O número de obesos no mundo ultrapassou 1 bilhão de pessoas. A título de comparação, essa quantidade representa aproximadamente cinco vezes a população total do Brasil. É o que revela um estudo conduzido pelo consórcio internacional NCD-Risc com apoio da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Baseada em dados de 2022, o estudo estimou aproximadamente 879 milhões de
adultos e 159 milhões de crianças e adolescentes com obesidade. Esse último
grupo, aliás, viu a quantidade de indivíduos obesos quadruplicar em relação a
três décadas atrás.
Para o Dr. Manoel Quintino, médico e membro efetivo da Sociedade Brasileira de
Medicina da Obesidade (SBEMO), os dados são “alarmantes”, principalmente porque
a condição leva a uma maior incidência de diversos problemas de saúde
(hipertensão, diabetes, síndrome metabólica, doenças osteomusculares, alguns
tipos de câncer, entre outros).
Ele explica que o tema da obesidade é complexo e fruto de diferentes causas,
que incluem o sedentarismo e os hábitos alimentares da população. “Alimentos
ultraprocessados e hiper palatáveis, bem como fast-foods, são elementos
constantes na dieta das pessoas. Isso por diversos motivos: desde o alívio da
ansiedade ou a recompensa após um dia duro de trabalho (o famoso ‘eu mereço’)
até a mera satisfação de um desejo incitado por milhões de propagandas que
inundam as redes sociais”, afirma.
Dr. Manoel Quintino, no entanto, faz a ressalva de que o problema precisa ser
enxergado além disso. Ele reconhece que há muito preconceito e falta de
informação, inclusive entre profissionais de saúde.
“A obesidade ainda é vista por muitos médicos como uma simples escolha do
paciente, a escolha de não ‘fechar a boca’ e simplesmente comer mais. Como
especialista no tratamento dessa condição, posso tranquilamente afirmar que
esses profissionais estão muito enganados”, reflete, acrescentando que há
vários mecanismos patológicos que levam alguém a se tornar obeso
Outro agravante é a dificuldade no acesso à terapia medicamentosa para a
obesidade no Brasil. O médico relata que os medicamentos podem custar de R$ 1
mil até R$ 10 mil, valores que estão muito acima do poder aquisitivo de grande
parte da população, em especial das camadas mais pobres.
Obesidade entre crianças e adolescentes
Sobre o fato de a pesquisa indicar o aumento da quantidade de crianças e
adolescentes obesos, Dr. Manoel Quintino diz que vê essa realidade diariamente
nos atendimentos a pacientes pediátricos.
“Os motivos não se distanciam muito dos que levaram ao aumento da obesidade
entre adultos. Já existem diversos estudos que afirmam que filhos de pais
obesos têm chances muito aumentadas de serem crianças e adultos também obesos”,
complementa.
Ele explica que essas pessoas crescem em um “ambiente obesogênico”. Isto é, uma
criança filha de pais sedentários que se alimentam mal também acabará tendo uma
dieta inadequada e fazendo pouca atividade física. Com o passar do tempo, houve
ainda uma mudança no lazer dos mais jovens. Os equipamentos eletrônicos tomaram
o lugar de esportes e brincadeiras ao ar livre, que resultam em menor gasto
calórico.
Redução da obesidade
Para Dr. Manoel Quintino, a redução no número de pessoas obesas “depende de
muitos fatores, muitos mesmos”. Ele cita que é necessário haver conscientização
sobre o assunto para as crianças desde a escola e a criação de políticas
públicas que facilitem o acesso a tratamentos.
A boa notícia, diz ele, é que a ciência tem evoluído bastante nos últimos anos.
Há, inclusive, pesquisas com um medicamento que mostrou perdas de peso
superiores aos da cirurgia bariátrica em alguns grupos.
“Eu aplico a abordagem de visitas semanais, com auxílio de uma equipe
multidisciplinar. Toda semana o paciente vai acompanhando sua evolução. Isso
ajuda a pessoa a se manter motivada e praticamente zera as taxas de abandono do
tratamento”, diz Dr. Manoel Quintino.
Dr. Manoel Quintino cita um estudo assinado por diversos especialistas na publicação científica Frontiers in Nutrition que
investigou a porcentagem de pacientes que abandonam a busca pelo emagrecimento.
”Essa taxa chega a 21% em 2 meses, 44% em 6 meses e 68,5% em 12 meses.
“O que esses dados mostram é que quanto mais de perto o paciente for
acompanhado, quanto mais visto e reavaliado, maiores são as taxas de sucesso”,
finalizando, ressaltando a importância de buscar ajuda profissional e, em
hipótese nenhuma, recorrer à automedicação.
Fonte: Estadão conteúdo/ DINO DIVULGADOR DE NOTÍCIAS
Foto: Bruno Cecim / Ag.Pará