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Preços de luxo

Catálogo da COP30 aponta para consumo elitista, com escolha "verde" inflacionada

Empresa responsável pela estrutura exibe valores que contrastam com o discurso de sustentabilidade: cafés mais caros que refeições, cadeiras de US$ 1,4 mil e painéis de LED a US$ 25 mil por dia.

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  • Da Redação | Coluna Olavo Dutra
  • 19/10/2025, 11:00
Catálogo da COP30 aponta para consumo elitista, com escolha
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catálogo oficial de bens e serviços da emprea do Grupo RG Promoções e Eventos, contratada pela Organização dos Estados Ibero-americabnos como reponsável pela estrutura, montagem e operação da COP30 em Belém, expõe uma realidade desconfortável: o evento que deveria simbolizar a responsabilidade climática e o consumo consciente está precificado como se fosse uma feira de luxo.

No espaço destinado a patrocinadores e parceiros privados, estandes e lounges corporativos competirão em visibilidade e conforto/Fotos: Divulgação.
De cadeiras de design alugadas por US$ 1,4 mil a unidade a painéis de LED cotados em mais de US$ 2 mil por metro quadrado-dia, a lista de produtos e serviços parece pensada mais para um camarote vip do que para uma conferência climática.

Lógica na Zona Verde

O item que mais chama atenção é uma cadeira especial de alto padrão, oferecida a US$ 1.400 por unidade - sem que o catálogo justifique a exclusividade, o material ou a razão ambiental para o valor. A peça integra o mobiliário disponível para a chamada Zona Verde, espaço destinado a patrocinadores e parceiros privados, onde os estandes e lounges corporativos competirão em visibilidade e conforto.
Em tese, a Zona Verde seria o ambiente da “sustentabilidade aplicada”, um espaço de inovação e economia verde. Na prática, os preços praticados pela empresa transformam o setor em uma vitrine de status: quanto mais se paga, mais “verde” o estande parece - mesmo que o impacto ambiental e o custo social das escolhas indiquem o contrário.

Café com preço de joia

Nem o cafezinho escapa da lógica inflacionada. A máquina de autosserviço custa US$ 371 por dia, com 200 doses incluídas - o que equivale a US$ 1,86 por xícara. O paradoxo: as doses adicionais são mais baratas (US$ 1,10 cada). Com barista, o valor dispara para US$ 892 por dia, ou US$ 4,46 por dose.
O mesmo padrão de descompasso aparece nos coffee breaks, todos com o mesmo preço - US$ 113,17 por pessoa, com mínimo de 50 pessoas -, mas com durações distintas: 2h, 1h e 45min. Na prática, quanto menor o tempo, maior o custo por hora, o que eleva o valor de um coffee break “premium” para o equivalente a US$ 150 por pessoa-hora.
Há ainda os coffees regionais, anunciados como valorização da cultura brasileira, mas com valores que beiram o absurdo: US$ 139 por pessoa para 45 minutos de serviço - o que ultrapassa US$ 185 por hora-pessoa.

Luxo digital e incoerência

Em infraestrutura, o exagero é ainda mais evidente. Um painel de LED P4 custa US$ 2.142,86 por metro quadrado-dia - o que significa que uma tela de 12 m² pode ultrapassar US$ 25 mil diários. Enquanto isso, uma TV 85”, capaz de cumprir o mesmo papel em estandes menores, sai por apenas US$ 180-dia.
O serviço de internet também traz distorções: por US$ 129-dia, o catálogo promete rede para até 10 pessoas em 100 m², mas com 12 access points - configuração completamente desproporcional. Para especialistas, trata-se de superdimensionamento técnico: uma solução de palco vendida para uso de escritório, com custo de banda e equipamento multiplicado sem necessidade real.

Preço do “copo verde”

Os itens de consumo diário mostram que o discurso ambiental não se reflete na planilha. Um galão de 20 litros de água custa US$ 7, e cada copo biodegradável, US$ 0,30. Já a água em lata de 310 ml sai por US$ 1,50 - quatro vezes mais cara por volume e com muito mais impacto de embalagem.
Ou seja: quem quiser ser sustentável e usar galão com copo biodegradável pagará mais caro por isso. A lógica deveria ser inversa, com incentivos a práticas de menor pegada ambiental. Mas no catálogo da COP30, o “verde” parece ser apenas uma categoria de marketing, e não de preço.

