m fevereiro deste ano, quando começaram as especulações sobre as candidaturas às prefeituras, Belém, única cidade do País administrada pelo Psol, passou a ser “vidraça” para uma parte da imprensa nacional, supostamente para atingir Guilherme Boulos, do mesmo partido, candidato à Prefeitura de São Paulo, maior e mais rica do Brasil.
As informações sugeriam que ‘um
presidente da República de esquerda’ - Lula - ‘ainda é suportável’, mas
‘entregar’ a cidade que movimenta a economia do Brasil - São Paulo - ‘a um
partido da esquerda é demais’.
Não à toa, o maior jornal de São
Paulo - a “Folha” - e o maior do Rio de Janeiro - “O Globo” - publicaram
reportagens denunciando a crise do lixo. “Vejam como fica uma capital
brasileira importante sob a administração do Psol”, lia-se. Título da
reportagem da “Folha” publicada em 4 de fevereiro de 2024 apontava:
"Greves, lixo e investigações da prefeitura do Psol em Belém fustigam
Boulos em São Paulo”. Em 2020, o Psol elegeu apenas cinco prefeitos no Brasil,
entre eles Edmilson Rodrigues, em Belém.
“A má avaliação de Edmilson pode ser
explorada na campanha paulistana para descredibilizar a capacidade de
administração do Psol e atingir Boulos, de acordo com integrantes da equipe do
principal rival dele, o atual prefeito Ricardo Nunes, do MDB, que já levantaram
informações sobre a situação de Belém”, dizia um trecho da reportagem.
Reportagem de “O Globo” do dia 15 de
fevereiro de 2024 seguia a mesma linha, com o “Em meio à crise do lixo e
rejeição ao prefeito, gestão do Psol em Belém vira artilharia contra Boulos”. E
o texto: “As críticas à gestão de Edmilson Rodrigues estão sendo usadas contra
a pré-candidatura de Guilherme Boulos em São Paulo, que é a prioridade do
partido (Psol) e do PT nas eleições municipais deste ano. O principal desgaste
na capital paraense é uma crise na coleta de lixo que se arrasta desde junho do
ano passado”.
Mais: “A rejeição a Edmilson, que
pretende disputar a reeleição, também preocupa o governo federal. O temor é que
Belém seja comandada por um bolsonarista, no caso Éder Mauro, do PL, durante a
realização da COP30 - Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas - no ano que
vem”.
Nas redes sociais
A mesma reportagem mostra que “A
correlação também foi feita pelo deputado estadual do Pará, Rogério Barra, do
PL. ‘Advinha qual o partido do pior prefeito do Brasil? O Psol do companheiro
Boulos. Vigia, São Paulo’”, escreveu Barra.
“Edmilson acumulou uma dívida
superior a R$ 15 milhões com as concessionárias responsáveis pela coleta de
lixo, o que gerou irregularidade no atendimento. Em alguns pontos da cidade, o
atraso se tornou tão grande que os detritos começaram a ser empilhados nas
calçadas”, aponta o texto de “O Globo”.
De volta ao tema
Sete meses depois dessas duas
reportagens, nas quais o tema principal era a desregulada administração de
Edmilson Rodrigues em Belém, o portal Uol, que faz parte do Grupo Folha, volta
ao tema, vai mais a fundo e mostra a questão dos vários assessores montados no
gabinete de Edmilson.
A reportagem desta quinta-feira, 19,
coloca lenha na fogueira no título: “Prefeito do Psol mantém 662 assessores em
seu gabinete em Belém”. Segundo uma fonte da Coluna Olavo Dutra,
"São mais de R$ 2 milhões por mês só com assessores do gabinete do
prefeito".
O texto diz que a reportagem teve
acesso a dados "que mostram que foi na gestão de Edmilson que os gastos
com cargos políticos vinculados ao gabinete explodiram. O antecessor dele
(Zenaldo Coutinho, do PSDB) desembolsou R$ 1,8 milhão de janeiro a abril de 2020,
último ano de governo. Com Edmilson, o valor saltou para R$ 8,5 milhões no
mesmo período deste ano, conforme os últimos dados disponíveis”.
A reportagem segue informando que
“Cruzamento feito pelo professor Sérgio Praça, da Fundação Getúlio Vargas, no
Rio de Janeiro, mostra que 163 dos funcionários comissionados são filiados ao
Psol. Do PT, partido do vice-prefeito Edilson Moura, são 24 pessoas”.
“Os números que indicam uso da
máquina para fins eleitorais e partidários são muito significativos. Nunca vi
algo nessa proporção. O fato é que a esquerda é tão clientelista quanto
partidos do Centrão. Erra quem pensa que esse uso extensivo, possivelmente
irregular e ilegal, de cargos de confiança é coisa dos parlamentares de 'baixo
clero’”, aponta Sergio Praça, na reportagem.
A teoria e a prática
“No papel e no discurso da bancada no
Congresso, o Psol é contra a privatização e critica o inchaço da máquina
pública. No entanto, seu único prefeito a governar uma capital adotou práticas
que não diferem da política tradicional. Rodrigues levou para seu governo
representantes de duas correntes do Psol - a Primavera Socialista, a qual
integra, e a Revolução Solidária, de Guilherme Boulos”.
O texto do Uol também aponta que as
secretarias municipais de Edmilson são divididas entre Psol, PT, PSTU, PCdoB,
PV e PDT, todos partidos de esquerda, e enfatiza que a gestão de Edmilson é
marcada pela baixa popularidade, por denúncias de superfaturamento, greves e
pelo inchaço da máquina pública.
Falta de educação
Ainda o Uol: “Em Brasília, o Psol
defende implementar o piso nacional do magistério. Mas, na sua oportunidade de
fazê-lo em uma capital, não o fez. Um professor municipal recebe de salário
inicial em Belém R$ 2.900, enquanto o piso nacional é de R$ 4.580. Edmilson
enfrentou cinco grandes greves na sua gestão que reivindicaram melhoria nos
salários de várias categorias”. “Reagiu a todas elas”, enfatiza a reportagem.
Parceria e violência
O prefeito Edmilson Rodrigues - e,
segundo se comenta constantemente, junto com o chefe de Gabinete dele, Aldenor
Júnior -, “teria montado um grupo que faz sua segurança particular apelidado
pela imprensa de Belém de ‘Milícia cabana’, uma referência à revolta popular,
que viveria de intimidar seus críticos”, diz o Uol.
O Uol também aponta, como foi
noticiado pela Coluna Olavo Dutra, que a vereadora Sílvia Letícia
diz que Edmilson traiu as bandeiras do Psol e que ela foi retaliada por
criticá-lo. A vereadora recebeu oito vezes menos recursos do fundo eleitoral do
que outros colegas para sua campanha à reeleição - até agora, o Psol repassou a
ela R$ 30 mil - e não pode participar do horário eleitoral.
Edmilson também fez uma parceria
público privada, política à qual o Psol se opõe nacionalmente por entender que
é repassar para a iniciativa privada recursos públicos. O prefeito firmou um
contrato de R$ 20 bilhões com uma empresa de lixo. O acordo não prevê a
construção de um aterro sanitário. Na cidade que irá receber a COP30, o lixo é
descartado sem qualquer cuidado.
Reação do partido
À reportagem do UOL, a presidente do
Psol, Paula Coradi, respondeu que o governador do Pará, Helder Barbalho, do
MDB, “prejudica a gestão de Edmilson, que o governo Bolsonaro "não mandou
R$ 1 para Belém" e que o prefeito "enfrentou a máfia do lixo".