Dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) realizada pelo IBGE mostram que em nove anos a qualidade de vida do brasileiro melhorou, mas as desigualdades permanecem grandes. Famílias em que a pessoa de referência é preta ou parda ou mulher ou ainda que possui menor renda ou baixo grau de instrução têm menos bem-estar. Moradia, saúde, educação e lazer foram os setores onde mais houve avanços. A pesquisa comparou os dados do levantamento feito em 2017/2018 com os de 2008/2009.
O estudo não considera a renda dessas famílias e se atém a observar dimensões do bem-estar das famílias para além dos gastos com produtos e serviços. Os parâmetros são moradia, meio ambiente, acesso a serviços financeiros, acesso a serviços de utilidade pública (iluminação, por exemplo), além de saúde, alimentação e educação.
O Índice de Desempenho Socioeconômico (IDS), também observado pelos pesquisadores, cresceu 12,8% entre as duas edições da POF, passando de 5,452 para 6,147. Esse índice relaciona a renda per capita com o Índice de Perda de Qualidade da Vida (IPQV), ou seja, incorpora a dimensão da renda no indicador.
Nas regiões Norte e Nordeste, o índice ficou em 0,223 e 0,207, respectivamente. No Centro-Oeste, em 0,158. Abaixo da média brasileira (0,157) aparecem as regiões Sul (0,114) e Sudeste (0,126). Outras desigualdades foram verificadas quando a pessoa de referência era mulher, tinha menor nível de instrução, menor renda, e a família tinha ao menos uma criança.
Pará tem menor crescimento socioeconômico
O desempenho socioeconômico do país, por sua vez, também avançou no intervalo de nove anos. De acordo com o IBGE, o Índice de Desempenho Socioeconômico (IDS) do Brasil passou de 5,452 para 6,147 puxado pelo avanço da renda disponível e da redução das perdas da qualidade de vida.
Todos estados tiveram melhora no desempenho socioeconômico no período, sendo os maiores observados em Roraima (32%), e Sergipe (25,8%) e os menores no Rio Grande do Sul (9,1%) e Rio de Janeiro (5,6%). Os maiores desempenhos foram registrados no Distrito Federal (6,981) e São Paulo (6,878), e os menores no Maranhão (4,909) e Pará (5,108).
Educação, finanças e lazer
As questões relacionadas à educação, ao acesso aos serviços financeiros e padrão de vida e ao transporte e lazer foram as que mais pesaram contra a qualidade de vida do brasileiro. Nesse sentido, segundo o IBGE, a pesquisa mostra o que precisa ser priorizado no combate às perdas da qualidade de vida da população brasileira. Contudo, a qualidade de vida tem um caráter multidimensional. Por isso, é necessário considerar que diferentes áreas da vida impactam o bem-estar das famílias.
A pesquisa também aponta que uma mesma área da vida - como é o caso da moradia - pode impactar de modo diferente as famílias. Há uma larga distância entre o que afeta os lares das famílias brasileiras quando se observam os 10% mais ricos e os 10% mais pobres. Entre os mais pobres, aspectos ligados à estrutura do domicílio (66,1%) - como a quantidade de dormitórios, se há presença de umidade na casa, inadequação de piso ou telhado, ou violência próxima ao lar - são mais importantes do que fatores associados ao meio ambiente (33,1%).
Neste, são considerados aspectos como problemas ambientais causados por trânsito, esgoto a céu aberto e se a área está sujeita a deslizamento ou inundação. Entre os 10% mais ricos, a situação se inverte: o meio ambiente passa a ter uma importância maior (52,8%) do que a estrutura do domicílio (47,2%).
Sobre os índices
O Índice de Perda de Qualidade da Vida (IPQV) é formado a partir de um conjunto de 50 indicadores, organizados em seis categorias: moradia; serviços de utilidade pública; saúde e alimentação; educação; acesso a serviços financeiros e padrão de vida; e transporte e lazer. Todos são não monetários, ou seja, não há influência de rendimento na pesquisa. São considerados fatores como as condições de moradia e dos serviços básicos (coleta de lixo e energia elétrica, por exemplo), oferta de transporte público, acesso a bens duráveis, entre outros. Os valores do IPQV variam de 0 a 1, sendo que, quanto mais perto de zero, menor a perda de qualidade de vida.
Já o Índice de Desempenho Socioeconômico (IDS) é calculado a partir da renda per capita e do Índice de Perda de Qualidade de Vida (IPQV). Quando maior o índice, melhor a capacidade de um estado transformar os seus recursos em qualidade de vida e bem-estar para população.
(Com informações de O Globo)