Tabela única

Os custos de pessoal são uniformes: técnicos e garçons custam US$ 181–183 por 10 horas, e limpeza US$ 111 pelo mesmo período. Embora pareçam valores coerentes entre si, o catálogo não apresenta nenhum parâmetro público de referência, nem explicita se há encargos trabalhistas, transporte ou alimentação inclusos.
Para um evento de dimensão global e de interesse público, a ausência de critérios claros sobre remuneração e custos operacionais viola o princípio básico da transparência administrativa.

É muita contradição

Na chamada Zona Verde da COP30, o contraste entre o discurso e a prática é gritante. Enquanto líderes mundiais debaterão metas de redução de emissões, os estandes corporativos poderão exibir cadeiras de US$ 1,4 mil, painéis de US$ 25 mil por dia e cafés de US$ 4 a dose - tudo dentro de um espaço que deveria simbolizar o compromisso com o planeta e com a Amazônia.
A empresa que venceu a licitação para organizar o evento alega que o catálogo segue “padrões internacionais de conferências da ONU”. Mas os valores praticados mostram um padrão mais próximo de feiras corporativas de luxo do que de um fórum climático voltado à equidade e à economia verde.

Preço do sustentável

O que o catálogo da COP30 revela é mais do que inflação de preços: é uma distorção simbólica. A conferência que promete defender a sustentabilidade global está estruturada sobre uma lógica de consumo elitista, onde cada escolha “verde” custa mais caro e cada item simples vem com o selo da exclusividade.
Na Belém da COP, a sustentabilidade corre o risco de virar um produto premium - vendido em dólares, com embalagem biodegradável e etiqueta de luxo.
Erramos: a GL, citada anteriormente nesta matéria, não é responsável pela estrutura, montagem ou operação da COP30. Nem como contratada nem como subcontratada. A empresa não ganhou licitação, nem sequer foi consultada para enviar seu catálogo de serviços para essa finalidade. Sua citação ocorreu por erro docu8mental, pelo que nos desculpamos.

Papo Reto

Pedro Vaz de Caminha, festejado blog de Joércio Barbalho, deu a notícia que Bragança queria: o prefeito Mário Júnior (foto), do MDB, é cotado para concorrer a deputado estadual na "vaga" do ex-prefeito Raimundo Oliveira. 

•Na cidade, o bom da notícia não é a possibilidade da candidatura, mas a certeza de que, para tal, Mário Júnior terá que se desincompatibilizar do cargo de prefeito. Jesus, Maria e José... 

Quem precisa contatar a Prefeitura de Garrafão do Norte - que só funciona no período da manhã - descobre que o telefone fixo disponível no site não completa ligação e que o próprio site oficial é "só de faz de conta", pois não oferece acesso a informações nem a canais alternativos de atendimento virtual.

•Só indo lá: assim, "fica impossível resolver demandas básicas como emissão de guia de IPTU, ITBI, certidão ou obter esclarecimentos junto à administração municipal" garante leitor da coluna.

A tilápia, espécie domesticada e criada há mais de 25 anos em cativeiro com autorização do Ibama, poderá ser proibida se depender da Comissão Nacional de Biodiversidade, o Conabio, vinculada ao Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, de Marina Silva, que insiste esse peixe na lista de espécies invasoras.

•Principal motor da piscicultura no Brasil, gerando bilhões em faturamento e centenas de milhares de empregos diretos e indiretos, o cultivo da tilápia já foi duramente prejudicado com a abertura das importações do peixe criado no Vietnã, mais barato porque não cumpre protocolos de sanidade.

Ou seja, além da queda, o coice! Entidades e produtores nacionais, então, iniciaram uma verdadeira cruzada para mostrar ao governo federal o tamanho do absurdo - porque não existe nenhum embasamento técnico para a medida -, que o Conabio pretende promover.

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Olavo Dutra

Jornalista, natural de Belterra, oeste do Pará, com 48 anos de profissão e passagens pelos jornais A Província do Pará, Diário do Pará e O Liberal.