Bienal das Amazônias expõe trabalhos de 74 artistas e coletivos de oito países

Semana de abertura será marcada por uma programação intensa de performances e encontros públicos

22/08/2025, 20:00
Bienal das Amazônias expõe trabalhos de 74 artistas e coletivos de oito países





Belém, PA - A 2ª Bienal das Amazônias abrirá ao público no dia 27 de agosto de 2025 em Belém (PA) com o conceito curatorial Verde-Distância. A mostra, que reúne trabalhos de 74 artistas e coletivos de oito países da Pan-Amazônia e do Caribe, seguirá aberta até 30 de novembro, com entrada gratuita. Esta edição apresenta uma constelação de práticas artísticas que atravessam territórios, sonhos, memórias, linguagens e escutas. A curadoria é de Manuela Moscoso (curadora-chefe), junto com Sara Garzón (curadora adjunta), Jean da Silva (cocurador do programa público), e Mónica Amieva (curadora pedagógica).


A 2ª edição conta com patrocínio master do Nubank, Shell e Vale, e patrocínio do Mercado Livre, todos por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. Conta ainda com o apoio institucional do Instituto Cultural Amazônia do Amanhã (ICAA) e da Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa na Amazônia (FADESP).


A Shell acredita que a cultura é uma poderosa ferramenta para o desenvolvimento de um país. Através do nosso apoio à Bienal das Amazônias estamos possibilitando, juntos, a visibilidade e valorização dos artistas daquela região”, comenta Glauco Paiva, gerente executivo de Comunicação e Marca da Shell Brasil.


“Há 40 anos atuamos no Pará e temos buscado democratizar o acesso à cultura, valorizando a diversidade de expressões artísticas da região. A Bienal das Amazônias é um dos grandes momentos desse movimento, ainda mais relevante neste ano que antecede a COP30”, afirma Hugo Barreto, diretor-presidente do Instituto Cultural Vale. 


Segundo Manuela Moscoso, a 2ª Bienal se orienta por atmosferas, forças relacionais e condições de escuta. O ponto de partida curatorial foi a expressão “verde-distância”, retirada do romance Verde Vagomundo, do escritor paraense Benedicto Monteiro. “Distância não é ausência. É matéria. É uma forma de relação que preserva em vez de isolar, que permite o cuidado sem domínio e a copresença sem fusão”, afirma a curadora. “Verde-distância é também uma ética de escuta - uma atenção ao que resiste à tradução, ao que se move entre corpos e mundos sem se deixar capturar”, analisa. Essa abordagem atravessa toda a exposição, que se articula em torno de três forças sensíveis - sonhos, memória e sotaque - já presentes, de diferentes formas, nas práticas dos artistas participantes.


A semana de abertura será marcada por uma programação intensa de performances e encontros públicos. Um dos momentos centrais será a homenagem ao artista acreano Roberto Evangelista (1947–2019), cuja trajetória combinou performance, vídeo criação, escrita e pedagogia como formas de resistência cultural e preservação de histórias afro-amazônicas e indígenas. Evangelista é reconhecido como figura fundamental e pioneiro da arte na região.


Durante a semana de abertura, o público é convidado a participar das Assembleias Verde-Vagomundo - rodas de conversa que reúnem artistas participantes, curadores e visitantes em torno de práticas, experiências e formas de escuta e conversa. Inspiradas na escrita de Benedicto Monteiro, as assembleias são espaços de pensamento partilhado, onde se cruzam vozes, percursos e territórios. Em cada encontro, os eixos sensíveis da Bienal - sonhos, memória, sotaque e distância - orientam os diálogos, que acontecem sem hierarquias e com atenção ao que se constrói entre as falas. São momentos em que a presença coletiva se afirma como método curatorial.


