A Articulação dos Povos Indígenas (Apib) avalia sair da
comissão de conciliação do Supremo Tribunal Federal (STF) que discute as ações
que envolvem o marco temporal para demarcação de terras indígenas.
A posição da entidade foi manifestada nesta segunda-feira
(5) durante a primeira audiência convocada pelo ministro Gilmar Mendes para
discutir a questão.
No entendimento da Apib, uma das maiores entidades que
representam os povos indígenas no Brasil, seus direitos são inegociáveis e não
há paridade no debate.
Durante os trabalhos, a entidade pediu prazo de 48 horas
para decidir se vai participar da próxima reunião, que foi marcada para 28 de
agosto.
Após ouvir os questionamentos da entidade sobre a falta de
paridade no debate, o juiz Diego Viegas Veras, magistrado que presidiu a
audiência, disse que os trabalhos da comissão serão mantidos mesmo se a Apib
deixar as reuniões.
Segundo o coordenador da Apib, Kleber Karipuna, a participação da entidade na
conciliação depende da suspensão da lei do marco temporal pelo Supremo.
"A lei precisa ser suspensa para, em pé de igualdade,
em condições de debate, a gente seguir minimamente nesse processo. Não havendo
a suspensão da lei, a gente continua com a insegurança jurídica sobre os
territórios, os povos indígenas sendo atacados", afirmou.
Karipuna também disse que os indígenas não aceitam uma
eventual flexibilização favorável ao marco temporal.
"É inegociável. Para a gente, a posição do Supremo no
ano passado é clara, que, por 9 a 2, decidiu pela inconstitucionalidade da tese
do marco temporal", completou.
A audiência foi convocada pelo ministro Gilmar Mendes,
relator das ações protocoladas pelo PL, o PP e o Republicanos para manter a
validade do projeto de lei que reconheceu o marco e de processos nos quais
entidades que representam os indígenas e partidos governistas contestam a
constitucionalidade da tese.
Além de levar o caso para conciliação, Mendes negou pedido
de entidades para suspender a deliberação do Congresso que validou o marco,
decisão que desagradou os indígenas.
As reuniões estão previstas para seguir até 18 de dezembro
deste ano.
Tese
Pela tese do marco temporal, os indígenas somente têm
direito às terras que estavam em sua posse no dia 5 de outubro de 1988, data da
promulgação da Constituição Federal, ou que estavam em disputa judicial na
época.
Em dezembro do ano passado, o Congresso Nacional derrubou o
veto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao projeto de lei que validou o
marco. Em setembro, antes da decisão dos parlamentares, o Supremo decidiu
contra o marco. A decisão da Corte foi levada em conta pela equipe jurídica do
Palácio do Planalto para justificar o veto presidencial.
Na abertura da audiência, os ministros Gilmar Mendes e Luís
Roberto Barroso defenderam a conciliação.