A escolha de Belém como sede da COP
30 ainda deve dar muito pano para as mangas. Nesta semana,
precisamente, na quinta-feira, 16, haveria uma reunião em Brasília
para decidir o nome do presidente da Conferência em Belém. Esse nome
precisa ser de comum acordo entre o País que sedia a COP, o Brasil, e a ONU,
que promove o evento. O problema é que tinha a revogação da
taxação do PIX, na quarta-feira, e uma grande crise no meio do caminho e até o
momento, não se sabe quem será o ‘todo poderoso’.
De acordo com estimativas da Fundação
Getúlio Vargas (FGV), é esperado um fluxo de mais de 40 mil visitantes durante
os principais dias da Conferência, que são dos dias em que há a presença dos
chefes de Estado, que é sempre na primeira semana, de um total de duas, que é a
duração do evento. Deste total, aproximadamente 7 mil compõem a chamada "família
COP", formada pelas equipes da ONU e delegações de países membros.
Muitos entraves
Outro problema - que já era previsto,
aliás, mas nenhuma instituição tomou à frente, antes -
é a ausência de entidades da Amazônia em grupos de trabalho que irão
discutir preliminarmente a pauta na COP30. A escolha da Fundação
Getúlio Vargas e da Universidade de São Paulo para planejar e organizar a
Conferência está sendo contestada por pesquisadores da
região.
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“Esse é mais um caso de colonialismo
interno”, reagiu a pesquisadora da Universidade Federal do Pará (UFPA), Violeta
Loureiro, em recente rodada de conversas sobre mudanças climáticas em
Manaus. O marido de Violeta, poeta e escritor João de
Jesus Paes Loureiro, também da UFPA, expressou, no mesmo evento,
preocupação com essa escolha, que passou pelo crivo
do governo federal, por meio do Ministério das Relações
Exteriores, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Renováveis e da
Casa Civil da Presidência da República.
Para a socióloga Marilene Corrêa, a
reputação e a competência das duas instituições - FGV e USP - não
estão em questão, mas adverte que é preciso vigilância sobre a metodologia
a ser aplicada na formulação do documento final do encontro. Isso para que as
demandas das populações amazônicas não sejam deixadas de lado.
O fio da polêmica
Violeta Loureiro disse que apesar da
boa intenção da presidência da República de colocar R$ 4 bilhões em Belém
para preparar a COP30, a entrega da organização do evento à USP e à Fundação
Getúlio Vargas só reforça a tese de que a Amazônia sempre foi e ainda
é colônia do Brasil.
Ela justifica que a sua inquietação
se refere à escolha de duas instituições de impacto nacional para montar um
evento da dimensão da COP30, porque esse comportamento ignora os saberes e
conhecimentos que existem na Amazônia.
“A escolha da FGV e USP,
instituições de alta competência, é, de certa forma, a
reprodução de uma mentalidade colonialista que se reproduz internamente. É mais
um exemplo desse comportamento de como o governo central brasileiro,
historicamente, sempre, e até hoje, imagina a Amazônia como uma colônia do
resto do Brasil”, reafirma Violeta.
Fora da região
“A COP30 está sendo organizada fora
da região. Já vi, por exemplo, investimentos fantásticos em atividades
artísticas e culturais em grandes grupos de fora daqui da região”,
advertiu Paes Loureiro.
Há, segundo o poeta, uma
sensação muito grande de que a COP30 deixe apenas benefícios materiais para
Belém, em razão do dinheiro destinado à preparação da cidade para receber o
evento. “A COP30 pode vir a ser, também, o exemplo melancólico do que
o conhecimento produzido na Amazônia seja deixado de lado, e do
conhecimento das pessoas, lá de fora, que acham ter sobre a região”,
afirmou.
Efeitos históricos
Na avaliação de Loureiro, a Amazônia
sofre hoje os efeitos da história de silenciamento da sua própria história, da
sua própria cultura. No entanto, mostra que “a força da
função que o imaginário possui é absolutamente original e
diversa”.
