Um protesto de alunos da
Universidade Federal do Amazonas (UFAM) contra a realização de palestra de um
cientista político judeu terminou com um aluno detido por desacato e uma
servidora agredida. O palestrante é André Lajst, presidente-executivo da
StandWithUs Brasil, braço brasileiro de uma organização israelense voltada para
a educação.
Lajst participou de painel durante o 1.º Simpósio Ajuricaba de Liberdade na
Amazônia, realizado nas dependências da Ufam. Sua palestra tratava de
empreendedorismo, desenvolvimento e sustentabilidade na Amazônia. Estudantes da
UFAM que consideram que Lajst defende ideias contra o povo palestino
organizaram um protesto.
A manifestação foi divulgada com antecedência, o que levou o reitor da UFAM,
Sylvio Puga, a solicitar à Polícia Federal a presença de agentes no campus,
para garantir o evento e proteger o palestrante. Lajst chegou à universidade
escoltado pelos policiais e foi conduzido ao auditório onde daria a palestra,
no Instituto de Ciências Humanas e Letras.
A manifestação realizada do lado de fora se transformou em tumulto. O estudante
de pós-graduação Christopher Souza da Rocha foi detido, acusado de desacato à
autoridade. Levado à sede da Superintendência da Polícia Federal em Manaus, ele
foi liberado após o registro do caso.
Uma servidora da universidade interveio, pedindo calma aos estudantes, e
primeiro foi alvo de xingamentos. Durante o tumulto, manifestantes tentaram
agredir a filha dela. A servidora interveio, foi agredida e teve o nariz
quebrado, segundo relatou ao 11.º Distrito Policial de Manaus. A confusão só
terminou depois que o palestrante foi embora.
A StandWithUs Brasil divulgou nota e vídeo em que condena a conduta dos
estudantes. "Antes do evento, o Diretório Central dos Estudantes da UFAM
promoveu um manifesto nas redes sociais repudiando ‘a presença do sionista
André Lajst nas dependências da UFAM’, argumentando com uma série de clichês e
mentiras sobre o conflito israelense-palestino", afirma a nota.
"A StandWithUs Brasil repudia as ações antissemitas e violentas promovidas
por manifestantes de grupos de ódio - apoiados e instigados pelo DCE - contra
(...) Lajst e alunos e funcionários da Universidade Federal do Amazonas. André
foi ao campus após ser convidado para palestrar num evento acadêmico, sobre
desenvolvimento tecnológico em Israel e cooperação com a Amazônia, e precisou
ser protegido pela Polícia Federal da ação violenta destes grupos, que
rejeitavam sua ‘presença’ por ser judeu e cidadão israelense", segue a
nota.
Ainda de acordo com a StandWithUs Brasil, alguns manifestantes chamaram de
"nazista" Lajst, que é judeu e neto de um sobrevivente do campo de
extermínio de Sobibor.
Devido aos tumultos do dia 10, a programação do evento na sexta-feira, 11, foi
suspensa.
Em nota oficial, a Federação Israelita do Estado de São Paulo condenou "as
manifestações agressivas" contra Lajst. A Confederação Israelita Brasil,
também em nota, lamentou "a falta de espírito democrático e civilidade por
parte dos manifestantes". "A universidade deve ser um local de
liberdade de expressão e pluralismo de ideias, não de violência e
intolerância."
Nas redes sociais, o Diretório Central dos Estudantes publicou texto no qual se
queixa da ação da polícia no campus da universidade. "O crime? Escutarem
música e carregarem a bandeira da Palestina dentro de um espaço que defende a
pluralidade e democracia. Não aceitaremos que nossos corpos sejam violados, não
aceitaremos fuzis ameaçando nossos corpos. Não aceitaremos a violência cometida
por uma servidora da UFAM contra estudantes que estavam presentes no ato."
A reportagem tenta contato com a Universidade Federal do Amazonas.
Fonte: Estadão conteúdo
Foto: Redes sociais