ma das práticas mais antidemocráticas dos regimes ditatoriais é apagar o passado, como se antes deles nada existisse. Em Belém, onde o regime não é enquadrado nessa categoria, exatamente, essa prática, além de ditatorial, é mesquinha e rotineira.
Menos de dois meses depois que Igor Normando, do MDB, assumiu a prefeitura, e com o site da Agência Belém passando por uma reformulação, não se encontra na homepage nada que lembre a gestão de Edmilson Rodrigues, muito menos a de Zenaldo Coutinho. É como se a Agência Belém, órgão oficial de divulgação do Executivo municipal - assim como a Agência Pará é do governo do Estado, e a Agência Brasil, do governo federal - jogasse no limbo da história 12 anos das gestões anteriores.
O agravante é que, ao se procurar reportagens produzidas por jornalistas que trabalharam na antiga Comus no Google, por exemplo, as matérias aparecem no index do buscador, mas, ao serem acessadas, dão erro. Onde foi parar o registro público de mais de uma década e por que sumiu?
O primeiro apagão
A denúncia sobre o “apagão” que a gestão Edmilson Rodrigues impôs à administração Zenaldo Coutinho foi publicada com exclusividade no site Pará Web News: “Quem abriu o site da agência oficial de notícias da Prefeitura Municipal de Belém, em 2 de janeiro de 2021, tomou um susto ao ver que todas as postagens de reportagens sobre as inaugurações feitas pelo ex-prefeito Zenaldo Coutinho (PSDB), na última semana de governo, foram dizimadas e desapareçam no site, mal teve início o novo governo de Edmilson Rodrigues. As postagens que ficaram têm como última data de publicação a do dia 24 de dezembro de 2020. Dessa data, há um espaço de tempo, e já estão as postagens sobre a posse de Edmilson, nos dias 1 e 2 de janeiro. Tudo o que o ex-prefeito Zenaldo Coutinho fez em uma semana desapareceu da página, apesar de ter sido registrado e publicado pela imprensa de Belém e no site oficial da prefeitura”.
Omissão e mentira
À época, Zenaldo se pronunciou, muitas críticas foram feitas nas redes sociais e as reportagens voltaram à Agência Belém, mas perderam o destaque. Segundo o então prefeito, “as páginas e sites oficiais da Prefeitura de Belém têm o caráter de registro público de um momento histórico. Apagar esses momentos é omitir e mentir à população. Tivemos o cuidado de manter todos os seguidores e a integralidade da estrutura para que a nova gestão inicie os registros de seu tempo”.
Informado de que, mais uma vez, a gestão Zenaldo Coutinho foi apagada da história recente de Belém, o ex-prefeito enviou a seguinte nota à redação.
“A maldade e a mentira são elementos intrínsecos dos regimes totalitários que, para prevalência de suas narrativas, imprimem a máxima de que ‘A história é escrita pelos vencedores’. Esta frase, atribuída a Eric Arthur Blair, emerge do horror que ele sentia pelas tiranias, inspiração de ‘A Revolução dos Bichos’, através de seu famoso pseudônimo George Orwell, assustado com acontecimentos no mundo. Se a ficção se fundamenta na realidade, o fenômeno inverso também. É o caso recorrente na Agência Belém. O ex-prefeito Edmilson Rodrigues tentou com sua equipe, por diferentes meios, apagar a história de administrações anteriores da capital: abandonou prédios prontos e inaugurados retirando a vigilância - vide o Complexo do Jurunas -; retirou as redes e passou o cadeado nas quadras públicas de tênis do Portal da Amazônia; sumiram com as placas de várias obras, até do monumento pelos 400 Anos de Belém. No Palacete Bolonha, totalmente restaurado por minha administração, em visita guiada, a representante do prefeito omitia este relevante feito, inclusive na minha presença, quando levei pessoalmente turistas. É claro que ela ouviu umas verdades. Mas como corolário da tentativa de esconder ou mudar a história, resolveu apagar da Agência Belém todos os registros de obras e ações de administrações anteriores. Houve protestos e ele voltou atrás. Agora, mal se inicia a administração Igor Normando, eis que sumiram os registros dos oito anos de minha gestão e os quatro de Edmilson. Será que o Igor é da mesma corrente do Ed? Ou é coisa de assessor querendo mostrar serviço?”.
Respeito público
As agências públicas de notícias têm o objetivo de informar oficialmente os atos dos governos. Na metade dos anos 2010, o Pará e o município de Belém aderiram a essa forma de comunicação institucional, que pode até ser questionada, mas é oficial. Ao buscar o nome Bolsonaro na Agência Brasil, por exemplo, tudo está no devido lugar, como os governos Lula e Dilma. Mesmo no Pará, a agência oficial do Estado mantém os atos da administração Jatene. Na Agência Belém, porém, o passado não existe.
A coluna pediu esclarecimentos sobre a situação junto à assessoria do ex-prefeito Edmilson Rodrigues e à atual administração, mas não obteve resposta.
Papo Reto
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