O exército de Níger anunciou nesta quarta-feira, 26, que derrubou o
presidente do país, Mohamed Bazoum, criticando o que qualificou como a
"contínua deterioração da situação de segurança e má gestão econômica e
social". Além disso, o exército também ordenou o fechamento das
fronteiras.
Em três comunicados lidos em rede nacional de televisão, os golpistas,
organizados em uma plataforma chamada Conselho Nacional para a Salvaguarda da
Pátria (CLSP), reafirmaram seu "respeito por todos os compromissos
assinados pelo Níger".
Os militares disseram nos comunicados que "todas as instituições da Sétima
República estão suspensas" e que "as forças de defesa e segurança
estão lidando com a situação".
"Pedimos a todos os parceiros externos que não interfiram",
acrescentaram, antes de decretarem o fechamento das fronteiras terrestres e
aéreas "até que a situação se estabilize".
Nos comunicados, lidos pelo coronel Amadou Abramane em nome do "presidente
do CLSP", foi decretado toque de recolher das 22h às 5h "em todo o
território até segunda ordem".
Os líderes do golpe também prometeram às comunidades nacional e internacional
respeitar a "integridade física e moral das autoridades derrubadas, de
acordo com os princípios dos direitos humanos".
Com essas palavras, o coronel Abramane pôs fim às dúvidas sobre o paradeiro do
presidente Bazoum nesta quarta-feira, após os acessos ao palácio presidencial
serem fechados com ele dentro e depois de a conta da presidência do Níger no
Twitter informar que membros da Guarda Presidencial realizavam uma ação
golpista
O chefe da diplomacia do Níger e chefe do governo interino, Hassoumi Massoudou,
rejeitou na quinta-feira, 27, o golpe de Estado e afirmou que seu governo
representa as "autoridades legítimas e legais", em declarações ao
canal de televisão France 24.
"O poder legal e legítimo é aquele exercido pelo presidente eleito do
Níger, Mohamed Bazoum", que atualmente está sendo mantido como refém por
líderes militares golpistas em sua residência oficial em Niamey, disse
Massoudou.
O presidente Mohamed Bazoum "está em boas condições de saúde",
acrescentou.
Em 31 de março de 2021, as autoridades do Níger abortaram uma tentativa de
golpe militar contra Bazoum dois dias antes de sua posse - ela se limitou a uma
série de tiroteios perto do Palácio Presidencial na capital do país, Niamey.
Os partidos da base do governo pediram aos golpistas que tomaram o palácio
presidencial nesta quarta-feira para que entreguem as armas, e ao povo nigerino
para se mobilizar maciçamente para defender a democracia.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, falou com o presidente deposto
nesta quarta-feira e transmitiu seu apoio diante da violação da legitimidade
constitucional no Níger, que foi condenada por vários países e blocos
regionais.
O Níger é um dos países mais pobres do mundo, sofre com a violência jihadista e
com os efeitos das mudanças climáticas e da crise alimentar, que afetam milhões
de pessoas.
O presidente do Níger, Mohamed Bazoum, se pronunciou e prometeu no início desta
quinta-feira, 27, proteger os ganhos democráticos "duramente
conquistados" após ser sequestrado pelas tropas. "Os ganhos duramente
conquistados serão salvaguardados. Todos os nigerianos que amam a democracia e
a liberdade zelarão por eles", disse Bazoum em uma mensagem publicada por
volta das 05:00 GMT de quinta-feira, no Twitter, rebatizado de X.
"Pedimos que as facções militares retornem às suas fileiras. Tudo pode ser
alcançado por meio do diálogo, mas é necessário que as instituições da
República funcionem", disse também Massoudou.
As negociações entre Bazoum e a guarda presidencial para encontrar uma solução
fracassaram sem que ficasse claro quais eram as exigências dos militares. Uma
fonte próxima ao presidente aparentemente deposto disse que a guarda
presidencial "se recusou a libertar" Bazoum e que "o exército
lhe deu um ultimato", sem especificar em que consistia.
Manifestação
Os partidários de Bazoum fizeram uma manifestação em Niamey para tentar se
aproximar de sua residência, onde ele estava detido, mas foram dispersados no
final do dia por tiros de advertência da guarda presidencial, informou um
jornalista da AFP.
Antes do anúncio, a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental
(CEDEAO) anunciou que iria tentar mediar o que era então uma tentativa de
golpe.
A manobra militar foi condenada pelos parceiros do Níger, desde a União
Africana até a União Europeia, incluindo a França (que tem uma presença militar
no país) e os Estados Unidos.
O chefe da diplomacia dos EUA, Antony Blinken, pediu a "libertação
imediata" de Bazoum e advertiu que a entrega da ajuda financeira dos EUA
ao país africano dependia da "manutenção da democracia". (Com
agências internacionais).
Fonte: Estadão conteúdo
Foto: Reprodução redes sociais