Belém se consolida como "espelho" de interesses contra candidatura Boulos, em São Paulo

Na reta final da disputa pelo controle da capital da COP30, gestão de Edmilson Rodrigues volta a ganhar destaque negativo para fustigar o Psol na maior cidade do País.

20/09/2024 08:00

Direção do Psol reage ao Grupo Folha, que retoma a gestão de Belém para desacreditar a candidatura do partido em São Paulo/Fotos: Divulgação-Redes Sociais.


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m fevereiro deste ano, quando começaram as especulações sobre as candidaturas às prefeituras, Belém, única cidade do País administrada pelo Psol, passou a ser “vidraça” para uma parte da imprensa nacional, supostamente para atingir Guilherme Boulos, do mesmo partido, candidato à Prefeitura de São Paulo, maior e mais rica do Brasil.

 

As informações sugeriam que ‘um presidente da República de esquerda’ - Lula - ‘ainda é suportável’, mas ‘entregar’ a cidade que movimenta a economia do Brasil - São Paulo - ‘a um partido da esquerda é demais’.

 

Não à toa, o maior jornal de São Paulo - a “Folha” - e o maior do Rio de Janeiro - “O Globo” - publicaram reportagens denunciando a crise do lixo. “Vejam como fica uma capital brasileira importante sob a administração do Psol”, lia-se. Título da reportagem da “Folha” publicada em 4 de fevereiro de 2024 apontava: "Greves, lixo e investigações da prefeitura do Psol em Belém fustigam Boulos em São Paulo”. Em 2020, o Psol elegeu apenas cinco prefeitos no Brasil, entre eles Edmilson Rodrigues, em Belém.

 

“A má avaliação de Edmilson pode ser explorada na campanha paulistana para descredibilizar a capacidade de administração do Psol e atingir Boulos, de acordo com integrantes da equipe do principal rival dele, o atual prefeito Ricardo Nunes, do MDB, que já levantaram informações sobre a situação de Belém”, dizia um trecho da reportagem.

 

Reportagem de “O Globo” do dia 15 de fevereiro de 2024 seguia a mesma linha, com o “Em meio à crise do lixo e rejeição ao prefeito, gestão do Psol em Belém vira artilharia contra Boulos”. E o texto: “As críticas à gestão de Edmilson Rodrigues estão sendo usadas contra a pré-candidatura de Guilherme Boulos em São Paulo, que é a prioridade do partido (Psol) e do PT nas eleições municipais deste ano. O principal desgaste na capital paraense é uma crise na coleta de lixo que se arrasta desde junho do ano passado”.

 

Mais: “A rejeição a Edmilson, que pretende disputar a reeleição, também preocupa o governo federal. O temor é que Belém seja comandada por um bolsonarista, no caso Éder Mauro, do PL, durante a realização da COP30 - Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas - no ano que vem”.

 

Nas redes sociais

 

A mesma reportagem mostra que “A correlação também foi feita pelo deputado estadual do Pará, Rogério Barra, do PL. ‘Advinha qual o partido do pior prefeito do Brasil? O Psol do companheiro Boulos. Vigia, São Paulo’”, escreveu Barra.

 

“Edmilson acumulou uma dívida superior a R$ 15 milhões com as concessionárias responsáveis pela coleta de lixo, o que gerou irregularidade no atendimento. Em alguns pontos da cidade, o atraso se tornou tão grande que os detritos começaram a ser empilhados nas calçadas”, aponta o texto de “O Globo”.

 

De volta ao tema 

 

Sete meses depois dessas duas reportagens, nas quais o tema principal era a desregulada administração de Edmilson Rodrigues em Belém, o portal Uol, que faz parte do Grupo Folha, volta ao tema, vai mais a fundo e mostra a questão dos vários assessores montados no gabinete de Edmilson.

 

A reportagem desta quinta-feira, 19, coloca lenha na fogueira no título: “Prefeito do Psol mantém 662 assessores em seu gabinete em Belém”. Segundo uma fonte da Coluna Olavo Dutra, "São mais de R$ 2 milhões por mês só com assessores do gabinete do prefeito". 

