O anúncio feito pela Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), que aponta para uma quebra da safra de soja, produto mais exportado pelo Brasil, superior a 20% causará uma enorme crise no setor. As dificuldades enfrentadas pelos produtores, sobretudo os pequenos e médios, gerará neste ano um número recorde de pedidos de recuperação judicial, como forma de renegociar as dívidas com bancos, colaboradores e fornecedores.
Assim como Mato Grosso, estado que lidera o ranking de produção de soja, as regiões Centro-Oeste, Sul e o Matopiba, região formada pelos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, apresentam números inferiores na produção em relação ao ano passado. A Aprosoja Brasil estima que a safra chegará, no máximo, a 135 milhões de toneladas produzidas, ante 154,6 milhões verificados na safra 2022/23.
A tendência de alta nos pedidos de recuperação judicial foi verificada no fim
do ano passado. Em novembro, a Serasa Experian anunciou que o número de pedidos de
recuperação judicial registrou um aumento de quase 200% em relação
ao mesmo mês do ano passado. Levando em consideração apenas os produtores
rurais, foram 80 pedidos feitos à Justiça até setembro de 2023, quatro vezes
mais do que o registrado durante todo o ano de 2022.
“Essa alta verificada pela Serasa, que deverá se manter ao longo de 2024, nos
pedidos de recuperação judicial, ocorre porque muitos produtores já estavam em
uma situação delicada, por problemas verificados ao longo dos últimos anos.
Esta quebra da safra vem para agravar ainda mais a situação deles, que não
conseguirão fechar as contas e pagar as dívidas na hora da colheita”, explica o
advogado Marco Aurélio Mestre Medeiros, sócio da Mestre Medeiros Advogados
Associados, especializado em recuperações judiciais ligadas ao agro.
Mestre Medeiros pontua que, se antes a primeira ação dos produtores endividados
era a perda do patrimônio, com a venda ou o arrendamento de propriedades, hoje
a recuperação judicial se mostra uma ferramenta eficaz para a equalização das
dívidas. “Ela abrange hoje, por lei, inclusive produtores rurais que atuam como
pessoas físicas. É, sem dúvida, uma ferramenta judicial muito importante para
todo o setor”.
Em um curto prazo, a recuperação judicial tem a função de estancar os
pagamentos aos credores e impedir medidas consideradas como expropriatórias,
que geram a perda do patrimônio construído, ressalta Marco Aurélio. “A partir
daí, começa uma negociação coletiva com todos os fornecedores para que haja
justamente esta equalização do passivo existente, com mais conforto para os
produtores”
Para o advogado, os problemas decorrentes da quebra de safra atingirão
sobretudo pequenos e médios produtores, com menor acesso a crédito e menor
poder de renegociação das dívidas sem a recuperação judicial. “E, para estes
produtores, é importante estar protegido pela recuperação para conseguir
renegociar os débitos”.
Clima
A redução na produção de soja no Brasil tem grande relação com aspectos climáticos verificados no Brasil. Houve um estresse hídrico nos estados do Centro-Oeste, como Mato Grosso, Goiás e Mato Grosso do Sul, e o excesso de chuvas em áreas desses mesmos estados, dificultando o trabalho de colheita dos grãos e levando prejuízos ainda maiores aos produtores.
Também há relatos contundentes de produtores do sul do país, principalmente no
estado do Paraná, que sofreram com o excesso de chuvas no início do plantio e
agora enfrentam a falta da chuva nas áreas em que a soja está na fase
reprodutiva, o que compromete a produtividade das lavouras.
Para tentar estancar o problema, o Poder Público lançou mão de diversas
iniciativas. Sorriso (MT), município que lidera o ranking entre os produtores de soja,
decretou situação de emergência por conta das chuvas, que foi
seguido em nível estadual pelo governo de Mato Grosso. No início de janeiro, o Governo do Tocantins adotou iniciativa semelhante
Fonte: Estadão conteúdo
Foto: Marco Santos / Ag. Pará