O tenente-coronel Mauro
Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), prestou
depoimento por mais de nove horas à Polícia Federal. O oficial já havia sido
interrogado pelos investigadores outras seis vezes, sendo que em três delas
havia ficado calado. Nesta segunda-feira, 11, o militar chegou às 15h para
depor. Segundo o site G1, o interrogatório terminou à 00h15 desta terça-feira, 12.
Preso por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF), acabou fazendo acordo de
delação premiada com a PF e só então passou a responder as perguntas sobre seu
envolvimento e do ex-presidente Bolsonaro em várias irregularidades: da
tentativa de se apropriar de joias recebidas de presidente do regime da Arábia
Saudita ao esquema para fomentar um golpe de Estado e impedir a posse de Luiz
Inácio Lula da Silva.
Em agosto passado, Mauro Cid prestou dois longos depoimentos. Um durou 10
horas, outro 12. Foi nessa época em que passou a detalhar supostos crimes já na
qualidade de delator. Seu depoimento serviu de base para a operação Tempus
Veritatis, deflagrada pela corporação em fevereiro deste ano e que teve como
alvos o próprio Bolsonaro e generais que teriam compartilhado com o
ex-presidente a ideia de impedir a posse de Lula.
O novo depoimento de Mauro Cid veio na sequência de interrogatórios dos
ex-comandantes do Exército, o general Freire Gomes; e da Aeronáutica, o
tenente-brigadeiro Baptista Júnior. Freire Gomes atestou que Bolsonaro tinha
conhecimento da chamada "minuta do golpe", um plano que previa até a
prisão do ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) e ministro do STF. Os investigadores buscam esclarecer detalhes
revelados pelo ex-comandante do Exército e que Mauro Cid não detalhou.
No interrogatório desta segunda-feira, a PF também estava interessada em cobrar
mais detalhes da reunião ministerial de julho de 2022, na qual Bolsonaro antevê
a possibilidade de ser derrotado nas eleições daquele ano e pede a seus
ministros que acionem o "plano B". No encontro no Palácio do
Planalto, Bolsonaro diz ao grupo que não pode "deixar chegar as eleições e
acontecer o que está pintando". "Vocês estão vendo agora que... eu
acho que chegaram à conclusão. A gente vai ter que fazer alguma coisa
antes", diz ele, insinuando a possibilidade de fraude nas eleições daquele
ano.
O vídeo da reunião foi encontrado pela Polícia Federal a partir do computador
de Mauro Cid, em um serviço de armazenamento na nuvem. No entanto, a defesa do
ex-ajudante de ordens de Bolsonaro disse que ele nem sequer sabia da existência
do encontro, e não estava presente.
Fonte: Estadão conteúdo
Foto: Lula Marques/Agência Brasil