“A Amazônia é uma diversidade
diversa. Não é uma diversidade comum. Ela tem muitos mais sentidos e diferenças
que outras regiões”, sustentou Paes Loureiro.
Sintetizando o caso
No entendimento de Marilene Corrêa,
as populações da Amazônia estão contempladas na COP30. No caso, por meio dos
debates que antecedem ao evento. Mas ela reconhece que a metodologia
de sintetização dos interesses dos segmentos sociais deveria ser elaborada por
instituições mais próximas desses diálogos, ou seja, com as pessoas que
moram na região e produzem conhecimento nela.
“Por que a FGV? Por que a USP”,
questiona a pesquisadora, que explica que essa observação é
importante porque somente os chefes de Estados, diplomatas e assessores
parlamentares terão acesso às sínteses produzidas pelos grupos sociais.
“O mais providencial seria uma
metodologia elaborada e realizada por instituições que vivenciam a realidade
Amazônica”, disse.
Marilene demarcou três grupos,
ministérios, com interesses que podem se chocar: o Ministério do Meio
Ambiente dialogou com a Academia e, sobretudo, com Ongs; o
de Relações Exteriores acolheu lideranças quilombolas, indígenas,
trabalhadoras e políticos da região amazônica; e o de Ciência e
Tecnologia que dialogou, em parte, com comunidade acadêmica, em
parte, com instituições diplomáticas e, em parte com Ongs.
“Não posso dizer que os grupos
sociais, especialmente os do interior da Amazônia, não estivessem mobilizados
para os debates da pré-COP”, argumenta. O que deve ser evidenciado é
que os interlocutores do evento mudaram nessa COP. “Não são mais só os
acadêmicos, as instituições acadêmicas, os campos disciplinares e os ditos
intelectuais. Agora participam todos os movimentos sociais”, acentuou
Marilene.
Ela sugere, então, que as
instituições próximas aos debates preparatórios também coordenem a elaboração
do documento final, ao invés da FGV e da USP, que são instituições distantes da
vivência amazônica.
Papo Reto
· O
governador Helder Barbalho (foto) está na Suíça, desde ontem,
para participar do Fórum Econômico Mundial, em Davos, a partir de hoje, com
líderes de 130 países, entre eles cerca de 60 chefes de Estado.
· Mais um
capítulo da infame série "prepare o seu bolso": a alíquota do Imposto
sobre Valor Agregado vai girar em torno de 28%, diz Bernard Appy, secretário da
Reforma Tributária.
· No
frigir dos ovos, o Brasil caminha para consolidar a maior alíquota do imposto
do planeta, mas, calma... Já, já o governo diz que tudo não passa de fake
news.
· O
aumento das licenças maternidade e paternidade que o Senado deve discutir neste
semestre inclui a ampliação de 120 para 180 dias, período maior em caso de gêmeos
e o "salário-parentalidade".
· O Rio de
Janeiro continua lindo, mas aumentou 36% o número de tiroteios só nos primeiros
15 dias do ano, com o número de mortos e feridos disparando 36% e 106%,
respectivamente.
· Dizem,
aliás, que esses são os números oficiais, ou seja, referem-se apenas às
ocorrências que chegaram aos registros da Polícia, já que a onda de violência
entre facções criminosas "dá sumiço", diariamente, a dezenas de
corpos.
· A
Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo foi
taxativa: bets causaram perdas de R$ 103 bilhões ao varejo em
2024.
· Não é
nada, quase dois milhões de brasileiros passaram a dever por causa das
jogatinas eletrônicas.
· Acredite,
alimentos e bebidas foram os grandes vilões da inflação em dezembro, diz o
Indicador Ipea de Inflação por Faixa de Renda.
· O Brasil
já figura praticamente no topo do ranking de países que mais
utilizam Inteligência Artificial.