Mesquinharia política apaga registro público das gestões de Belém de Edmilson a Zenaldo

Agência oficial da administração da prefeitura sugere que município de Belém não teve prefeito antes de Igor Normando.

19/03/2025, 08:00
Mesquinharia política apaga registro público das gestões de Belém de Edmilson a Zenaldo
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ma das práticas mais antidemocráticas dos regimes ditatoriais é apagar o passado, como se antes deles nada existisse. Em Belém, onde o regime não é enquadrado nessa categoria, exatamente, essa prática, além de ditatorial, é mesquinha e rotineira.

Edmilson Rodrigues apagou administração de Zenaldo e recuou; agora, Igor Normando apagou a história dos dois na Prefeitura de Belém/Fotos: Divulgação-Ilustração.
Há quatro anos, em 2021, 24 horas depois da posse do prefeito Edmilson Rodrigues, do Psol, todas as reportagens sobre as inaugurações do gestor anterior Zenaldo Coutinho, do PSDB, desapareceram do site oficial da prefeitura, a Agência Belém.  

Menos de dois meses depois que Igor Normando, do MDB, assumiu a prefeitura, e com o site da Agência Belém passando por uma reformulação, não se encontra na homepage nada que lembre a gestão de Edmilson Rodrigues, muito menos a de Zenaldo Coutinho. É como se a Agência Belém, órgão oficial de divulgação do Executivo municipal - assim como a Agência Pará é do governo do Estado, e a Agência Brasil, do governo federal - jogasse no limbo da história 12 anos das gestões anteriores.

O agravante é que, ao se procurar reportagens produzidas por jornalistas que trabalharam na antiga Comus no Google, por exemplo, as matérias aparecem no index do buscador, mas, ao serem acessadas, dão erro. Onde foi parar o registro público de mais de uma década e por que sumiu?

O primeiro apagão 

A denúncia sobre o “apagão” que  a gestão Edmilson Rodrigues impôs à administração Zenaldo Coutinho foi publicada com exclusividade no site Pará Web News: “Quem abriu o site da agência oficial de notícias da Prefeitura Municipal de Belém, em 2 de janeiro de 2021, tomou um susto ao ver que todas as postagens de reportagens sobre as inaugurações feitas pelo ex-prefeito Zenaldo Coutinho (PSDB), na última semana de governo, foram dizimadas e desapareçam no site, mal teve início o novo governo de Edmilson Rodrigues. As postagens que ficaram têm como última data de publicação a do dia 24 de dezembro de 2020. Dessa data, há um espaço de tempo, e já estão as postagens sobre a posse de Edmilson, nos dias 1 e 2 de janeiro. Tudo o que o ex-prefeito Zenaldo Coutinho fez em uma semana desapareceu da página, apesar de ter sido registrado e publicado pela imprensa de Belém e no site oficial da prefeitura”. 

Omissão e mentira

À época, Zenaldo se pronunciou, muitas críticas foram feitas nas redes sociais e as reportagens voltaram à Agência Belém, mas perderam o destaque. Segundo o então prefeito, “as páginas e sites oficiais da Prefeitura de Belém têm o caráter de registro público de um momento histórico. Apagar esses momentos é omitir e mentir à população. Tivemos o cuidado de manter todos os seguidores e a integralidade da estrutura para que a nova gestão inicie os registros de seu tempo”.

Informado de que, mais uma vez, a gestão Zenaldo Coutinho foi apagada da história recente de Belém, o ex-prefeito enviou a seguinte nota à redação.  

“A maldade e a mentira são elementos intrínsecos dos regimes totalitários que, para prevalência de suas narrativas, imprimem a máxima de que ‘A história é escrita pelos vencedores’. Esta frase, atribuída a Eric Arthur Blair, emerge do horror que ele sentia pelas tiranias, inspiração de ‘A Revolução dos Bichos’, através de seu famoso pseudônimo George Orwell, assustado com acontecimentos no mundo. Se a ficção se fundamenta na realidade, o fenômeno inverso também. É o caso recorrente na Agência Belém. O ex-prefeito Edmilson Rodrigues tentou com sua equipe, por diferentes meios, apagar a história de administrações anteriores da capital: abandonou prédios prontos e inaugurados retirando a vigilância - vide o Complexo do Jurunas -; retirou as redes e passou o cadeado nas quadras públicas de tênis do Portal da Amazônia; sumiram com as placas de várias obras, até do monumento pelos 400 Anos de Belém. No Palacete Bolonha, totalmente restaurado por minha administração, em visita guiada, a representante do prefeito omitia este relevante feito, inclusive na minha presença, quando levei pessoalmente turistas. É claro que ela ouviu umas verdades. Mas como corolário da tentativa de esconder ou mudar a história, resolveu apagar da Agência Belém todos os registros de obras e ações de administrações anteriores. Houve protestos e ele voltou atrás. Agora, mal se inicia a administração Igor Normando, eis que sumiram os registros dos oito anos de minha gestão e os quatro de Edmilson. Será que o Igor é da mesma corrente do Ed? Ou é coisa de assessor querendo mostrar serviço?”. 

Respeito público

As agências públicas de notícias têm o objetivo de informar oficialmente os atos dos governos. Na metade dos anos 2010, o Pará e o município de Belém aderiram a essa forma de comunicação institucional, que pode até ser questionada, mas é oficial.  Ao buscar o nome Bolsonaro na Agência Brasil, por exemplo, tudo está no devido lugar, como os governos Lula e Dilma. Mesmo no Pará, a agência oficial do Estado mantém os atos da administração Jatene. Na Agência Belém, porém, o passado não existe.

A coluna pediu esclarecimentos sobre a situação junto à assessoria do ex-prefeito Edmilson Rodrigues e à atual administração, mas não obteve resposta.

Papo Reto

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·A ministra Carmen Lúcia, presidente do TSE, anunciou ontem a devolução da lista à corte paraense para substituição dos nomes de Rafael Fecury e de Emanuel Pinheiro Chaves.

·Emanuel foi denunciado criminalmente, mas a denúncia não foi recebida pela Justiça. Nos dois casos, o TSE entendeu, por maioria, que na lista tríplice não poderiam figurar possíveis juízes de conduta inidônea.

·No TRE do Pará, o juiz Rafael Fecury se notabilizou por ter engavetado o processo que pede a cassação do senador Beto Faro, do PT, por suposta comora de votos e que segue sem solução.

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·O preço da hospedagem para a COP30, em novembro, vai acabar levando a culpa, sozinho, por induzir muitas delegações ao raquitismo.

·A gestão da servidora concursada da - quase extinta - Arcon, Ana Valéria Borges, na Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana de Belém, foi denunciada ao MP.

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·O Banco Central registrou ontem o primeiro incidente com chaves Pix neste ano; foram expostos dados de 25 mil chaves da fintech Qi SCD. 

·O Ministério das Comunicações autorizou nos últimos dois anos o funcionamento de 206 rádios comunitárias em todo o Brasil.

·As inscrições para novas emissoras com esse perfil foram prorrogadas até esta sexta-feira para atender 795 municípios de 21 estados, inclusive o Pará.

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