or muito tempo, a falta de profissionalismo dos clubes paraenses, sobretudo em se tratando de regularidade no pagamento de salários e garantia de direitos trabalhistas, figurava como principal empecilho para que talentosos ou famosos atletas desembarcassem por essas bandas para assumir compromissos com Remo e Paysandu.
Hoje, apesar do grau de profissionalismo em pé de igualdade com qualquer outro clube do País - ou porque a própria Justiça do Trabalho garante isso aos jogadores -, outros fatores seguem como barreira para que os clubes rompam a bolha de contratações expressivas no mercado do futebol, ainda que ambos estejam, este ano, na Série B do Campeonato Brasileiro.
Segundo São Pedro
A noite da última terça-feira, 28, deixou claro que a estrutura dos estádios é o principal entrave. Não é de hoje que o inverno amazônico castiga os gramados paraenses. E não é de hoje, também, que a falta de investimento para resolver o problema compromete o torneio em qualidade, expectativa e integridade física dos jogadores. O que se viu na partida entre Paysandu e Tuna, na Curuzu, é apenas uma repetição de edições anteriores.
A chuva torrencial que caiu sobre Belém naquela noite interrompeu a partida por cerca de uma hora. Quando diminuiu, os rodos entraram em campo. Mas a retomada da partida após um episódio desses, de acordo com profissionais da área, é algo que pode resultar em graves problemas, sobretudo lesões. Além do clima impróprio, os músculos esfriam e o esforço para retomar a intensidade da partida é duas vezes maior.
Esforço sobrado
O fisiologista Igor Solheiro, que trabalhou ano passado no Paysandu e hoje está na Portuguesa de Desportos (SP), conhece bem essa realidade. Ele alerta para o risco de lesões graves caso um reaquecimento - paradas como a de terça-feira, ou mesmo uma má preparação antes da temporada - podem provocar em jogadores não acostumados com tamanha intensidade.
“As condições dos gramados, sob chuvas intensas, também provocam fadiga precoce da musculatura, já que o atleta precisa produzir muito mais força para superar o solo encharcado. Uma das saídas seria ter um elenco equilibrado em qualidade, e não apenas em quantidade, para que os atletas se revezem nesse esforço e o grupo seja preservado”, explica.
Tempo ao tempo
A literatura relacionada à fisiologia do futebol mostra que o tempo hábil de recuperação muscular entre uma partida e outra é de 72 horas. Mas, no Parazão, especificamente, outros agravantes precisam ser colocados na conta para se alcançar essa reabilitação física. Entre eles, as distâncias entre locais de jogos, as condições de deslocamento e o curto tempo para realizar a competição.
Além disso, a busca pelo título estadual hoje funciona como uma espécie de armadilha para os elencos de Remo, Paysandu, Águia e Tuna. O esforço intenso nesse período de chuvas compromete muito o elenco para as demais competições. Para Leão e Papão, Série B, Copa Verde e Copa do Brasil. Para Águia e Tuna, a Série D, a Copa Verde e a Copa do Brasil. O risco é ver jogadores chegarem desgastados ou lesionados nesses torneios devido ao curto período de tempo entre o fim de uma competição e o início de outra.
Caminho sem volta
Para o fisiologista Érick Cavalcante, do Clube do Remo, o investimento em bons gramados poderia resolver muito do problema, mas os altos custos para esse tipo de projeto fogem à realidade da maioria dos clubes. “Jogamos este final de semana em Augusto Corrêa (Estádio Estrelão), onde tudo é novo, mas o gramado precisa de consolidação, não está bom. Mas aí você faz o quê? Deixa de jogar? Não. Temos que ir para o jogo”, ressaltou.
Érick explica que a realidade paraense faz com que grande parte do trabalho preparatório seja voltado para a prevenção de lesões. “A situação é bem pior nos times “menores” onde já tive a oportunidade de trabalhar: não há condições médicas nem assistenciais. Lá, você vê jovens talentos simplesmente encerrarem a carreira diante de lesões que não recebem o devido tratamento, quase todas, adquiridas a partir de elementos externos, como as péssimas condições de gramados”.
Céu de estrelas
A Série B, pelo atrativo que carrega em si, garantiu ao Remo nomes de destaque para este ano, entre eles Dodô, Denner e Felipe Vizeu. O Paysandu também investiu pesado e trouxe para a temporada 2025 o volante Matheus Vargas, o lateral PK e os atacantes Matías Cavalleri e Rossi. E, até aqui, todos na chuva para se molhar.
Resta às equipes com mais jogos no calendário - Remo, Paysandu, Tuna Luso e Águia de Marabá - encontrar uma fórmula para conquistar o Estadual a um preço que não comprometa o desempenho nas demais competições que estão por vir. A solução, todos sabem: como fazer para tirar do papel, é que são elas...
Papo Reto
·Em meio a tantas reclamações de que os “amazônidas” não estão sendo ouvidos nos preparativos da COP30, a secretária de Cultura do Pará, Ursula Vidal (foto), tratou de fazer a “lição de casa”.
·Ontem, quarta-feira, Ursula se reuniu com mais de 60 produtores culturais para a criação de um grupo de trabalho que vai pensar estratégias para a programação cultural da Conferência e no fortalecimento da economia criativa local.
·A reunião, no Palacete Faciola, antes da chuva cair e derrubar uma mangueira bem ao lado prédio, teve a presença do presidente da Fundação Cultural do Pará, Thiago Miranda e do secretário da COP de Belém, André Godinho.
·Drones sobrevoam imóveis em Marituba onde um deputado federal decidiu, na maior boa vontade, pavimentar uma área de invasão. Fique claro desde já: um deputado federal, não a prefeitura.
·Uma coisa é certa: a Federação Paraense de Futebol não consulta o serviço de meteorologia para programar os jogos do Parazão. É tão errada quanto qualquer errante, coitada.
·Perguntar não ofende: para que serve o serviço de meteorologia?
·Joércio Barbalho, amigo da coluna de longa data, que vive em Bragança, diz coisas tão interessantes no seu blog Pedro Álvares Cabral que alguns políticos atuais precisam saber.
·JB tem expertise de sobra: foi deputado estadual e dirigente de órgão públicos no Estado. Mais: adquiriu o conhecimento da idade.
·Anote: o governo Lula vai chamar a cavalaria do STF para salvar o programa Pé-de-Meia, que teve seus recursos bloqueados depois que a área técnica do TCU descobriu a malandragem oficial - as pedaladas - de utilizar dinheiro público sem previsão orçamentária, como manda a lei.