A Organização Pan-Americana da
Saúde (OMS), braço da Organização Mundial da Saúde nas Américas (OMS), emitiu
neste sábado (3) um alerta epidemiológico de risco alto para a febre do
Oropouche no continente.
De acordo com a entidade, a
decisão foi tomada em razão de “recentes mudanças altamente preocupantes” nas
características clínicas e epidemiológicas da doença, incluindo o registro de
casos em localidades fora das chamadas regiões endêmicas.
Outros fatores levados em
consideração para a publicação do alerta de nível alto são as duas mortes por
febre do Oropouche confirmadas no interior de São Paulo e a identificação de
uma potencial transmissão vertical do vírus (da mãe para o bebê durante a
gestação ou parto). A Opas monitora ainda óbitos fetais e casos de
recém-nascidos com anencefalia que podem estar relacionados à infecção.
“Reconhecendo que essas
observações ainda se encontram em fases iniciais de investigação e que a
verdadeira trajetória da doença ainda é desconhecida, o nível de risco para a
região foi ampliado para alto”, destacou a entidade.
“Tudo isso baseado nas
informações atuais e disponíveis, com um nível moderado de confiança e com
bastante cautela”, completou a Opas.
Critérios
De acordo com o documento,
os critérios considerados para atualizar o nível de risco regional para a
febre do Oropouche incluem risco potencial para a saúde
humana. A apresentação clínica do vírus na maioria dos casos varia de
leve a moderada com sintomas autolimitados que, geralmente se resolvem em sete
dias. Apesar das complicações serem raras, casos esporádicos de meningite
séptica foram documentados. Mais recentemente, dois casos de mortes associadas
ao vírus foram deportadas no Brasil em meio a um surto da doença no país. Essas
mortes respondem pelos primeiros casos fatais associados à doença no mundo.
Para a decisão, a organização
também considerou a transmissão vertical do vírus, que está sob
investigação. No dia 12 de julho, o Brasil informou a Opas sobre potenciais
casos de transmissão vertical da febre do Oropouche e suas consequências. No dia
30 de julho, cinco potenciais casos de transmissão vertical do vírus haviam
sido reportados no Brasil, incluindo quatro casos de morte fetal e um caso de
aborto espontâneo no estado de Pernambuco, além de quatro casos de
recém-nascidos com microcefalia nos estados do Acre e do Pará. As investigações
estão em andamento.
A Opas também lista o risco
de propagação da doença, contextualizando que, entre 1° de janeiro e 30 de
julho de 2024, 8.078 casos confirmados haviam sido reportados em pelo menos
cinco países das Américas, incluindo Bolívia (356 casos), Brasil (7.284 casos),
Colômbia (74 casos), Cuba (74 casos) e Peru (290 casos). No Brasil, 76% dos
casos foram registrados na Amazônia.
Brasil
De acordo com a Opas, pelo menos
10 estados brasileiros fora da região amazônica já confirmaram transmissão
autóctone ou local da febre do Oropouche, alguns de forma inédita para a
doença. “Essa informação sugere que, no último trimestre, casos foram
reportados em novas áreas e em novos países, sinalizando a expansão do vírus
pelas América”.
“Desde a sua identificação, em
1955, o vírus causou surtos em diversos países da América do Sul e da região
amazônica, em grande parte por conta do vetor Culicoides paraensis, do
potencial vetor Culex e seus hospedeiros, como preguiças e primatas.”
“O risco de propagação de vetores e, consequentemente, da transmissão da febre do Oropouche está aumentando em razão das mudanças climáticas, do desmatamento, da urbanização descontrolada e não planejada e de outras atividades humanas que afetam o habitat e favorecem a intervalos entre vetor e hospedeiro. Até o momento, não há evidência de transmissão do vírus entre humanos”, concluiu a Opas.
O que é o Oropouche
O Ministério da Saúde define a
febre do Oropouche como doença causada por um arbovírus do gênero
Orthobunyavirus, identificado pela primeira vez no Brasil, em 1960, a
partir da amostra de sangue de um bicho-preguiça capturado durante a construção
da rodovia Belém-Brasília.
Desde então, casos isolados e
surtos foram relatados no país, sobretudo na região amazônica, considerada
endêmica. Em 2024, entretanto, a doença passou a preocupar autoridades
sanitárias brasileiras. Até o início de julho, mais de 7 mil casos haviam sido
confirmados no país, com transmissão autóctone em pelo menos 16 unidades
federativas. Esta semana, São Paulo confirmou os primeiros casos no interior do
estado.
A transmissão acontece
principalmente por meio do vetor Culicoides paraensis, conhecido
popularmente como maruim ou mosquito-pólvora. No ciclo
silvestre, bichos-preguiça e primatas não-humanos (e possivelmente aves
silvestres e roedores) atuam como hospedeiros. Há registros de isolamento do
vírus em outras espécies de insetos, como Coquillettidia venezuelensis e Aedes
serratus.
Já no ciclo urbano, os humanos
são os principais hospedeiros. Nesse cenário, o mosquito Culex
quinquefasciatus, popularmente conhecido como pernilongo e comumente
encontrado em ambientes urbanos, também pode transmitir o vírus.
Sintomas
Os sintomas da febre do
Oropouche, de acordo com o ministério, são parecidos com os da dengue e incluem
dor de cabeça intensa, dor muscular, náusea e diarreia. “Nesse sentido, é
importante que profissionais da área de vigilância em saúde sejam capazes de
diferenciar essas doenças por meio de aspectos clínicos, epidemiológicos e
laboratoriais e orientar as ações de prevenção e controle”, alerta a pasta.
Fonte: Agência Brasil
Foto: Conselho Federal de Farmácia/ Divulgação