O Brasil obteve 416 pontos numa avaliação internacional de educação financeira, 82 pontos abaixo da média da OCDE (498). No ranking internacional, ficamos numa infame terceira pior colocação, à frente apenas de Malásia e Arábia Saudita.
Com o aumento das responsabilidades de cada um frente à complexidade dos produtos financeiros disponíveis, acredito já estarmos na hora de se começar a educar massivamente os jovens para que gerenciem melhor suas finanças.
Entendo que essa disciplina representa um caminho promissor e inadiável, pois o Brasil precisa de um plano formal voltado ao desenvolvimento da educação financeira em suas escolas, capaz de preparar os alunos para tomarem decisões corretas e equilibradas sobre o dinheiro, evitando os vícios e as armadilhas financeiras tão corriqueiras num cenário excessivamente consumista como o atual.
Sem dúvida, compreender conceitos como poupança, investimento, orçamento e crédito pode contribuir muito para que os jovens, principalmente eles, tenham mais chances de construir estabilidade financeira.
Os benefícios da educação financeira nas escolas passam pelo desenvolvimento de habilidades práticas, proporcionando aos alunos ferramentas inteligentes de planejamento e controle de gastos, para uso ao longo da vida. Compreender a dinâmica de funcionamento dos juros e dos empréstimos, por exemplo, pode ser decisivo para que os jovens não caiam nas armadilhas do endividamento consumista.
Ao garantir educação financeira a todos os alunos, independentemente da origem socioeconômica, as escolas também contribuirão para nivelar o campo de jogo, proporcionando oportunidades iguais para todos, além de despertar uma mentalidade empreendedora capaz de incentivar a garotada na busca de oportunidades de negócio e inovação.
Mas para que a educação financeira alcance eficácia é necessário um currículo bem estruturado que aborde diferentes aspectos das finanças pessoais, incluindo a integração de currículo em disciplinas já existentes, como matemática e até mesmo estudos sociais e outras.
As parcerias com instituições financeiras e especialistas em finanças para capacitar professores e desenvolver materiais educativos e palestras, também podem ser bastante úteis, assim como o uso de tecnologias educacionais - plataformas digitais e aplicativos que possam tornar o aprendizado mais interativo e acessível.
A introdução da educação financeira nas escolas, frente a um universo cada dia mais dinâmico e implacável, enfrenta percalços, mas com um conteúdo relevante e atualizado, poderá não apenas abordar as necessidades específicas dos alunos, mas também funcionar como um verdadeiro "divisor de águas" coletivo.
A chave de tudo está no compromisso dos governos e na boa vontade das instituições educacionais, porque enquanto Projetos de Lei como o 2747/24, que propõem não mais a transversabilidade, mas a obrigatoriedade da educação financeira no currículo da educação básica das escolas públicas e particulares do Brasil, seguem em análise na Câmara dos Deputados, países como o Reino Unido, Albânia, Áustria, Estados Unidos, Peru, Paraguai, China, Indonésia, Taiwan e Cingapura já têm, há anos, a educação financeira integrada ao currículo regular com ótimos resultados.
Embora muitos educadores aleguem que as grades curriculares já estão saturadas, as perspectivas de aprovação são bem animadoras, até por conta de alinhar as políticas públicas de combate à pobreza e estímulo ao empreendedorismo defendidas pelo atual governo.
Foto: Agência Pará
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*José Croelhas é economista, consultor, escritor e palestrante.