Our World in Data

ONG disponibiliza para consulta série histórica do aquecimento do planeta

Qualquer pessoa pode acessar os dados, que registram um período de 84 anos

19/03/2024 11:45
ONG disponibiliza para consulta série histórica do aquecimento do planeta

Mariluz Coelho, Porto (POR) - Nesta segunda-feira, 18, o Our World in Data disponibilizou na internet para consulta a série histórica do aquecimento do planeta, entre os anos de 1940 e 2024, período de 84 anos. A organização não-governamental, que pesquisa os grandes problemas da humanidade, como fome, pobreza e doenças, a exemplo que fez no auge da Covid-19, agora abriu também as informações sobre o aumento da temperatura em todos os países. O objetivo do trabalho do Our World in Data é tornar acessível e compreensível o conhecimento sobre os grandes problemas que atingem o planeta, a exemplo do aquecimento global. 

A plataforma é um avanço no processo de mitigação dos riscos climáticos. Isso porque mostra através de mapas e tabelas, em linguagem simples, como a temperatura média em cada país entre 1940 e 2024, no período de 84 anos. Dois pontos são importantes: primeiro, os dados servem de base para outras pesquisas e políticas públicas no contexto dos riscos climáticos. Outro avanço está na comunicação desses riscos climáticos. De modo geral, as pessoas ainda não percebem as alterações climáticas como risco para a sobrevivência e para a continuidade da vida no planeta. O acesso fácil e ao alcance de qualquer pessoa através da internet, surge como uma ferramenta de auxílio às estratégias de comunicação específica desses riscos.

Consultamos os dados do Our World in Data sobre as temperaturas médias em todo o mundo, e destacamos aqui no Portal alguns pontos relevantes. A plataforma mostra um planeta que aquece de forma diferente, dependendo do território. Nos locais onde a biodiversidade já foi destruída, como os países europeus mais desenvolvidos, as temperaturas aumentaram mais que em países da América do Sul, como o Brasil. No território brasileiro está a maior parte da floresta amazônica, com a mais rica biodiversidade do planeta.

Na divulgação dos dados abertos sobre as temperaturas globais, a Our World in Data afirma que as alterações climáticas não afetam todas as áreas do globo de maneira uniforme. Algumas regiões estão aquecendo mais rapidamente do que outras. 

Para permitir que as pessoas acompanhem as mudanças de temperatura em todo o mundo, a Our World in Data tornou os dados exploráveis a nível nacional. Para isso, foram utilizados os dados do projeto ERA-5 do Centro Europeu de Previsões Meteorológicas de Médio Prazo (ECMWF).

O conjunto de dados é abrangente e fornece registros climáticos de alta resolução, que incluem uma ampla gama de variáveis atmosféricas, de ondas oceânicas e de superfície terrestre. Foram usados registros de temperatura da superfície do ar de dois metros, que incluem medições em terra, mar e águas interiores.

A Our World in Data converteu os dados a nível de país utilizando os contornos dos países do Banco Mundial, fazendo ajustes às disparidades geográficas da curvatura da Terra. A atualização dos dados será feita a cada mês. 

A plataforma não mostra temperatura absoluta num determinado mês, mas o quão diferente é em comparação com as temperaturas históricas. 

Brasil: o aumento da temperatura média registrada em fevereiro de 2024 em relação à 1940 foi de 0.82 °C, menor que nos países mais ricos

AS POPULAÇÕES DOS PAÍSES MAIS POBRES SÃO AS MAIORES VÍTIMAS

Com as temperaturas oscilando de forma desigual também os impactos desse aquecimento tendem a ser desiguais. Porém, existem outras variáveis a considerar, como a pobreza e as desigualdades sociais que agravam os riscos climáticos, com desastres que atingem mais a população mais pobre e vulnerável. 

Sobre vulnerabilidade e desastres, conversamos com o pesquisador colombiano Cristian Camilo Fernández Lopera, que é especialista em gestão de riscos de desastres, com ênfase na redução da vulnerabilidade socioeconômica a desastres por meio de políticas públicas.

O pesquisador afirma que a crescente desigualdade social, característica da América Latina, é o combustível que mais influencia a configuração, atenuação e perpetuação das condições de vulnerabilidade a desastres. “Pensar na gestão do risco de desastres e na adaptação às mudanças climáticas fora das estratégias de desenvolvimento social, econômico e cultural é um erro grave. Agora sabemos que o aumento das zonas de risco em áreas urbanas das grandes cidades não resulta apenas de causas naturais, como chuvas intensas, secas ou inundações, mas sim das políticas públicas de desenvolvimento que muitas vezes estão desconectadas das realidades dos mais pobres, dos migrantes, das comunidades étnicas, das famílias chefiadas por mulheres e dos agricultores”, opina Lopera.

Por isso, na visão do pesquisado, antes de iniciar um processo de redução de risco com comunidades agrícolas, é essencial fornecer informação, divulgar os potenciais benefícios das atividades a serem desenvolvidas e fortalecer cooperativas ou associações de produtores. “Desta forma, é possível reduzir a vulnerabilidade socioeconômica e organizativa, avançando na redução do risco relacionado a fenômenos hidroclimáticos. Para o pesquisador isso inclui ações de comunicação, mitigação de riscos, preparação para eventos extremos e adaptação às mudanças provocadas pelas alterações climáticas.

Acesso aberto em https://ourworldindata.org/temperature-anomaly

*Mariluz Coelho é jornalista, especialista em comunicação científica na Amazônia, mestre em Desenvolvimento Sustentável e pesquisadora de comunicação de riscos socioambientais nas alterações climáticas pelo Observatório do Risco da Universidade de Coimbra, Portugal.

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