m Belém - cenário eleitoral onde a apatia do eleitor é evidente -, o peso da máquina estadual, centralizada e coesa, supera o esforço da máquina municipal, cuja centralidade está longe de ser uma característica. A ausência de comando, combinada com uma comunicação claudicante e errática e uma rejeição que teima em não ceder, prejudicam o desempenho de Edmilson Rodrigues e jogam a favor do candidato de Helder Barbalho, que sobe nas pesquisas em que pese seguir sendo um ilustre desconhecido da maioria do eleitorado.
Enquete recente mostrou que mais da metade dos eleitores não sabe dizer nada
sobre o candidato do MDB, a não ser que ele “é o candidato do governador”. ou
que terá “o apoio do governador”. Nenhum traço de sua curta biografia mereceu
registo. Analistas indicam que a pequena rejeição de Normando tem mais a ver
com o desconhecimento do que com “aprovação”, no sentido que a ausência de
rejeição poderia sugerir.
O
fato de Igor Normando sair dessa eleição como entrou - como o “primo do
governador”, não afeta sua trajetória ascendente porque os demais competidores
- com clara exceção para Eder Mauro - não conseguem construir argumentos,
racionais ou emocionais, que motivem o eleitor a vê-los como alternativa. Os
números confirmam essa percepção.
Combinação de fatores
A
mais recente pesquisa do Instituto Quaest, publicada ontem, mostra a robusta
vantagem de Igor Normando, que exibe 42% de intenções de voto no cenário
estimulado, destacando uma mudança significativa na expectativa eleitoral,
especialmente em comparação com a última pesquisa, onde ele registrava apenas
21%.
Essa
ascensão meteórica pode ser atribuída a uma combinação de fatores, incluindo a
insatisfação com a administração atual, mas se sustenta, por óbvio, na
capacidade de Helder Barbalho de posicionar seu candidato como uma alternativa
viável.
Descendo a ladeira
O
atual prefeito, Edmilson Rodrigues, do Psol, que busca a reeleição, experimenta
sua maior queda, passando de 15% para 11% nas intenções de voto, com tendência
decrescente, ou seja, ao curso descendente ainda segue como tendência. Essa
diminuição, que o coloca em uma posição de vulnerabilidade, é interpretada como
um reflexo da insatisfação popular com sua gestão, mas esconde um rotundo erro
de estratégia, tanto do ponto de vista político, quanto de comunicação.
Edmilson
escolheu falar para seu próprio público. Isso o levou a virar as costas para os
setores médios, de centro, que querem fugir da polarização e que, mesmo diante
da falta de argumentos da campanha de Igor Normando, escolhem a segurança do
guarda-chuvas de Helder Barbalho, que segue com aprovação elevada entre os
eleitores da capital.
Falta de identidade
José
Paiva, consultor político paulistano que já passou por três temporadas em Belém
e hoje conduz uma das campanhas no Amapá, observa a falta de identidade pessoal
na campanha de Normando. Para ele, as campanhas de Helder Barbalho em 2018 e
2022, a campanha de José Priante em 2020 e a campanha de Igor Normando agora
são idênticas em argumentos, iconografia e conceitos. “Não é a campanha do
Igor. É a campanha do MDB. Idêntica a si mesma. Se o candidato fosse o Zeca
Pirão, por exemplo, a campanha seria igual. Eles não se importam porque o peso
da máquina e a incapacidade dos adversários levam adiante o candidato sem que
ele precise de suporte de qualquer argumento. É um arrastão. A comunicação não
ganha um único voto. Não converte. Porque o eleitor não está votando no Igor,
está votando em Helder e no que ele pode fazer por Belém”.
Sem argumentos
Sobre
Edmilson, Paiva observa que o eleitor esperava dele uma autocrítica e um
projeto de cidade e não recebeu nem um, nem outro. “Quem já governou três
vezes a cidade não pode chegar a uma eleição sem um projeto global que indique
soluções para os problemas estruturais da cidade. Os demais candidatos podem
fazer o que estão fazendo, apresentando propostas genéricas que parecem ter
sido geradas no chatGPT. É fake, mas não importa. Mas Edmilson quer ser um dos
raros políticos a governar quatro vezes a capital de um Estado. O eleitor
precisa de um argumento para dar a ele tamanho prêmio”.
Lei da gravidade
O
fato de que Edmilson Rodrigues está tecnicamente empatado com Thiago Araújo, do
Republicanos, e Jefferson Lima, do Podemos, em terceiro lugar, ambos com
percentuais que oscilam entre 5% e 6%, indica que a corrida pela prefeitura
está sendo premida pela lei da gravidade, com o candidato do MDB usufruindo dos
votos úteis que escapam dos candidatos que se demonstram inviáveis ao eleitor.
Outro ponto relevante da pesquisa é a oscilação de Delegado Eder Mauro, do PL,
que passou de 23% para 21%. Embora tenha perdido um pouco de apoio, ainda se
mantém como um candidato forte, especialmente se considerarmos a margem de
erro. Na terceira divisão, por assim dizer, a disputa entre os candidatos que
estão na faixa de 5% a 6% é acirrada, com a possibilidade de que qualquer um
deles possa desaparecer diante do peso da máquina e da disposição do eleitor de
liquidar um pleito sem emoção ainda na primeira volta.
Imagem sobre imagem
A
análise do cenário espontâneo revela um crescimento significativo do candidato
de Helder Barbalho, que saltou de 9% para 26% das intenções de voto
espontâneas. Esse aumento é um indicativo de que o fenômeno printing - a
impressão de uma imagem sobre a outra - está se consolidando entre os
eleitores, mesmo sem a apresentação de argumentos de fato persuasivos. O
crescimento de Eder Mauro de 9% para 14% também sugere que ele está conseguindo
captar a atenção dos eleitores que buscam alternativas ao atual prefeito, mas
também indica que ele parece ter batido no teto.
Águas para o mar
A
margem de indecisão, que subiu de 6% para 8%, e a ligeira queda no percentual
de votos nulos ou brancos, de 7% para 6%, indicam que, embora haja um número
expressivo de eleitores indecisos, a maioria parece estar começando a se
decidir em favor da candidatura que demonstra maiores chances de vencer. Essa
dinâmica pode ser crucial nas semanas que antecedem a eleição.
A pesquisa foi realizada com 900 entrevistas e apresenta uma margem de erro de
3 pontos percentuais, o que confere uma boa confiabilidade aos dados. A
diversidade de candidatos e a movimentação nas intenções de voto sugerem que a
eleição em Belém será uma disputa sem grandes emoções, com Igor Normando se
destacando como o favorito.
“Paz e amor”
Na
TV, além da campanha asséptica de Igor Normando, estilo comercial de margarina,
destaca-se positivamente a campanha, surpreendente, de um Éder Mauro “paz e
amor”, falando mansamente, apresentando uma mulher como vice e interagindo com
“Caramelo”, seu cão de estimação, beliscando votos da causa animal que Normando
monopolizou.
Thiago Araújo, por sua vez, encheu as esquinas com fotos suas ladeado por
Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo. “Sou Tarcísio”, diz a placa. O
eleitor desavisado perguntaria quem é Tarcísio - os mais antenados buscam
entender como um governador de São Paulo poderia ajudar a um prefeito de Belém.