 

O texto diz que a reportagem teve acesso a dados "que mostram que foi na gestão de Edmilson que os gastos com cargos políticos vinculados ao gabinete explodiram. O antecessor dele (Zenaldo Coutinho, do PSDB) desembolsou R$ 1,8 milhão de janeiro a abril de 2020, último ano de governo. Com Edmilson, o valor saltou para R$ 8,5 milhões no mesmo período deste ano, conforme os últimos dados disponíveis”.

 

A reportagem segue informando que “Cruzamento feito pelo professor Sérgio Praça, da Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro, mostra que 163 dos funcionários comissionados são filiados ao Psol. Do PT, partido do vice-prefeito Edilson Moura, são 24 pessoas”.

 

“Os números que indicam uso da máquina para fins eleitorais e partidários são muito significativos. Nunca vi algo nessa proporção. O fato é que a esquerda é tão clientelista quanto partidos do Centrão. Erra quem pensa que esse uso extensivo, possivelmente irregular e ilegal, de cargos de confiança é coisa dos parlamentares de 'baixo clero’”, aponta Sergio Praça, na reportagem.

 

A teoria e a prática

 

“No papel e no discurso da bancada no Congresso, o Psol é contra a privatização e critica o inchaço da máquina pública. No entanto, seu único prefeito a governar uma capital adotou práticas que não diferem da política tradicional. Rodrigues levou para seu governo representantes de duas correntes do Psol - a Primavera Socialista, a qual integra, e a Revolução Solidária, de Guilherme Boulos”.

 

O texto do Uol também aponta que as secretarias municipais de Edmilson são divididas entre Psol, PT, PSTU, PCdoB, PV e PDT, todos partidos de esquerda, e enfatiza que a gestão de Edmilson é marcada pela baixa popularidade, por denúncias de superfaturamento, greves e pelo inchaço da máquina pública.

 

Falta de educação

 

Ainda o Uol: “Em Brasília, o Psol defende implementar o piso nacional do magistério. Mas, na sua oportunidade de fazê-lo em uma capital, não o fez. Um professor municipal recebe de salário inicial em Belém R$ 2.900, enquanto o piso nacional é de R$ 4.580. Edmilson enfrentou cinco grandes greves na sua gestão que reivindicaram melhoria nos salários de várias categorias”. “Reagiu a todas elas”, enfatiza a reportagem.

 

Parceria e violência 

 

O prefeito Edmilson Rodrigues - e, segundo se comenta constantemente, junto com o chefe de Gabinete dele, Aldenor Júnior -, “teria montado um grupo que faz sua segurança particular apelidado pela imprensa de Belém de ‘Milícia cabana’, uma referência à revolta popular, que viveria de intimidar seus críticos”, diz o Uol.

 

O Uol também aponta, como foi noticiado pela Coluna Olavo Dutra, que a vereadora Sílvia Letícia diz que Edmilson traiu as bandeiras do Psol e que ela foi retaliada por criticá-lo. A vereadora recebeu oito vezes menos recursos do fundo eleitoral do que outros colegas para sua campanha à reeleição - até agora, o Psol repassou a ela R$ 30 mil - e não pode participar do horário eleitoral.

 

Edmilson também fez uma parceria público privada, política à qual o Psol se opõe nacionalmente por entender que é repassar para a iniciativa privada recursos públicos. O prefeito firmou um contrato de R$ 20 bilhões com uma empresa de lixo. O acordo não prevê a construção de um aterro sanitário. Na cidade que irá receber a COP30, o lixo é descartado sem qualquer cuidado.

 

Reação do partido


À reportagem do UOL, a presidente do Psol, Paula Coradi, respondeu que o governador do Pará, Helder Barbalho, do MDB, “prejudica a gestão de Edmilson, que o governo Bolsonaro "não mandou R$ 1 para Belém" e que o prefeito "enfrentou a máfia do lixo".

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