Áudios atribuídos a assessor político de igrejas evangélicas vazam e expõem os bastidores da ‘fé’

Sobre pastores, ovelhas, política e religião. A dominação. O achincalhe e a linguagem chula e preconceituosa de um dublê de pastor que parece servir a Deus e ao diabo.

Por Olavo Dutra | Colaboradores

20/08/2023, 09:30
Áudios atribuídos a assessor político de igrejas evangélicas vazam e expõem os bastidores da ‘fé’
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az tempo que a presença cada vez maior dos evangélicos nas cidades e no campo do Pará e sua crescente influência eleitoral e na política vêm ganhando destaque no debate público - no restante do País, especialmente a partir das eleições presidenciais de 2018, quando esse segmento foi decisivo para a eleição de Jair Bolsonaro e influenciou a criação de uma forte representação do setor nas casas legislativas.


O deputado federal Olival Marques e o pastor Gilberto Marques com o ministro Jader Filho. Abaixo, o assessor político, pastor Raul Sampaio, a quem se atribuem os áudios/Fotos: Divulgação.

 O “Estadão”, um dos mais fortes diários do País mostrou, em matéria de capa da última quinta-feira, pesquisa que comprova que o Brasil assiste a um avanço acelerado no número de templos evangélicos. Somente em 2019 foram abertos 6.356 templos no Brasil, média de 17 por dia, de acordo com estudo do cientista político Victor Araújo, pesquisador associado ao Centro de Estudos da Metrópole, ligado à Fapesp. O Espírito Santo é o Estado mais evangélico, com 93 templos por 100 mil habitantes. O Nordeste tem a menor adesão. O estudo registrou 109,5 mil templos de diversas denominações.

 

Esse vertiginoso crescimento numérico, combinado com a partidarização das igrejas evangélicas e sua inserção na política, com a concomitante ocupação de cargos por membros destacados, o que inclui as casas legislativas, levanta, especialmente entre intelectuais progressistas, preocupações sobre os rumos da democracia, que pode ser solapada pelo monoteísmo doutrinário de variadas formas. Com a tendência à adoção de pautas de direita, conservadoras, antiecumênicas e antidemocráticas o debate público tem tematizado sobre os perigos desse avanço para a democracia.

 

Laicidade comprometida

 

A mistura entre religião e política, onde acontece, em geral compromete a laicidade do Estado, limita a diversidade de ideias e ameaça os princípios democráticos de igualdade, liberdade e respeito aos direitos humanos e a diferentes manifestações religiosas, sobretudo as de matrizes afro, demonizadas por essas congregações. A sociedade perdeu a oportunidade, sobretudo nos anos de governos progressistas, de Lula a FHC, de promover o diálogo e a conscientização sobre a importância da separação entre religião e Estado para preservar a democracia e garantir a pluralidade de vozes e perspectivas na esfera política.

 

Alianças indecorosas

 

Os conglomerados evangélicos têm se aproveitado de uma retórica simplista e de sua presença física nas áreas periféricas, onde o Estado muitas vezes é ausente, para expandir sua influência e promover suas agendas conservadoras. Além disso, seu poder econômico tem se fortalecido através de alianças com governos e líderes políticos não evangélicos, resultando em vantagens crescentes, como a indecente isenção fiscal para igrejas e pastores, bem como a não menos inescrupulosa via das contratações do poder público com Ongs ligadas a elas. Com uma base eleitoral sólida e calculada, essas igrejas tendem a priorizar a candidatura de pastores e seus aliados, perpetuando assim uma linhagem de poder.

 

Linguagem indecorosa

 

O poder quase absoluto que essas igrejas têm exercido sobre o Estado por vezes nos leva a acreditar que existe uma unidade entre diferentes facções e denominações, mas essa unidade não existe. Ao contrário - como não existe moderação na linguagem ou na postura quando o assunto é a reserva de mercado de fiéis, a rapinagem sobre a coisa pública e a ampliação dos espaços de poder (Na sequência de áudios, o leitor poderá ‘conhecer as entranhas’ de jogo político. O autor da fala não foi localizado para se manifestar).

 

 

É isso que salta aos sentidos da audição das falas atribuídas ao assessor político da Convenção de Ministros da Assembleia de Deus no Estado do Pará, a Comieadepa, o dublê de pastor Raul Sampaio, homem de extrema confiança do pastor presidente da Convenção das Assembleia de Deus no Pará, Gilberto Marques, e do filho dele, o deputado federal Olival Marques.

 

 

A insatisfação entre os pastores membros da chamada Convenção de Ministros é enorme por conta da postura de Raul Sampaio, mas são obrigados a silenciar suas posições devido ao respaldo total que a família Marques dá à desenvoltura do falastrão truculento e aliado.

 

 

O que se diz é que o brilhante assessor político Raul Sampaio trabalha o nome de Pedro Marques para disputar uma vaga na Câmara dos Vereadores de Belém. Pedro Marques é o primogênito do deputado federal Olival Marques. Raul Sampaio é bragantino e considerado figura folclórica na igreja evangélica e na política na cidade.

 

 

Em nome de Deus...

 

Os áudios atribuídos a Sampaio são nitroglicerina pura, misturando escatologia, preconceito, arrogância, truculência e abuso de poder de quem manda, prende, excomunga e arrebenta, tudo em nome de Deus.

 

 

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