Manuela explica que a 2ª Bienal das Amazônias – Verde-Distância é fruto de um processo curatorial construído por meio de visitas, escutas e pesquisas em territórios brasileiros como Marajó, Amapá, Acre e Boa Vista, e pan-americanos como Guiana, Suriname, Peru, Equador, Colômbia, entre outros territórios. “Buscamos criar uma exposição que amplifique o trabalho dos artistas e que atue como experiência sensível e intelectual para quem a atravessa. Uma curadoria que se constrói como narrativa viva, feita de encontros entre práticas distintas, vozes múltiplas e presenças potentes da região pan-amazônica e para além dela”, afirma Moscoso.


A identidade visual da 2ª Edição da Bienal das Amazônias foi criada pela designer Priscila Clementti e pelo artista Bonikta. A expografia é assinada pela arquiteta Isabel Xavier, segundo a qual o projeto expográfico pensou espaços que convidam as pessoas a acessarem de maneira ativa e criativa o exercício do sonho. “O gesto construtivo preza pela bioeconomia amazônida e formas de presença conectadas ao território, agregando valor e fortalecendo as cadeias produtivas locais em consonância com a multiplicidade de sotaques proposta pela curadoria”, explica Isabel.


A mostra ocupa os oito mil metros quadrados do Centro Cultural Bienal das Amazônias (CCBA), reunindo obras que atravessam espiritualidade, sonoridade, corporalidade, narração e resistência. Em vez de impor um percurso fixo, a exposição se constrói como território em movimento, onde práticas artísticas se entrelaçam com histórias, ritmos e formas de viver. Conforme Manuela Moscoso, é um lugar que convida à presença, à pausa e à escuta. “Queremos criar uma experiência que se afirme com densidade e cuidado, um percurso encarnado, feito de encontros, intervalos e sentidos que não se fecham”, finaliza.


A 2ª edição da Bienal das Amazônias faz parte da Temporada França-Brasil 2025, evento que visa dar um novo impulso à relação bilateral entre os dois países. A França apoia artistas dos territórios ultramarinos franceses que expõem nesta edição.


Programação


Com uma programação vibrante e plural, a semana de abertura, de 27 a 31 de agosto, irá trazer uma série de ações artísticas e encontros reflexivos. Na quarta-feira (27), a programação no CCBA, a partir das 12h, inclui performance de Delfina Nina (ativação de obra, 2º piso); performance de Nathyfa Michel (ativação de obra, 2º piso); pintura-performance de Nathalie Leroy Fiévée (ativação de obra, 3º piso); Assembleia Verde-Memória, a partir das 15h30, com moderação de Manuela Moscoso; e performance de Akha (Sonhário) a partir das 18h.


Na quinta-feira (28), continua a programação no CCBA a partir das 15h30 com a Assembleia Verde-Distância moderada por Sara Garzón; e a performance Destemplado, de Wilson Diaz (Sonhário), a partir das 18h.


Na sexta-feira (29), o público poderá assistir no CCBA. a partir das 12h a performance de Mapa Teatro/Nukak e Mali Salazar, além de participar da Assembleia Verde–Sotaque, que reúne artistas como Astrid González, Dayro Carrasquilla, Emperatriz Plácido San Martín, entre outros, em uma conversa sobre linguagem, identidade e território.


No sábado (30), as performances continuam no CCBA a partir das 11h30 com Gwladys Gambie, Rubén Barrios e novamente Mapa Teatro/Nukak. A partir das 16h30, as programações ocorrerão no Ver-o-Rio, começando com a Assembleia Verde–Sonhos, mediada por Jean da Silva, com artistas indígenas e amazônicos discutindo o sonho como forma de conexão e saber. Às 18h ocorrerá uma performance de Roberto Evangelista, em que o público será convidado a interagir à beira do rio, encerrando com atividades até às 22h.


No domingo (31), a programação no CCBA segue com uma performance de Roma Rio às 12h30, marcando o encerramento do ciclo de atividades do fim de semana.


Foto: Ana Dias

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