária brasileira ainda não são mensuráveis, mas levantam preocupação em
relação ao tempo de duração da guerra e o envolvimento de outros países do
Oriente Médio.
Ao participar de audiência pública na Comissão dos
Direitos Humanos do Senado Federal, ontem, o ministro do Trabalho e Emprego,
Luiz Marinho, declarou que "está passando da hora de o Congresso discutir
a jornada de trabalho com apenas quatro dias", pois a economia brasileira
“suportaria isso".
No próximo dia 20, o presidente do Banco Central,
Roberto Campos Neto, receberá, em nome do Banco Central, o prêmio Bravo
Beacon of Innovation Award pela criação do sistema de transferências
bancárias instantâneas pix.
Os ingressos em cursos de graduação a distância têm
aumentado bastante nos últimos anos, a ponto de ultrapassar a marca histórica
de 3 milhões de alunos só em 2022, segundo o Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira.
O BNDES criou uma nova linha de capital de giro
para cooperativas agropecuárias, com demanda estimada de até R$ 1 bilhão para a
safra 2023/2024.
A solução busca ampliar as opções de crédito para o
setor, complementando os recursos disponibilizados via Plano Safra, e condições
temporárias para atender cooperados de todo o país afetados por extremos
climáticos.
Pelo dia dedicado à saúde mental, que transcorre
ontem, vale lembrar que as doenças mentais não são fruto da imaginação, a
pessoa não escolhe ter, algumas têm cura e outras, tratamento.
Pessoas com doenças mentais não são preguiçosas e
são tão inteligentes quanto as que não têm; aliados à discriminação, esses
mitos aumentam os sintomas do problema e, em muitas ocasiões, podem levar ao
suicídio.